“Dias Possíveis” sai do forno
Nesta sexta-feira, 27, às 18h30, o professor e escritor mineiro, Sérgio Soares, lança no "Memorial da República Presidente Itamar Franco", em Juiz de Fora (MG), o livro “Dias Possíveis” editado pela Caravana Grupo Editorial.
27-09-2024 às 08h:21
Sérgio Augusto Vicente*
Sérgio, seja bem-vindo ao “Diário de Minas”! É uma honra enorme entrevistá-lo nesse momento tão especial para a vida de um escritor, que é o lançamento de seu livro. Desde já, gostaria de parabenizá-lo e desejar muito sucesso. Já digo que já degustei um dos contos reunidos na obra e confesso que estou ansioso para "devorar" os demais.
Sérgio Augusto Vicente - Para começarmos, gostaria de que nos contasse um pouco sobre a sua trajetória. Afinal, quem é o Sérgio Soares?
Sérgio Soares - Sérgio Soares é um ser múltiplo - nasceu para ser anjo, adolesceu religioso e amadureceu como um confuso adulto. Dessa confusão, surgiram seus heterônimos - o servidor público, o professor e o escrevinhador. Para cada uma dessas personagens, há muitas histórias a serem contadas. Hoje me defino como um Homem das Letras, um professor - escrevinhador de textículos, que desenha as palavras.
SAV - Desde quando você começou a escrever textos literários? Você se lembra de quando escreveu o primeiro deles?
SS- Meu primeiro escrito aconteceu há mais de 20 anos, tendo por base uma recomendação do meu terapeuta. Dessa prescrição saíram versos, totalmente incipientes, em forma de um arroto azedo, que expulsou do estômago-coração as camadas de tinta que haviam sido pintadas em minh’alma, umas sobre as outras, como bem disse Rubem Alves. Depois dessa ressignificação, a escrita virou hábito, vício e hoje é meu processo terapêutico contínuo, minha catarse.
SAV - O que, normalmente, o motiva a escrever? Você tem predileção por alguns temas? Quais e por quê?
SS - Já ouvi alguns colegas falarem que existe um ritual para que consigam escrever, ou um ambiente preparado somente para esse propósito. Para mim nunca existiu nada parecido. Nem mesmo papel e caneta uso mais, na verdade nunca usei. A vontade (ou inspiração) surge nas horas mais inusitadas, às vezes no meio da madrugada, e então, para não ter que ir ao computador, me acostumei com o editor de textos do smartphone. E isso já se repetiu em diversos horários e locais. Quanto aos temas, já escrevi artigos e crônicas totalmente factuais, mas em geral eles surgem de maneira espontânea, por isso não posso dizer que prefiro um ou outro. Hoje, em especial no livro Dias Possíveis, exercitei uma métrica diferente, uma organização que nunca tinha havido, mas mesmo assim os textos, bem como as personagens, foram surgindo sem nenhuma combinação. Acredito (e defendo) que o livro é uma entidade mágica, quase sobrenatural, e por isso temos que respeitar suas vontades e manias.
SAV- A partir de quando você começou a publicizar as suas produções? Como se deu esse processo?
SS - Após o primeiro texto pós-terapia, comecei a descobrir o mundo da escrita. Passada a fase da revolta, comecei a escrever contos, onde pude inventar meu primeiro universo ficcional. Até então, tudo estava guardado na memória de um computador, foi quando surgiu a ideia de colocar em uma nuvem, para não correr o risco de, acidentalmente, perder tudo. Daí surgiu Articulancia, meu Blog que, nesse primeiro momento, era só um repositório de textículos. E assim se manteve até 2017, quando me envolvi com a Política, e comecei a escrever crônicas e artigos sobre conjuntura e Educação no país, e no estado de Minas. Desde então, as portas do Articulancia.blog foram escancaradas, momento em que também surgiu meu segundo universo ficcional, mas com uma grande diferença em relação aos textos atuais - minhas personagens quase não falavam. Era uma grande contação de histórias, conduzida por um narrador-personagem. Aliás, continuo me achando apenas um contador de causos e histórias, no máximo um escrevinhador de textículos. Escritor é uma láurea que ainda não me cabe.
Depois disso vieram as publicações em revistas especializadas, participação em concursos e até em jornal.
