Transit de Montes Claros seria a Taiwan de hoje
Restaria saber, se a ilha fosse aqui, quais países estariam disputando o Brasil, produzindo 60% dos chips consumidos no mundo. A ilha é disputada por Estados Unidos e China
14-06-2024 às 09h:45
Bento Batista*
Mariana Belinotte, Mestra em Direito e Doutoranda em Ciências Militares publicou, no Diário de Minas, artigo intitulado “Chips Taiwaneses, problemas globais”, relacionado com as “consequências geopolíticas da manufatura de semicondutores”.
O artigo foi publicado há uma semana, e ela chama a atenção para os “argumentos ideológicos”, dizendo ser “componente forte geopolítico do interesse norte-americano na região”. A gente imagina o quão importantes são os tais semicondutores, mais conhecidos por chips.
E foi depois da leitura do artigo de Belinotte que parece ter dado uma cutucada na memória, e veio da parte do professor dela, Paulo Roberto Cardoso, a lembrança: na década de 1970, o mineiro Hindemburgo Pereira Diniz, recém falecido, homem de Ciência & Tecnologia podia ter sido conhecido nos dias de hoje como pioneiro em matéria de produção de chips.
Montes Claros podia muito bem estar numa condição semelhante à de Taiwan, que é disputada na prática das relações internacionais, por Estados Unidos e China.
Conforme me contou o professor, escritor, jornalista Wanderlino Arruda, montes-clarino de coração e privilegiada memória, “era uma indústria moderníssima para fabricação de chips, a Transit. Ficava no Distrito Industrial, em grande luxo, com dois campos de golfe, futebol e apartamentos com todo conforto”.
Wanderlino publicou mais de duas dezenas de livros, em Montes Claros, e se recorda muito bem de que “trabalhavam na Transit muitos engenheiros vindos do exterior (principalmente da Índia), com doutorado. Os diretores vinham de avião na segunda-feira, ficavam durante a semana, voltando no voo da tarde ou da noite. Em vista de muita pressão de grupos econômicos, se acabou e o imóvel foi comprado por Ruy Muniz”, que mais tarde foi prefeito de Montes Claros.
Sobre essa questão da fábrica de chips de Montes Claros, o informe Mercado Comum publicou sobre Hindemburgo Pereira Diniz e o interesse dele “pela Ciência e, particularmente, pela tecnologia da formação, que o levou à criação pioneira de uma indústria de transistor em Montes Claros, região mineira da Sudene, já nos anos 70, com o apoio inicial do Conselho Nacional de Pesquisa Científica e Tecnológica (CNPq)”.
Na sequência, a publicação informa que “a descontinuidade do apoio à inovação entre nós, fruto de profunda incompreensão do papel da criação técnico-científica para o desenvolvimento do País, levou à frustração dessa importante iniciativa.”
Os semicondutores são hoje mais do que antes necessários para a manufatura de boa parte dos eletrônicos. A partir de eletrodomésticos e automóveis a equipamentos militares. “São fabricados, em grande parte, na ilha, pela companhia TSMC. As estimativas são de que os taiwaneses hoje são responsáveis por 60% da produção de semicondutores, e fornecem os produtos para empresas como Apple, Nvidia, Qualcomm, AMD e ARM”.
Em outras palavras, Taiwan concentra a produção de chips e no caso de alguma crise, seja de que ordem for, senão o mundo inteiro, boa parte dele para porque a vida humana no planeta tornou-se uma experiência virtual.
Só nos resta, agora, tentar o impossível, adivinhar o que poderá acontecer daqui a pouco para mudar os rumos da humanidade. Algo além dos chips.
Mas, pensando bem, se a Transit lá de Montes Claros tivesse vingado, dá para imaginar o que seria hoje o Norte de Minas, senão uma Taiwan? E quem disputaria com o Brasil a essa altura do campeonato dos chips?
*Jornalista e escritor
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