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Quem manda no mundo?

O Clube Bilderberg alarga os conceitos militares da OTAN, para se estender à política, em sentido mais amplo, dos países livres da Europa, em desdobramento que favoreceu a política dos EUA

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h26-07-2024 às 09h:43

Rogério Reis Devisate*

Existe o poder e o Poder. O Poder não se exibe, se protege e é mais do que discreto. Já ouviram falar no Clube Bilderberg, no Clube de Roma ou na reunião ocorrida com 500 líderes mundiais no The Fairmont, na Califórnia? Não são nada como o G-20, COP ou eventos mais badalados e, exatamente por isso são tão determinantes no que ocorre no mundo.

O Clube Bilderberg é tão mais poderoso quanto menos é conhecido. Reúne cerca de 150 especialistas da elite global, nas áreas de finanças e política, indústria e meios de comunicação da Europa, EUA e Canadá. Deve o seu nome ao hotel em que se fez a primeira conferência, em 1.954, para reunir a força militar, política e econômica dos países desenvolvidos da região norte ocidental do Planeta.

Perceptivelmente cuida de objetivos que coincidem com os da OTAN – Organização do Tratado do Atlântico Norte, fundada em 1.949, envolvendo aliança militar na região. O Clube Bilderberg alarga os conceitos militares da OTAN, para se estender à política, em sentido mais amplo, dos países livres da Europa, em desdobramento que favoreceu a política externa dos EUA.

O Clube de Roma é mais conhecido, notadamente a partir do influente relatório publicado em 1.972, que vendeu cerca de 30 milhões de exemplares em todo o mundo, abordando aspectos

políticos e econômicos e, ainda, questões sobre energia, poluição, tecnologias e crescimento populacional.

Mais? No majestoso hotel The Fairmont, na Califórnia, em 1.995, sob a liderança de Mikhail Gorbachev, reuniu-se a elite do mundo político, econômico e científico. A outrora potente URSS havia se desmantelado e parte das lideranças globais adulava Gorbachev por isso. Estavam presentes ao evento o presidente George Bush, o Secretário americano de Estado George Shultz, a ex-1ª Ministra britânica Margaret Thatcher, o proprietário da CNN Ted Turner – que se tornava o líder do maior complexo global de comunicação, com a fusão da CNN com o grupo Time Warner.

Desse encontro também participaram alguns dos mais importantes nomes do “braintrust” mundial – influentes conselheiros dos grandes executivos e políticos.

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Ali surgiu o impactante prognóstico da sociedade “20 x 80”, indicando que, neste século, 20% da população sustentarão a economia global. E o que fazer com o restante, com os 80%? Estarão fora do jogo e terão problemas grandes.

“Tittytainement” é um dos neologismos ali surgidos e que parece definir um pouco dos nossos dias. É algo como “entretanimento”, com a junção de diversão com tetas, correspondendo ao fornecimento de distração e comida suficiente para os 80% excluídos ou afastados das melhores posições nesse jogo global - nesse contexto mais relevante da produção e fomento.

Refletindo com os nossos botões e como já pudemos há anos escrever em artigo, nos abordados 20% devem estar países com as suas populações inteiras ou indivíduos de vários países?

Neste sentido, as massas estão fora do jogo e se os 80% do mundo tiverem alguma comida e muita distração, os 20% do topo seguirão em paz com os seus jogos de poder (ou melhor: Poder).

Observemos os tempos modernos com as chamadas “redes sociais”. Elas são gratuitas; elas são transbordantes e cativantes; elas estão acolhendo pessoas de todos os países, todas as classes sociais e línguas. Estão “unificando” as culturas, línguas e dialetos e as transformando num caldo menos disperso e desigual, formatando um padrão global. Diminuindo as diferenças, criam uma “igualdade” que favorece o controle e manipulação pelos influentes donos do Poder global e lideranças reais. Histórias de civilizações e povos parecem afetadas por essa questão identitária e de pretensa igualdade.

Por falar nisso, o antigo político francês Mirabeau registrou que o então todo poderoso Cardeal Richelieu, 1º Ministro de Luís XIV (o rei francês que disse que o Estado era ele e que foi o mais absoluto dos reis absolutistas europeus), adoraria a igualdade das pessoas e o fim das classes na França, dizendo: “A ideia de formar apenas uma classe de cidadãos teria agradado a Richelieu, essa superfície uniforme facilita o exercício do Poder”.