SAV- Conte-nos um pouco sobre esse livro que acaba de sair do forno. Em linhas gerais, quais são os assuntos explorados? Quanto tempo você se dedicou a ele? E o que o impulsionou a publicá-lo?
SS - Bem, dizem que do CAOS surge a vida. Dias Possíveis surgiu quando minha vida estava literalmente de pernas para o ar. E por incrível que pareça, são nestes momentos que eu mais escrevo. Quando surgiu a ideia, pela primeira vez, decidi seguir um roteiro - queria escrever um livro que tivesse como mote os doze meses do ano. O ponto de partida seriam as datas próprias de cada um - fevereiro (carnaval), março (quaresma), junho (festas juninas) e por aí afora. A partir daí, cada conto deveria ter um estilo e uma marca próprios. Foi então que surgiram os conflitos geradores das histórias - preconceito; feminicídio; traição; mentira; assassinato; relações proibidas, fetiches, superstição, violência… E o tempo de criação, da ideia inicial à finalização, foi de agosto a novembro de 2023. Em janeiro me peguei questionando não a qualidade estética do livro - disso não tinha dúvidas, pois sou meu maior crítico - mas se aquele livro seria, de fato, um produto literário, que as pessoas pagariam para ler, e as editoras se interessariam em publicar. Foi quando decidi me inscrever em várias Chamadas de publicação, onde duas responderam positivamente, e acabei fechando com a Caravana Grupo Editorial pelo pacote de serviços que me oferecia, bem como pela possibilidade de publicar em Espanhol, já que ela tem um braço portenho, a Caburé Libros.
SAV - Elenque para nós cinco motivos que tornam "Dias Possíveis" um livro imperdível.
SS - Pois bem, podemos dizer que Dias Possíveis é um livro:
1) Surpreendente: apesar de parecer, não há nada de óbvio nos Contos. O leitor sempre se surpreenderá ao final.
2) Instigante: o livro tem uma linha tensional que vai te levar do riso ao desespero, culminando com um soco no estômago, em setembro, para depois distensionar e chegar em dezembro sorrindo novamente.
3) Polêmico: a proposta nunca foi construir histórias ideologizadas, para levantar essa ou aquela bandeira, mas, de fato, ele trata de maneira aberta sobre vários tabus latentes em nossa sociedade.
4) Ousado: a ousadia é uma marca desta obra, desde o projeto inicial usando como pano de fundo os meses da folhinha, até a escolha dos conflitos - tinha tudo para dar errado, mas ao que parece, deu certo.
5) Desconcertante: certamente, muitos que irão ler as histórias, se indignarão com o desfecho das personagens, afinal, como disse na contracapa do livro, a vida não é um conto de fadas.
SAV - Como podemos adquirir um exemplar?
SS - O livro está sendo vendido diretamente pela Editora, a Caravana Grupo Editorial, através do endereço: https://
SAV- Que pergunta eu não lhe fiz e que você gostaria de responder? Formule-a para nós e a responda, por gentileza! O espaço é todo seu!
SS - Qual o maior desafio que você encontrou para que "Dias Possíveis" acontecesse?
Certamente, não foi a escrita - desenhar essas letras foi de todo um momento de prazer. Também não foi a publicação - realmente é um desafio publicar no Brasil, ainda mais sendo um anônimo, mas com um pouco de força de vontade, e persistência, tudo dá certo. O que entendo ser desafiador nesse processo de criação são as pessoas - escritores famosos ou não, escrevinhadores como eu. Talvez seja mesmo eu o errado, mas na condição de Professor - apaixonado confesso pela Produção Textual e Literatura, nunca me furtei a ler um texto e incentivar seu autor, mesmo reconhecendo que nem todos nasceram para escrever. Mas ainda assim, acho que cabe o incentivo, porque como foi uma catarse para mim, pode ser que o seja para o outro. Enfim, a verdade é que encontrei mais portas fechadas, recebi mais não’s do que sim’s, e aí falo sobre a escrita de Dias Possíveis, mas não somente sobre ela. Ao que me parece, a Mosca Azul faz pouso fácil nas terras da criação literária, e assim, no primeiro livro publicado, o sujeito acha que se tornou um imortal da Academia Brasileira de Letras.
*Sérgio Augusto Vicente é professor de História e historiador. Graduado, Mestre e Doutorando em História pelo PPGHIS/UFJF. Atualmente, trabalha no Museu Mariano Procópio – Juiz de Fora (MG)