Nossa falta de realidade ou nosso negacionismo militante
Motoristas e pilotos (de carro, avião e helicóptero), em pouco tempo, não terão função. A presença do ser humano será substituída na prestação destes serviços
07-08-2024 às 09h:17
Fernando Neto*
Insistir com a regulamentação trabalhista dos prestadores de serviço dos aplicativos digitais (Uber, Ifood, 99, etc.) pode ser um negacionismo militante. O mundo mudou drasticamente pós anos 2000 e partidos políticos em todo mundo, sejam de direita ou esquerda, não acompanharam as mudanças tecnológicas que afetaram a comunicação, a econômica, os mercados, a força de trabalho, o emprego e a sociedade como um todo. A crise de representatividade institucional e política no mundo é senso comum e se dá justamente pela desconexão dos atores envolvidos. Homens e mulheres que envelheceram sua percepção de sociedade e de organização do Estado, não conseguem acompanhar o quanto as transformações alteram o cotidiano, a forma de se relacionar e distanciam os governos da sociedade atual.
Aplicativos como Uber ou Ifood já testam nos Estados Unidos, Canadá, Japão e China, em fase conclusiva, a automatização ou robotização de seus serviços, Inteligência Artificial e linguagens de programação que substituem a necessidade do ser humano à frente desses serviços de entrega (documentos, alimentos, etc.). Motoristas e pilotos (de carro, avião e helicóptero), em pouco tempo, não terão função. A presença do ser humano será substituída na prestação destes serviços, então, o que significará essa luta inglória por regulamentação de uma profissão que já nasce com os dias contados?
O poder público, seja executivo, judiciário ou o parlamento e seus respectivos mandatários, representantes ou executivos, não reconhecem o avanço da tecnologia, da IA na sociedade e o quanto isso interfere na força de trabalho, nos meios de produção, na base social e na estrutura cultural desta sociedade. É extremamente perigoso e atrasado. Corre-se o risco, por falta de senso de realidade, atrasar o desenvolvimento de uma geração inteira e recuar a economia do país. Sendo assim, a militância exercida em função da regulamentação trabalhista dos prestadores de serviço dos aplicativos digitais é o melhor exemplo para mostrar o quanto o poder público, líderes políticos e os representantes da sociedade civil estão no século passado e ainda não entenderam o novo tempo deste novo mundo. O esforço desprendido para regular uma “nova relação de trabalho” que não existirá mais no curto prazo cria um abismo profundo entre a necessidade e a realidade.
*Fernando Neto, presidente do Grupo AtualBank