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Ele lutou pelo Estado de Direito

Ele lutou pelo Estado de Direito

Homenagem particular ao grande homem chamado Genival Tourinho, ex-deputado federal, advogado que defendeu presos políticos e gente perseguida na ditadura militar imposta por um golpe de Estado em 1964

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01-10-2024 às 08h:27

Alberto Sena*

Evidentemente, nem todos os cidadãos (ou cidadãs) montes-clarinos entrarão para os livros de política e história nacional adotados nas escolas. Impossível registrar as passagens e os feitos de tanta gente, contar o que cada um fez de bom para o próximo e a população como um todo, de modo que as ações tenham ultrapassado as divisas do Município para alcançar o Estado e o Brasil como um todo. Quiçá alcançar o mundo.

Montes Claros gerou nomes nacionais e até mesmo internacionais em todos os setores humanos e principalmente nos segmentos da Política, Educação e Cultura. e posso citar pelo menos dois deles, o escritor Cyro dos Anjos e o professor Darcy Ribeiro.

Recentemente, outro famoso, que, certamente o seu nome ocupará os livros de história política brasileira, morreu dia 21 de setembro deste 2024, em Belo Horizonte, onde morava, o advogado Genival Tourinho, ex-deputado federal, cassado pelo regime de 1964.

Conhecia-o desde os tempos de juventude, em Montes Claros, e o admirava pela postura política e coragem para falar e agir, justamente em um tempo de ditadura, contra a qual foi uma peça importante ao denunciar a chamada “Operação Cristal”, que lhe valeu um processo dos generais e ele perdeu os direitos políticos, incluído na Lei de Segurança Nacional pelo Supremo Tribunal Federal (STF) da época. Mas não se arrefeceu.

A gente fala “Operação Cristal”, mas é necessário explicar o que é isso para as pessoas que não sabem, talvez porque não viveram a época e as gerações atuais também. Mas a denúncia da tal operação aconteceu em 1980, há 44 anos. Tourinho almoçava com o bravo Leonel Brizola, ex-governador do Rio de Janeiro, em Belo Horizonte, dizendo que a “Operação Cristal” se tratava de atentados terroristas em série para culpar os membros da esquerda. Ele disse que por trás das ações, como o famigerado atentado do Riocentro (RJ), estariam três generais.

Foi a conta, os tais generais processaram Genival Tourinho, que acabou tendo os direitos políticos cassados, no início da década de 1980. Em contrapartida, ele subiu ao máximo no conceito da esquerda, pela coragem que sempre teve e no respeito e admiração dos conterrâneos montes-clarinos, principalmente. Eu, inclusive.

Ele exerceu mandato como deputado estadual (1967 a 1971, assumindo como suplente). Entre 1975 e 1982, exerceu dois mandatos na Câmara Federal.

O jovem que, naquele dia de abril de 1964 via chegar garboso o 10° Batalhão de Infantaria da Polícia Militar à Praça da Matriz, como é chamada a Praça Doutor Chaves, em Montes Claros, no Norte de Minas, vindo de Brasília (DF), como se estivesse acabado de vencer uma guerra (com o disparo apenas de um tiro acidental) tinha só 14 anos de idade e sabia que havia acontecido no País um golpe de Estado que eles chamavam de “revolução”.

Soube de que algumas pessoas da nossa relação haviam sido presas, e duma hora para outra a cidade ganhou uma aura estranha, definida por uma compulsória lei do silêncio. Duma hora para outra, uma simples dupla de policiais no estilo “Cosme e Damião” se arvorara com poder de dar voz de prisão por motivo banal.

Mas, em Montes Claros, muitas vozes não se calaram e de algum modo reagiam, como foi o caso de advogado Genival Tourinho, que sabia se impor com a braveza sertaneja, contra o arbítrio. E foi nessa linha que ele, como suplente, iniciou no Congresso Nacional e foi uma voz em defesa do Estado de Direito.

Genival Tourinho conta pormenores de sua denúncia sobre a “Operação Cristal” e o processo de cassação dos seus direitos políticos no livro autobiográfico “Baioneta calada e baioneta falada”. Na obra dele há fatos importantes do chamado “anos de chumbo” e quanto a atuação como advogado, em defesa de presos e de perseguidos pela ditadura.

Como montes-clarino, conterrâneo desse ilustre personagem da nossa história, amigo da família Sena Batista, eu não podia deixar de prestar essa homenagem a Genival Tourinho, em consideração também à filha dele, Paula Tourinho, amiga e ex-colega na Secretaria de Abastecimento, no governo Hélio Garcia, secretaria entregue ao então deputado Pedro Narciso, de Montes Claros.

*Editor Geral do DM

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