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Para eles, Água é como um insumo qualquer

Para eles, Água é como um insumo qualquer

Para os empresários – e isto o professor Apolo Heringer Lisboa observou bem – a Água é um insumo como qualquer outro utilizado na produção

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21-05-2024 às 08h:55

Alberto Sena*

O professor Apolo Heringer Lisboa afirmou ao Diário de Minas, que os grandes empresários concebem a Água como insumo e não a veem como geradora de vida. Eles enxergam a Água como veem um saco de cimento ou uma pilha de tijolos.

Quem está do lado de fora desses interesses e aqui se acha para defender a Água, gosta de falar por imagens, e falando por imagens, talvez os empresários entendam os riscos iminentes que todos corremos, inclusive eles.

Vamos juntos enxergar uma bacia hidrográfica como o corpo humano nu e por inteiro. O camarada para estar vivo precisa cuidar do próprio corpo porque ninguém vai fazer isso para ele. E o corpo é feito de carne e osso. Mas se não tiver um sistema de veias por todos os cantos, da cabeça aos pés, não há quem possa viver.

As veias irrigam o corpo por inteiro, à semelhança das bacias hidrográficas nas terras. Mas se o corpo humano não estiver bem alimentado, com a saúde em dia, e bem tratado, o camarada não vai ficar em pé.

O coração precisa estar bombeando o sangue e então a corrente sanguínea irriga o corpo como os agricultores irrigam suas propriedades. Simples assim.

Mas para o corpo humano funcionar a contento, é necessário que se alimente bem, de legumes, verduras e principalmente de frutas, assim como os córregos, os ribeirões, os rios, as lagoas precisam ser bem mantidos, com matas ciliares, águas despoluídas, peixes em quantidade, vida em abundância. As crianças, jovens e adultos neles nadando sem temores, como era pelo menos meio século atrás.

Não se pode trocar  um pequizeiro por um pé de eucalipto. Simplesmente porque o pequizeiro é nativo do Cerrado e dos seus frutos dependem as famílias sertanejas, tanto como alimento e como gerador de renda.

Já o eucalipto é natural da Austrália e consome por dia 30 litros de água, cada pé. Favorece o bolso do empresário, muitos deles estrangeiros. E os primeiros prejudicados com tudo isso são os lençóis freáticos. As águas subterrâneas. “Não pode haver rio vivo”, como diz o professor Apolo, “em terra morta”.

No afã de engordar o faturamento, usando de discursos muitas das vezes enganadores, como é o caso dos produtores de monoculturas de eucalipto, com a conversa de “reflorestamento”, os empresários estão, a cada ano comprometendo as bacias hidrográficas e o próprio negócio, porque as suas terras estão morrendo.

O professor Apolo já foi presidente do Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas e esse comitê o levou a conviver com grandes empresários e entidades como a Fiemg. “Eles” – os empresários – “entendem a Água não como criatório de vida, de peixe e muito mais até para as pessoas nadarem”.

Para os empresários – e isto Apolo observou bem – a Água é um insumo como qualquer outro utilizado na produção. “Eles não compreendem os sistemas como conservadores de águas”, disse. E o professor foi mais além: “Acabem com a floresta Amazônica e nós veremos o que irá acontecer com as águas e as chuvas”, disse

Para os empresários, a Água é só uma questão mercadológica. E para quem está na outra ponta, a Água é medida de todas as coisas, “inclusive da nossa mentalidade”.

E Apolo citou um exemplo: “O Rio Tietê, em São Paulo, era uma maravilha, cheio de peixes, gente navegando de barco; agora, o Tietê está tampado, encaixotado; por que não cimentar as praias? Até pensaram nisso, mas o mar reage logo, diferentemente do rio”, ele reage mais devagar.

“Não há rio vivo em terra morta”, repetindo, como fizeram com o Rio Doce, ao acabarem com a Mata Atlântica. A Água não é uma questão metodológica. Se as bacias hidrográficas não forem conservadas, a vida vai desaparecer e quem sofrerá todas as consequências é o bicho humano chamado homem, chamado mulher.

A princípio, com experiência também no comitê de bacia do Rio São Francisco, Apolo desconfiou do interesse de empresários em relação aos comitês de bacia. Eles se mostraram, inclusive, com disposição de pagar pelo uso da água. Só que arranjaram meios para camuflar o que é chamado na língua portuguesa de roubo. Roubo de água bruta.

Diante das reações naturais registradas ultimamente, os governos e as pessoas de modo geral culpam São Pedro pelas enchentes, quando devem culpar o poder econômico, com ocupações inadequadas, e o poder político, que, conivente, faz vistas grossas, e a cada ano os problemas ambientais se acumulam.

Daqui para a frente, com o que as mudanças climáticas estão nos oferecendo, não temos nem ideia do que ainda há por vir, embora tenhamos sido alertados há anos sobre o que já está acontecendo, inclusive quanto ao avanço do mar.

É de se supor que uma casa à beira da praia esteja sendo vendida a preço antigo de banana, porque mais dia menos dia, quem investiu achando estar fazendo bom negócio, irá experimentar as ressacas do mar e por aqui, as enchentes dos rios, cujas matas ciliares deram espaço para as monoculturas.

É de se exaltar a beleza da solidariedade humana demonstrada pelos brasileiros em relação ao que ainda acontece no estado do Rio Grande do Sul. Mas cada uma das regiões brasileiras deve ficar alerta. Cada uma pode receber de troco o mau investimento no meio ambiente.

Se a pandemia não serviu de tema para uma profunda reflexão, as previsões dos que auscultam o clamor do mundo e acompanham as transformações pelas quais passa, levam os crentes a verem sinais apocalípticos do final dos nossos tempos.

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