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Quer ouvir uma boa história? Então, segue o fio!

Quer ouvir uma boa história? Então, segue o fio!

Hoje acordamos no futuro! Estamos em julho de 2024, bem distante daquela última conversa que tive com Eudimar em 2002. Olha que coisa boa! Pois não é que ele cumpriu à risca o que prometeu! Assista vídeo completo abaixo:

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20-07-2024 às 12h:24

Por João Capiberibe

Primeiro, assista ao vídeo! Ele começa em 1994, quando dormi duas noites na comunidade de São Francisco do Iratapuru, e termina em 2003, quando um incêndio criminoso destruiu a fábrica de biscoitos de castanha da Comaru.

Essa primeira parte da história não deverá constar na narrativa de @lucianohulk sobre a RDS, Reserva de Desenvolvimento Sustentável, do Rio Iratapuru. O famoso apresentador esteve por lá em junho passado, e imagino que vá levar, em algum momento, parte da história dos castanheiros para a telinha da Globo.

Na matéria, será destaque a parceria entre a Natura, a gigante dos cosméticos, e a Comaru, a Cooperativa Mista dos Produtores e Extrativistas do Rio Iratapuru. Essa parceria começou em 2004, com negociações e fechamento de contratos que se estendem até hoje, cabendo à Comaru fornecer breu branco e óleo de castanha-do-Brasil, matérias-primas para a produção da linha Ekos da Natura.

Voltemos ao vídeo? Sabe o Eudimar Viana? Aquele garoto no meio dos peixes que entrevistei pela primeira vez em 1994. Ele cresceu. Oito anos depois, voltamos a nos encontrar no mesmo lugar. Ouvir Eudimar falar com sabedoria sobre a natureza, afirmar que iria estudar e voltar para sua comunidade, deixou-me feliz e confiante no futuro da RDS do Rio Iratapuru, criada em 11 de dezembro de 1997 através da Lei Estadual n.º 0392, proposta e promulgada por mim quando governador do Amapá.

Hoje acordamos no futuro! Estamos em julho de 2024, bem distante daquela última conversa que tive com Eudimar em 2002. Olha que coisa boa! Pois não é que ele cumpriu à risca o que prometeu! Foi para São Paulo estudar e retornou para trabalhar na comunidade. Preparado, aos 24 anos, foi presidente da Comaru (2006-2009), liderou os castanheiros nas intrincadas negociações com a Natura, que culminaram na assinatura do primeiro contrato de repartição de benefícios no Brasil.

Dessas negociações difíceis, mas exitosas, emergiu o Fundo Iratapuru, constituído por um percentual sobre a venda pela Natura de produtos que utilizam breu branco e óleo de castanha-do-Brasil em sua composição. Os recursos do Fundo são aplicados em projetos de interesse da comunidade, entre outros, destaco o que considero o mais importante: a destinação de bolsas de estudos para formação profissional dos filhos e filhas dos castanheiros. Neste momento, o Fundo financia 20 bolsistas. Decisão acertadíssima! Hoje, a cooperativa conta com quadros técnicos administrativos preparados para tocar seus negócios. Os presidentes dos últimos doze anos da Comaru se graduaram com bolsa do Fundo.

Já caminho para a conclusão, mas antes quero falar um pouco da minha presença entre os castanheiros. Nesse vídeo, eu digo a eles em alto e bom som: “Essa castanha tem que ser trabalhada aqui, ela tem que ser beneficiada aqui, ela tem que ser transformada em amêndoa, em óleo, em farinha, aqui!”

Pois foi o que fizemos na comunidade de São Francisco do Iratapuru ao assumir o governo do Amapá em 1995. Ali, plantamos a semente da bioeconomia sustentável, capaz de produzir riqueza, gerar bem-estar social e manter a floresta em pé com sua biodiversidade conservada. Deu certo? Em breve teremos um panorama de como anda a vida por lá! Imagino que @lucianohuck vai nos atualizar do incêndio da fábrica, como finaliza o vídeo, até os nossos dias.

Minha convivência entre os castanheiros do sul do Amapá aprofundou meu entendimento sobre o desenvolvimento da Amazônia, de tal forma que hoje, eu e Janete, que no vídeo fala dos produtos da nossa biodiversidade, decidimos nos envolver pessoalmente.

Ela, aos 72, e eu, aos 74 anos, criamos a Flor da Samaúma, Ecoturismo e Bioeconomia, empresa dedicada ao desenvolvimento de projetos inovadores com base na sociobiodiversidade amazônica. Hoje, falando como empresário, reafirmo tudo o que disse em 2001 na inauguração da fábrica de óleo e biscoito de castanhas:

“Um hectare de floresta em pé produz mais do ponto de vista econômico, protege a natureza e distribui mais riqueza do que um hectare de floresta transformada em soja ou em pastagem para criação de gado.”

Manifesto minha preocupação com a desflorestação de 20% da Amazônia e com as mudanças climáticas. Juntas, aceleram a marcha da insensatez para o ponto de não retorno, ponto em que a floresta passará a morrer de maneira descontrolada, provocando drástico desequilíbrio hídrico no planeta, nos ecossistemas e na vida dos povos da Amazônia e do Brasil.

* João Capiberibe é político brasileiro, ex-Prefeito, Governador e Senador da República

 

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