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Terra dos diamantes

Menção especialíssima faço-a ao característico Beco da Tecla, posto histórico de peculiar interesse e de particular beleza, onde, ao número 31, na “Livraria e Café Espaço B”, da amiga Beatriz

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06-08-2024 às 08h:53

Henrique German*

Fazia já mais de dezoito anos desde que fora pela última vez a bela Diamantina, no alto Jequitinhonha, uma das regiões de natureza mais rica e mais bonita em todas as Minas Gerais. Tive ocasião, porém de, nesse fim de semana de três de agosto, lá estar com a minha mulher, para atendermos ao espetáculo mais famoso daquelas bandas: a “Vesperata”, que tem lugar na rua da Quitanda, no centro histórico da cidade.

Na estrada, ainda distante, com a parca visão que me resta, avistei contra os céus nublados uma mancha escura imensa, que se estende por sobre a cidade dos diamantes e em redor dela, encimando-a, erguendo-a e abraçando-a ao mesmo tempo; bem sabia eu se tratar do formidável maciço da Serra dos Cristais, altitude em que se assenta, altaneira, a preciosa Diamantina.

Muito antes de nos encantarmos com as lindas apresentações artísticas que viriam na noite do dia três, logo à chegada na entrada da cidade já nos espantávamos com a limpeza, com a organização e com a atmosfera agradável que respira Diamantina. Ruas bem pavimentadas e corretamente mantidas, fachadas pintadas e cuidadas, a ausência de quaisquer odores fétidos pelos ares e a presença, por outro lado, somente de rumores toleráveis e normais do cotidiano de toda cidade que se preze; em outras palavras: nada de gritarias, de desordens, de músicas estridentes, de sujeira, de desmazelo ou de descaso com as coisas vistas em toda parte.

Não se confunda boa e interessada gestão municipal e decente e séria zeladoria da cidade com ambientes sisudos ou de alguma maneira pesados; ao contrário, a atmosfera de Diamantina é de pura alegria, perceptível claramente rua a rua e beco a beco, por onde passeiam famílias inteiras de turistas de todos os cantos do Brasil.

Festival de inverno, excelente gastronomia, atrações musicais e performáticas diversas nas vias públicas, em palcos montados ou no chão, segurança de qualidade, personificada nos homens e nas mulheres da guarda municipal e da polícia militar, em conjunção de esforços, tudo faz com que Diamantina se mostre em sua melhor forma, exuberante e plenamente digna do herdado passado de muitas grandes glórias.

Comprei, no hotel, um dos vários bons pontos de hospedagem da cidade, vinhos tintos de altitude de produção local, novidade para mim, além de oloroso café do cerrado, igualmente diamantinense, sem olvidar dos tradicionais queijos maturados e cachaças envelhecidas, marcas registradas de Diamantina desde priscas eras. De fato, voltei a Belo Horizonte com uma bagagem bem maior que a original.

Menção especialíssima faço-a ao característico Beco da Tecla, posto histórico de peculiar interesse e de particular beleza, onde, ao número 31, na “Livraria e Café Espaço B”, de propriedade da amiga Beatriz, tive o prazer de encontrar, muito além de diferentes obras de minha autoria, os amigos Alberto Sena e Sílvia, os quais lá estavam, para surpresa e enorme contentamento meus.

Lá, almoçamos risoto com requeijão de raspa, farofa de “bacon”, com “crispy” de couve, lombo suíno, com calda de melado, tudo acompanhado de ótimo vinho tinto diamantinense. Típico e delicioso, amigo leitor! O ambiente da livraria, antiga senzala adaptada, é amplo, claro, bem dimensionado na distribuição das estantes e das mesas e o atendimento do pessoal é perfeito; nem menciono os muitos outros itens do cardápio, caro leitor, para poupar você de um ataque de ansiedade. Nada mais me faltava para considerar a visita a Diamantina como a melhor de todos os tempos.

Naturalmente, a “vesperata” forma um capítulo à parte, merecendo sempre todos os louvores já tão decantados há décadas por todos os que têm a fortuna de assisti-la pessoalmente. Comida gostosa e variada, atendimento impecável, preços justos, ambiente adorável, bem iluminado e ordenado, sem senão algum. A música, leitor companheiro, bem, digamos que dispense maiores comentários, porque reconhecidamente de altíssima qualidade; destacarei apenas um dos números, que muito me agradou: a mescla inusitada e bem executada de uma ária de ópera de Mozart com acordes da canção popular inglesa mundialmente famosa “Satisfaction”. Inesquecível!

Retornei para casa feliz com o acolhimento que tive do povo de Diamantina, simpático, simples e hospitaleiro; feliz também por ver a cidade tão bem tratada, perfeita síntese viva do encontro entre passado e modernidade sadia. Vivas e hurras, Diamantina!

* Promotor de justiça aposentado e autor de mais de duas dezenas de livros de literatura. Ele é candidato a uma vaga na Academia Mineira de Letras (AML)

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