Pelo que se depreende da literatura de Henrique German, ele nasceu com a capacidade literária potencialmente escondida. Por uma questão de destino, ele destampou o caudal literário
16-01-2025 às 07h48
Alberto Sena*
O escritor belo-horizontino, Henrique German, ex-promotor de Justiça, como mais de 20 livros publicados em todos os segmentos da literatura, marcou um tento novo com a publicação mais recente intitulada “A Cidade e a Vida”, no qual o cenário é a capital mineira especialmente a área do Cafezal.
O que ele perdeu em visão ocular, que lhe valeu uma aposentadoria por invalidez, da função de promotor de justiça, ele ganhou na arte de escrever e um livro se foi brotando atrás do outro, “sem prisão de ventre”, como diria o amigo escritor já falecido, Wander Piroli.
Só para lembrar um pouco de Piroli, ele era especialista em Lagoinha, onde nasceu, e gostava da cachaça. Dizia, quanto mais bebo mais fico legal!
Com Henrique German, que eu saiba, ele gosta de, eventualmente, beber vinho, mas a impressão que tenho dele é a de que quanto mais ele escreve e publica os seus livros, “mais legal” fica e dá a impressão, pelo sorriso branco e franco, que está em estado de graça.
German escreve com simplicidade e clareza, com a capacidade de ir fundo na alma do personagem, de modo a mostrar os comportamentos mais singelos. O sublime nele é a capacidade de ir e voltar no que tange às emoções primárias. Ele manipula esses sentimentos como as mulheres dos tempos idos teciam fileiras de rendas com a magia dos seus bilros e encantavam com os tecidos mais lindos para enfeitar as peças íntimas das deusas mitológicas.
German vai do mais violento ao mais leve e frágil como uma pluma que navega o ar. Ele consegue com o seu refinamento transpor portais com a maior facilidade e isso fica claro quando se trata de mostrar feridas da sociedade e também as delicadezas e a superficialidade das pessoas.
Pelo que se depreende da literatura de Henrique German, ele nasceu com a capacidade literária potencialmente escondida e por uma questão de destino, tinha antes de passar pela promotoria pública e destampar o caudal literário que iluminou o seu interior, enquanto cada dia mais perdia a visão exterior.
A Belo Horizonte desenhada por ele nas quase 300 páginas de um livro bem editado pela Literíssima não é tão diferente de outras capitais, mas as características de Beagá são marcantes e atraentes, e mais ainda ficam na literatura fluída de German. Colorida, e às vezes pesada feito chumbo, quando as emoções primárias pululam no seio dos seus personagens e ele as registra com fidelidade e legitimidade tamanha a força de expressão.