Se já fomos bombardeados por propagandas pagas em jornais e programas de TV, atualmente somos ainda mais pelas ações de influenciadores e mídia divulgada em aplicativos e propagandas com caráter muito mais amplificado, circulando pelas redes. O que vivenciamos há poucas décadas ganhou dimensões incontroláveis. Quando falamos em consumo, não o limitamos a artigos para aquisição. Falamos, também, na formação de hábitos e na extrema “distração” da realidade a que somos cada vez mais submetidos.

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Nossas vidas reais parecem que se tornam algo fora do foco. Cada vez mais a vida postada nas redes ganha importância, que pode ser medida pelo “tempo” que gastamos nas redes sociais e na internet, apenas com distrações e entretenimento. Fotos postadas, ostentação e diversão. Muitos fazendo de tudo para chamar a atenção e de exibir um tipo de vida que não é aquela que diariamente se pode ter. Uma competição por nada.

Talvez nem percebamos que estamos fazendo das nossas vidas aquilo que alguns líderes mundiais apontaram há poucas décadas. Estamos levando a vida com comida e muita, muita, muita distração. Estamos, assim, sem ser forçados pelos poderosos globais e, portanto, agindo com nossa livre e espontânea vontade, nos submetendo passivamente ao regime dos 80% que só precisam de alguma comida e entretenimento. Estamos, cada vez mais, sendo consumidores de qualquer coisa que faça passar o tempo da nossa vida entediante... Em verdade, estamos nos entediando por perceber que nossas vidas têm ficado sem sentido, já que o sentido de tudo é cada vez menos ser feliz e viver a vida doméstica que ao longo de centenas de anos foi a vida dos nossos antepassados. Estamos vivendo uma aparência de vida que é apenas a exibição da parte que desejamos mostrar a todos.

Cada vez mais somos superficiais, cada vez menos lemos livros, ouvimos música ou estudamos por nosso exclusivo prazer, pois temos sido levados a consumir em massa o que desejam que a massa absorva. Não há almoço de graça e somos atraídos de todas as formas para ingressar nesse mundo virtual.

Temos nos afastado das nossas raízes humanistas. Somos menos seres pensantes, críticos e argumentadores, para ser reprodutores de frases padronizadas criadas em salas refrigeradas. A vida pulsante, alegre, colorida e espontânea sai, cada vez mais, das ruas, que ficam tristes e vazias.

Trancamo-nos em nossas casas, comendo qualquer coisa e nos conectando pela internet. Estamos menos sadios, menos lúcidos, menos à vontade para sair dos nossos castelos e ir às ruas.

Sem perceber, parece que as coincidências vão nos levando a ter novas atitudes. Sem consciência dos jogos de poder, temos feito exatamente o que parece que se planejou. Teoria da conspiração ou constatação de que as coisas são como são porque alguns nos levam a agir assim. Foi coincidência o povo nas ruas no Brasil, na Primavera Árabe e noutras regiões, há cerca de 10 anos?

Pensar fora da caixinha, nos levaria a ter considerações mais amplas sobre a Guerra do Golfo e do Afeganistão e sobre os movimentos de poder em várias regiões, com apoio a regimes autoritários em troca do acesso ao fluxo de petróleo e gás do

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Oriente Médio e Venezuela. Considerar que tudo é coincidência é exatamente coincidente com o desejo de poucos, que sabem e controlam muito.

* Advogado/RJ, membro da Academia Brasileira de Letras Agrárias, da União Brasileira de Escritores e da Academia Fluminense de Letras. Presidente da Comissão Nacional de Assuntos Fundiários da UBAU. Membro da Comissão de Direito Agrário da OAB/RJ.  Defensor Público/RJ junto ao STF, STJ e TJ/RJ. Autor de vários artigos jurídicos e dos livros Grilagem das Terras e da Soberania, Diamantes no Sertão Garimpeiro e Grilos e Gafanhotos: Grilagem e Poder. Co-coordenador da obra Regularização Fundiária Experiências Regionais, publicada pelo Senado Federal.

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