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Lítio pode fazer a infelicidade do Vale do Bananal

Lítio pode fazer a infelicidade do Vale do Bananal

O temor das comunidades é de comprometimento da Água, que para eles não é insumo, mas vida. Vivem dela e da produção da terra e a mineração é para eles um risco iminente.

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23-05-2024 às 08h:55

Direto da Redação

Água, o temor de perder a Água, que para eles não é insumo, mas vida; e vida em abundância. Este é o pesadelo vivido hoje pelos habitantes do Vale do Bananal, no município de Salinas, Norte de Minas.

A vida lá transcorria, de certo modo, tranquila. A maioria das famílias depende da agricultura para assegurar a subsistência e renda. Mas, fundamentalmente, dependem da Água, sem a qual não conseguem produzir nada. E ela já é escassa.

A rotina é de muito trabalho, mas não havia ameaças rondando por todos os lados, como vem acontecendo ultimamente, com a chegada de mineradoras Belo Lítio e Latin Resources Limited com o projeto Salinas Lithium para explorar o mineral do momento.

São todos eles pequenos produtores de leguminosas, hortaliças, dentre outros produtos alimentícios, e da cachaça tradicional, a Salinas, considerada uma das melhores do Brasil. 

Com a chegada e o avanço avassalador da mineração no Vale do Bananal, os moradores estão assustados e temerosos quanto aos impactos sociais e econômicos. Além, claro, dos discursos dissimulados de “lítio verde”. Não existe isso, a começar da cor do mineral que nada tem do verdor da clorofila.

A mineração de lítio abre os mesmos buracos na terra. Dinamites são explodidos e as máquinas utilizadas fazem barulho, porque têm de mastigar o espodumênio, pedra que esconde o lítio, e assim tiram a paz dos lugares onde se instalam e adjacências.

Em qualquer país do chamado mundo desenvolvido, um lugar passivo de ser minerado, mas sendo ocupado, toda a comunidade é mudada para viver melhor do que vivia, em outro ponto.

No Japão, semana passada, uma árvore enorme foi transplantada, com todo cuidado, para outro lugar, de modo que ela certamente nem deve ter sentido a mudança.

Aqui, tudo acontece atabalhoadamente. O poder econômico chega com as mãos cheias de dedos e vai esburacando onde achar melhor, e pouco se lhe dá se há impacto que gera problemas nas adjacências, como é o caso dos pequenos agricultores do Vale do Bananal, que não conseguem dormir sossegados porque estão assustados pelos fantasmas da mineração.

Eles temem, principalmente, pelo comprometimento do fornecimento de Água, motivo da campanha do Diário de Minas – “Em Defesa da Água” – porque até então ela, como ente da vida, não tendo sido respeitada, é explorada de qualquer jeito, desperdiçada de toda maneira e poluída sem a menor consideração.

E a gente sabe, de onde só se retira água, sem cuidar dela, sem alimentar e tratar as áreas de onde ela é retirada, um dia acaba. E se a Água acabar, “babau, nem tico nem taco”. O planeta Terra será semelhante a Marte, para rimar com morte, ausência total de vida.

Se aqui acontecesse uma mineração responsável, antes de qualquer coisa o poder econômico tinha de fazer um levantamento completo do que existe próximo da planta, para evitar impacto maior e a geração de pobreza das comunidades que não lucram nada da mineração.

São cerca de 600 produtores rurais no Vale. O temor deles, a essa altura chamado de medo mesmo, é o impacto de tudo isso, mormente em relação a ela, a Água. Sem ela, adeus alface, pimentão, feijão, mandioca, milho e muito mais.

Sem dúvida nenhuma, esses trabalhadores vão sofrer muito. Querem transformar o Vale do Bananal em “Vale do Lítio”. É o que dizem por lá.

Uma das moradoras, com ares de desânimo, diz que a empresa chega com o discurso de que vai aumentar a renda, criar empregos, “vai ser muito bom”. Na opinião dela, não passa de “promessa bonita para envenenar as pessoas”.

A maneira como as empresas chegam e vão se impondo é um comportamento agressivo, desrespeitoso e as ações do empreendimento são destruidoras do meio ambiente, e elas até parece que contam com gente capacitada na área de comunicação que possa servir de elo com a comunidade e dirimir dúvidas.

Disse um morador da área: “Chamei a Belo Lítio para conversar, mas a mineradora não respondeu nenhuma pergunta sobre os impactos, só disse que precisam deixar o território como eles encontraram, mas não garantem nada”.

Todavia, os moradores do Vale do Bananal são gente vacinada com os discursos colonizadores das empresas: “Nós sabemos que nos outros municípios, elas deixam a cava a céu aberto e nunca mais se recupera. A Água já é pouca e corre o risco de ser contaminada”.

O Vale do Bananal, como produtor de alimentos, cumpre com a missão de abastecer o município de Salinas quase todo, cerca de 40 mil habitantes.

O prefeito Joaquim Neres Xavier Dias - Kinca Dias - filiado ao PDT parece atento aos problemas que estão se desenhando na região e tratou de se reunir com moradores e irrigantes do Vale do Bananal com vistas a discutir o uso democrático da Água para que todos possam ser atendidos, cerca de 90 irrigantes.

As mineradoras que vão chegando enfatizam o quanto irão investir em seus projetos, é preciso entender bem isso. Investem milhões e até bilhões de reais nas empresas deles. Não significa que estão deixando reais ou dólares para os habitantes das comunidades – deixam só os impactos negativos. A eles interessam só os lucros.

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