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Catopelando ou catopezando?

Catopelando ou catopezando?

Caboclinhos indígenas, marujos portugueses e catopês negros, os últimos e destacam na estética devido as fitas coloridas, assim, quando se vai assistir ao cortejo se diz: “Vou ver os catopês”

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23-08-2024 às 08h:28

Mara Narciso*

Desde quando Montes Claros “montesclareou” nos versos de Georgino Júnior, enaltecedores dos marujos, caboclinhos e catopês com melodia de Tino Gomes, outros verbos surgiram, fazendo todo o sentido. Os autores divergem na autoria do neologismo, havendo mais de uma versão. Através de votação popular, “Montesclareou” tornou-se o Hino a Montes Claros, com toda justiça.

A data da criação das manifestações das Festas de Agosto é uma incógnita de 183 anos, para mais e para menos, dentro da faixa de erro. A região que viria a ser a Vila de Montes Claros de Formigas em 13 de outubro de 1857, décadas antes, viu catopês em seu território. Há registros sobre um passado de crença e festas apartadas em procissões enlameadas. Um padre teria juntado as procissões devotadas à Nossa Senhora do Rosário, São Benedito e Divino Espírito Santo em agosto, época de seca.

Entre caboclinhos indígenas, marujos portugueses e catopês negros, os últimos acabam se destacando na estética devido as fitas coloridas, assim, quando se vai assistir ao cortejo se diz: “vou ver os catopês”. Estar na festa é catopelar ou catopezar? Ambas valem, porém a primeira é mais original e sonora, além disso, sugere a alegria causando um atropelamento coletivo.

Não há motivo para ciúmes entre os grupos. Neste ano os dançantes estão em bom número, com figurino adequado, vistoso em beleza e harmonia. Para além do que se vê, como religiosidade, crença, devoção, reverência ao santo, rito religioso e ascendência espiritual, o lado humano se faz presente no encantamento, respeito aos brincantes, às crianças, ao esforço coletivo, ao batuque dos tambores e caixas, que conquistam corações acelerados por uma enxurrada de emoções, nas cores azul, vermelho, rosa, branco, fitas, brilhos, penachos, andores, imagens, flores, cocares, viola, arco e flecha, luzes e ventania.

Não se separa nada, nem mesmo a alegria da tristeza, porque, o hoje traz o ontem, que foi diferente, mas a marcha é a mesma, em caracol, indo e vindo de acordo com o comando do mestre. A longa espera de duas horas, seja do público, seja dos dançantes na Praça Dr. João Alves, onde acontece a concentração, é quando os ternos oferecem seus shows. Muito empenhados, se cansam, enquanto se divertem, tirando fotos e dando entrevistas, tudo antes de o cortejo sair.

Ali as crianças têm apoio com lanches, bancos e sombras. As verbas vêm das autoridades, políticos, festeiros e outras atividades monetizadas. Também há disputa de poder, divisões, invasões, fés questionadas e influência cultural, desvirtudes da fraqueza humana. A habilidade contorna esses fatos que não obstruem o andamento da festa, que supera uns e outros. Não devemos nos esquecer, no entanto, de Mestre João Faria e Mestre Zanza, este imortalizado em “Montesclareou”.

Os mestres morrem, a festa continua. A tradição é maior do que qualquer pessoa, porém, a memória não pode ser embaçada nem fugaz. Apenas os ventos de agosto passam, as festas religiosas permanecem, mudando aqui e ali, com a anuência dos mestres que tudo decidem.

Salvem as Festas de Agosto!

*Mara Narciso é jornalista, escritora e médica aposentada, integrante da Academia Feminina de Letras e Academia Montes-clarense de Letras.

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