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MST faz o que Vale devia fazer

MST faz o que Vale devia fazer

A ideia do MST é dar vida nova aos assentamentos da reforma agrária impactados, direta e indiretamente pelo desastre causado pelas mineradoras, em 2015. Os integrantes do MST vão executar três projeto

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29-09-2024 às 07h:34

Direto da Redação

Ficaria no mínimo com vergonha, se eu fosse empresário ou funcionário da Vale S.A., Samarco e BH Billton, ao tomar conhecimento da belíssima iniciativa que o Movimento dos Sem Terra (MST) toma, em “resposta ao crime”, ao trabalhar a recuperação das áreas atingidas pelo rompimento da barragem de Mariana (MG).

Além de vergonha, isso doeria em mim porque o que o MST está fazendo tinha de ser feito há bom tempo pelas empresas que cometeram o crime de arrasar com o meio ambiente – e não vou repetir, aqui, a matança de gente e de animais que proporcionaram, infelicitando os que ficaram.

Com isso, o MST ganha pontos porque investe naquilo que é fundamental para todos, até mesmo para os empresários. Eles só pensam nos dólares e não se importam com a vida das pessoas nem com o meio ambiente.

A iniciativa de reflorestar 2 mil hectares na região do Vale do Rio Doce teve início no “Dia da Árvore”, 21. E os membros do MST estão de parabéns e que essa iniciativa sirva de exemplo até para a indiferença dos empresários dirigentes das empresas implicadas.

A ideia do MST é dar vida nova aos assentamentos da reforma agrária impactados, direta e indiretamente, pelo desastre causado pelas mineradoras, em 2015. Os integrantes do MST vão executar três projetos principais: restaurar a floresta, a educação territorial e o fortalecimento da cadeia produtiva da fruticultura. O programa tem em vista conscientizar e empoderar os assentados por meio da transição para práticas agroecológicas.

“O programa é de grande importância, porque ele traz perspectivas concretas de mudança na vida das pessoas, principalmente assentados e acampados que foram atingidos pelo rompimento da barragem de Fundão. O movimento entendeu que era importante pensar ações concretas, que trouxessem perspectivas para as famílias, seja na área da formação, seja na mudança do modelo de produção”, foi o que disse Fátima Vieira, coordenadora.

Foi em áreas de reserva legal e de Preservação Permanente (APP) que no “Dia da Árvore” aconteceu o plantio de dois mil hectares prevendo impacto positivo nos municípios de Periquito, Santa Maria do Suaçuí, Jampruca, Campanário, Resplendor e Governador Valadares.

Eles têm a meta de formar lideranças locais, e para isso 1200 pessoas já foram capacitadas em diversos temas, a começar por sistemas agroflorestais até políticas públicas relacionadas com o campo.

Foram realizadas oficinas, seminários e atividades culturais. São ferramentas para disseminar o conhecimento. Sem falar do curso técnico de agropecuária com ênfase em agroecologia. Já foram formados 39 novos técnicos, prontos para liderar a transição agroecológica.

A fase seguinte das ações do MST é de expansão no sentido da formação continuada, inclusão digital e ampliação da produção agroecológica. Outros mil cursistas serão atendidos, e com isso serão diretamente beneficiadas 428 famílias.

“Não se constrói um programa de agroecologia sem a elevação do nível de consciência e das capacidades técnicas das pessoas. Envolvemos mais de 3 mil pessoas dos assentamentos dos territórios de reforma agrária em torno de uma ação efetiva de educação e também em torno de uma questão que, para nós, é fundamental, a ambiental”, disse o dirigente Silvio Netto.  

Só para o leitor do DM perceber e valorizar as ações do MST, 150 “barraginhas” já foram construídas com tecnologia para captar água da chuva e abastecer o lençol freático. Isso inclui mais 59 biodigestores, equipamento que trata o esgoto nas áreas rurais.

Nacionalmente falando, o MST prevê para até o ano 2030 o plantio de 100 milhões de árvores. Tudo norteado pelos princípios agroecológicos, “no cooperativismo, no não uso de veneno, na construção de novas relações entre os seres e nas práticas de cuidado com os recursos naturais e bens comuns”.

Segundo a dirigente Fátima Vieira, “o cenário na região é impactante, com áreas desmatadas e degradadas e com grandes erosões e sem vida do solo”. Mas, não é só, como disse ela, “há também um governo estadual totalmente inoperante frente às demandas sociais e totalmente comprometido com as grandes empresas. Até o momento, não foram desenvolvidas ações que realmente apontem soluções ou que ao menos amenizem os impactos dos crimes ambientais na vida da população. As empresas responsáveis por esses crimes continuam atuando e obtendo altos lucros”.  

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