
A cidade costumava ter um clima ameno e fresco, com garoas constantes. Agora, enfrenta um calor insuportável e chuvas torrenciais. CRÉDITOS: Divulgação
BH, outrora cidade arborizada, agora é prédio e asfalto. Antes eram ruas com paralelepípedos, que permitiam a absorção da água. Hoje essa mesma água corre rapidamente para antigos leitos de rios
25-01-2025 às 09h24
Brunello Stancioli*
Enquanto a posse de Trump monopolizava a mídia, um problema crônico e negligenciado em Belo Horizonte mais uma vez se revelava: inundações de água imunda.
A capital mineira abriga cerca de 30 cursos d’água – só no Parque Municipal afloram pelo menos cinco. Paradoxalmente, o meio ambiente outrora privilegiado enfrenta desafios: o aumento das chuvas torrenciais, que antes eram atípicas, tornou-se regra.
Em contraste, cidades europeias como Annecy, na França, e Lucca, na Itália, mostram como pequenos rios podem ser mantidos limpos e acessíveis. Em muitas dessas cidades, os leitos dos rios são profundos, as margens são cobertas de grama e há bancos, proporcionando descanso e contemplação para todos. Em Copenhague, na Dinamarca, a água é tão limpa que é possível nadar nos canais. Essas cidades demonstram que é possível integrar a natureza ao ambiente urbano.
No Brasil, a realidade é bem diferente.
Por aqui, os cursos d’água são reduzidos a esgotos, encanados e soterrados.
Belo Horizonte, outrora cidade arborizada, agora é prédio e asfalto. Antes eram ruas com paralelepípedos, que permitiam a absorção da água. Hoje essa mesma água corre rapidamente para antigos leitos de rios, como as avenidas Francisco Sá, Prudente de Morais e Tereza Cristina. O rio Arrudas, por sua vez, já dá sinais de transbordamento, com uma força que assusta.
A cidade costumava ter um clima ameno e fresco, com garoas constantes. Agora, enfrenta um calor insuportável e chuvas torrenciais. O projeto dos edifícios no Belvedere, que visava o desenvolvimento urbano (ganancioso, criminoso), acabou por sufocar a circulação de ar e agravar a situação climática.
A prioridade é o tráfego de veículos em detrimento da preservação ambiental (onde está o metrô que deveria ir do Centro da cidade até o aeroporto de Confins?).
A cidade do clima satisfatíssimo, agora enfrenta um calor insuportável. O excesso de concreto por todos os lados (já notaram a Esplanada do Mineirão?) agrava a conjuntura.
As mudanças climáticas são um fenômeno global que envolve todos nós, habitantes deste planeta chamado Terra. A realidade é que, a menos que você tenha uma casa de campo na Lua ou em Marte, você é parte do problema ou da solução. É hora de repensar nossas escolhas e buscar um futuro mais sustentável, antes que as inundações e a ganância nos afoguem.
*Brunelo é Professor na Faculdade de Direito da UFMG