
Hilton Homem de Castro se lembra de ter refeito a pista de corridas, acertando o contorno e o piso de areia CRÉDITOS: Divulgação
Entrevista com Hilton Homem de Castro, construtor do hipódromo Serra Verde, em Belo Horizonte. Ele foi contratado o então presidente do Jockey Club de MG, José Maria Alckmin
27-01-2025 às 09h42
Márcio De Ávila Rodrigues*
No dia 25 de outubro de 2024 o engenheiro Hilton Homem de Castro completou um centenário de uma vida muito produtiva. Ele só parou de trabalhar no ano de 2020 com o advento da pandemia de covid-19. Era companheiro, naquele momento, do filho Eduardo em uma empresa construtora de shopping centers.
Em entrevista realizada no dia 31/12/2023, enfatizamos a sua participação na construção do hipódromo Serra Verde, em Belo Horizonte. Ele foi contratado diretamente pelo então presidente do Jockey Club de Minas Gerais, José Maria Alckmin, trabalhando principalmente nos anos de 1968 e 1969.
Uma reconstrução (total) do Hipódromo Serra Verde
A base para o hipódromo já existia, mas em situação bem precária. O Jockey Club de Minas Gerais, uma sociedade sem fins lucrativos e com a finalidade de promover corridas de cavalos, passou a existir de fato em 1959 a partir da fusão de outras duas associações semelhantes, o Jockey Club de Belo Horizonte e a primeira formação do mesmo JCMG.
Com o desaparecimento do primeiro hipódromo de Belo Horizonte, o Prado Mineiro (que deu nome ao atual bairro do Prado), o JCMG adquiriu uma parte da fazenda Serra Verde e construiu um hipódromo precário, tendo como líder do empreendimento o médico pediatra Navantino Alves. A área estava localizada na zona norte de Belo Horizonte, junto ao limite com o município de Vespasiano. Entre 1964 e 1967 foram realizadas corridas de cavalos usando a tradicional raça puro-sangue inglês, mas também muitos animais mestiços. Mas as dificuldades financeiras somadas à precariedade das instalações improvisadas levaram à paralisação das atividades turfísticas.
Em torno de 1968, Hilton foi contratado pelo presidente do Jockey Club de Minas Gerais, José Maria Alckmin, para participar da construção definitiva do Hipódromo Serra Verde. Alckmin tinha encerrado em 15 de março de 1967 o seu mandato como vice-presidente do Brasil e decidiu se engajar nesse projeto esportivo e social. Provavelmente viu nele a possibilidade de se manter ativo na esfera político-eleitoral, pois as corridas de cavalo eram associadas ao charme e às classes abastadas. Tinham muita visibilidade.
As instalações que já existiam na primeira versão do hipódromo eram bem precárias e rústicas. A cobertura da área para o público era de sapê. Segundo o dicionário Priberam, disponível na internet, sapê é a designação dada a algumas plantas gramíneas do Brasil, cujos caules secos são usados como cobertura de casas.
Hilton Homem de Castro se lembra de ter refeito a pista de corridas, acertando o contorno e o piso de areia. E também de ter construído dois ou três “prediozinhos”, parte do complexo para o público acompanhar as corridas, portanto. Também trabalhou na reforma das cocheiras.
O hipódromo foi inaugurado no dia 17 de maio de 1970 e funcionou regularmente até o início de 2002, quando foi realizada a última corrida de cavalos. Ainda funcionou precariamente mais quatro anos até a desapropriação da área em 2006, quando foi utilizada para a construção da atual sede do governo de Minas Gerais.
Biografia
Hilton é natural da cidade mineira de Barbacena, onde nasceu em 25/10/1924. Formou-se engenheiro civil e elétrico em uma faculdade de Juiz de Fora que hoje é vinculada à UFMG. Ele explicou que as duas especialidades estavam englobadas no currículo da época, mas ele somente exerceu a engenharia civil.
Trabalhou inicialmente na área ferroviária, contratado em 1957 pela Rede Mineira de Viação, que era a maior do país no ramo. Explicou que ela tinha mais de três mil quilômetros de linhas e era fundamental no transporte do café produzido em São Paulo, no sul de Minas e no estado do Rio de Janeiro.
A responsável pelo conjunto da obra do hipódromo de Belo Horizonte era a Construtora Rabello, por muitos considerada a principal construtora de Brasília (através de seus próprios meios e também pela contratação de subempreiteiros). Em 1969 Hilton se desligou do contrato com José Maria Alckmin e passou a trabalhar para a própria Rabello, mas não na obra do hipódromo. Foi enviado para Manaus, onde atuou na instalação de uma linha de comunicações, que ele considera o trabalho mais marcante de sua carreira. “Foi uma obra muito pesada, no meio de matas fechadas”, explicou.
Depois da obra na Amazônia, Hilton continuou trabalhando para a Rabello, mas na própria capital Brasília. Depois retornou a Belo Horizonte e atuou intensamente na implantação do metrô. A parte seguinte de sua vida profissional também foi a última: o trabalho com o filho Eduardo na construção de shopping centers.
Hilton foi casado com Therezinha Gribel de Castro, falecida em 29/08/1985. Tiveram quatro filhos: Eduardo, Alexandre, Maria Izabel e Hermann.
Na foto de 31.12.2023, Hilton Homem de Castro (então com 99 anos) visita Eugênio Soares Rodrigues, pai do autor da entrevista, então com 101 anos. A soma das idades dá 200 anos exatos, número incomum. Ambos ostentavam e ainda ostentam boa saúde.