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Feira de Medicina

A Irmã Mônica de Barros, de Porteirinha, cultiva plantas medicinais e as indica. Inclusive escreveu um livro intitulado “Acolhamos com amor tudo de bom que Deus nos dá”

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09-07-2024 às 09h:20

Mara Narciso*

Em 1980, o historiador e médico Hermes de Paula escreveu um livro magnífico chamado “A Medicina dos Médicos e a outra”. Trata-se da história da medicina tradicional em Montes Claros, com depoimentos de médicos contando sua relação com a profissão mais um caso médico pitoresco. A obra fala dos hospitais e clínicas da cidade, visita a medicina popular seguindo a afirmativa de que “de médico e de louco, todo mundo tem um pouco”, e acabou abrangendo várias vertentes do atendimento à saúde, e não à doença. Assim como não é risco de morte e sim, risco de vida.

Tempos bons, quando reinava absoluta a Medicina Alopática do “contraria contrariis curantur”, uma ciência na qual experimentos laboratoriais milhões de vezes reprodutíveis proclamavam os tratamentos eficazes. A base das pesquisas e o alvo do tratamento perseguiam a causa da doença.

A Medicina Homeopática do “similia similibus curantur”, com seus glóbulos, uma especialidade do SUS, que vi funcionar em uma otite média aguda, não tem meu crédito.  Coisa irrelevante, porque funciona, mesmo sem fé. Baseia-se, a grosso modo, em um processo de diluição e dinamização de substâncias originárias de animais, vegetais e minerais, que, ao fim do preparo, desaparecem, restando apenas a energia delas na água. Essa energia é o remédio. “Ministra ao doente doses mínimas do medicamento para evitar intoxicação e estimular a reação orgânica, tendo foco no indivíduo, e não na doença”.

A Medicina Fitoterápica é natural, baseada no poder curativo dos vegetais através de chás, emplastros, banhos, pomadas, xaropes e comprimidos. A Irmã Mônica de Barros, de Porteirinha, é conhecida no norte de Minas por cultivar plantas medicinais, indicá-las e ter escrito o livro “Acolhamos com amor tudo de bom que Deus nos dá” sobre o tema.

Exerci por 40 anos a Medicina Alopática na área da Endocrinologia e Metabologia, que trata a falta e o excesso de hormônios e oligoelementos. São indicados reposição de hormônios e outras substâncias, quando os exames laboratoriais sugerirem sua falta e, quando há excessos deve-se fazer bloqueio dos seus efeitos, ou retirada da glândula afetada, quando possível. A dose recomendada serve para normalizar e manter a taxa adequada no sangue. Também são oferecidas dietas.

A Endocrinologia perdeu espaço para a Nutrição, cujo estudo leva quatro anos, enquanto o médico endocrinologista ou o nutrólogo, vê a disciplina na residência médica. As abordagens terapêuticas também são diferentes.

A Medicina Ortomolecular promete, além de saúde, rejuvenescimento e beleza com superdoses de substâncias chamadas oligoelementos que existem em mínimas quantidades no organismo humano, assim como doses volumosas de vitaminas. “É a prática de pseudomedicina, que analisa a mineralogia capilar, avalia a intoxicação por metais pesados e recomenda o uso de quantidades de biomoléculas acima dos limites definidos pela medicina” – Wikipédia. Dá as mãos à Medicina Integrativa, porque faz exames e avaliações para detectar nutrientes e vitaminas em falta ou em excesso, no entanto não há limites para as doses repositoras. A quantidade de exames solicitados é absurda em preço e relativa inutilidade. Os remédios alopáticos costumam ser suspensos. Como promete algo impossível de entregar, parece ser pouco ética. Os prometedores da volta no tempo têm milhões de seguidores nas redes sociais, um público a cada dia mais voraz.

O mercado cresce com profusão de nomes, confundindo o público consumidor, que busca longevidade autônoma e prevenção de doenças graves como câncer e demência senil. As medicinas apresentam-se com denominações que se imbricam em vários pontos, e se contrapõem em outros. A cada dia tomam mais e mais uma fisionomia de seita, uma verdadeira conquista pela fé, e todas se dizem ciências confiáveis, baseadas em estudos em milhões de pessoas com resultados satisfatórios.

Medicina Chinesa: “utiliza a fitoterapia e outros medicamentos como último recurso para combater os problemas de saúde, porque, pela crença oriental, o corpo humano dispõe de um sistema sofisticado para localizar as doenças e direcionar energia e recursos para curar os problemas por si mesmos”; Medicina Funcional Integrativa “é uma abordagem abrangente e holística para a saúde que visa tratar a pessoa na totalidade, considerando questões físicas, mentais, emocionais e ambientais”; Medicina Holística ou Alternativa: “é a abordagem de cuidados de saúde que considera o paciente como um todo, integrando os aspectos físicos, emocionais, mentais e espirituais para promover o equilíbrio e a saúde” - Na verdade, acusa o doente por sua doença, como se fosse uma escolha; Medicina de estilo de vida: sono, exercício, relações saudáveis, gerenciamento do estresse, dieta vegetariana; Medicina Regenerativa: “representa uma mudança de paradigma, pois promete reparar, regenerar ou substituir células, órgãos e tecidos lesados, utilizando-se de princípios enraizados no conhecimento básico sobre a biologia das células-tronco, estudo de biomateriais e engenharia de órgãos e tecidos”. Outras denominações coexistem, inclusive a Inteligência Artificial na Medicina, capaz de propor soluções para problemas médicos com promessas cada vez mais atraentes.

O corpo da mulher, após a menopausa, apresenta uma queda considerável de massa óssea e muscular, que se amplia a cada ano. As mulheres fazem uso de vitamina D, cálcio e bifosfonatos para prevenir fraturas. O tratamento eficaz é acompanhado pela densitometria óssea, que mostra a qualidade dos ossos. Também são recomendados reposição hormonal, musculação, banhos de sol a pino por 15 minutos diários, com exposição de máxima extensão de pele. Evitar protetor solar nessa hora. 

Manoel Fernandes chegou com seu livro “Medicina: está tudo errado”, causando furor no mercado, revolucionando o comportamento feminino. Afirmou em palestra que bastam três minutos de sol nas pernas na parte da manhã, uso de leite e musculação, que o problema ósseo se resolve. Condena o uso de cálcio porque aumenta as chances de AVC e cálculo renal, assim como de qualquer suplemento ou vitamina industrializada, inclusive vitamina D. Bastam frutas e verduras. Falou de outros aspectos da saúde e conceitos já cristalizados, que são possíveis de seguir, porém, mudar o paradigma do uso de cálcio é um desafio.

Nessa queda de braço, diante de mulheres maduras alvoroçadas, cada uma dessas medicinas, certas da sua sapiência, faz valer a máxima: para uma mesma doença, quem tem mais de um médico e mais de uma medicina, não tem nenhum.

* Mara Narciso é jornalista, escritora e médica aposentada, integrante da Academia Feminina de Letras e Academia Montes-clarense de Letras.

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