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“Atividade de silvicultura”

“Atividade de silvicultura”

É assim que a monocultura de eucalipto será chamada daqui para a frente, segundo a secretária de Meio Ambiente. E ganha um trato especial: “licenciada por modalidade simplificada”.

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22-08-2024 às 09h:44

Direto da Redação

Quando o sistema vigente não consegue dar cabo daquilo que ele próprio criou, parte para a solução semântica, sofistica o nome e pronto. Isso aconteceu, por exemplo, com o fenômeno da famigerada “favela”. Passou-se, então, a chamá-la de “aglomerado”, mas o problema da desigualdade permanece.

Outro foi quando de uma vez Minas ficou infestada de eucalipto. Dizia naquela época, década de 1970, que estavam fazendo “reflorestamento”. A própria palavra diz tudo, reflorestar, tornar a fazer uma floresta heterogênea e não monocultura de eucalipto

E o que é chamado de monocultura de eucalipto, passa a ser chamado daqui para frente de “atividade de silvicultura”. Quando se ouve dizer isso, o normal seria pensar numa floresta heterogênea – pequizeiro, araticunzeiro, pitombeira e outras tantas -, mas neste caso trata-se de monocultura mesmo, que passa a ser, além de “atividade de silvicultura”, “licenciada por modalidade simplificada”.

É compreensível que o carvão vegetal se tenha tornado desde décadas atrás imprescindível para alimentar os fornos das “guserias” e siderúrgicas. Quase destruíram o Cerrado do Norte de Minas e do Vale do Jequitinhonha e Rio Doce.

Agora, o Copam e a Secretaria de Meio Ambiente estão flexibilizando as exigências a fim de abrir mais espaço para os empresários do eucalipto.

Onde há hoje monocultura de eucalipto, nas regiões mencionadas, antes havia floresta heterogênea, e agora a secretária de Meio Ambiente, Marília Melo, com o adjutório do Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam) publica nova deliberação que “simplifica o plantio de florestas em Minas”

Corre por aí, por esse nosso Sertão devastado, a expressão do sertanejo: “Quanto mais rezo, mais assombração me aparece”. Quando se deve perceber as consequências das mudanças climáticas, mas o que valem são os interesses econômicos atrelados aos políticos.

Basta percorrer o Norte de Minas, e os vales para constatar o estrago que as monoculturas fazem. Toda monocultura é prejudicial ao solo. A de eucalipto é muito mais pelo poder que tem de se enfiar pela terra para beber 30 litros de água por dia, cada um dos exemplares dos maciços.

Não há terreno que resista, e principalmente se se levar em conta outras questões relativas ao manejo e manutenção, com pulverização de venenos chamados de agrotóxicos, que envenenam os rios e os lençóis freáticos.

A secretária de Meio Ambiente diz: “Quando damos essa capacidade de ampliação da produção de floresta plantada, preservamos as nossas florestas nativas, mas também promovemos um novo olhar de economia verde. Ampliando as florestas plantadas no nosso estado, aceleramos o processo de descarbonização da economia".

E os discursos ou os exercícios semânticos continuam. A prudência recomenda aguardar os acontecimentos, isto é, as consequências dessa nova deliberação.

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