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A troca de cartas entre Abraham Lincoln e Karl Marx

A troca de cartas entre Abraham Lincoln e Karl Marx

O economista Paulo Gala, conselheiro da Fiesp e economista-chefe do Banco Master, destaca em artigo o que ele chama de “a incrível troca de cartas entre Lincoln e Marx

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29-07-2024 às 10h10

Paulo Gala*

“A troca de cartas entre Abraham Lincoln e Karl Marx é um episódio fascinante na história do pensamento político e econômico do século XIX. Embora vindos de contextos muito diferentes e com abordagens distintas, ambos os homens compartilharam uma visão sobre a importância do desenvolvimento tecnológico e industrial para o progresso das nações.

Contexto Histórico

“Durante a Guerra Civil Americana, Karl Marx, um teórico revolucionário e crítico do capitalismo, acompanhava de perto os eventos nos Estados Unidos. Ele via a guerra como uma luta fundamental não apenas pela preservação da União, mas também pela abolição da escravidão. Marx acreditava que a vitória da União teria implicações significativas para a luta dos trabalhadores e o progresso social em todo o mundo.

“Abraham Lincoln, por sua vez, era o presidente dos Estados Unidos durante este período crucial. Ele liderava a nação em um esforço para manter a União e, a partir de 1863, com a Proclamação de Emancipação, tornar a abolição da escravidão um objetivo central da guerra.

“A correspondência entre Lincoln e Marx começou quando a Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT), também conhecida como a Primeira Internacional, enviou uma carta a Lincoln em 1864. A carta, escrita por Marx em nome da AIT, parabenizava Lincoln por sua reeleição e expressava apoio à sua causa.

Marx escreveu: “De tempos em tempos, as repúblicas emergem na história como exemplos brilhantes para a humanidade. O seu esforço para emancipar os trabalhadores é uma manifestação desse caráter elevado. Se a resistência ao poder escravocrata foi a nobreza dos escravos negros, a sua vitória foi a nobreza da sua causa e uma antecipação do futuro.”

Em resposta, Charles Francis Adams, embaixador dos Estados Unidos no Reino Unido, respondeu em nome de Lincoln, agradecendo à AIT pelo apoio e destacando a luta comum pela liberdade e pelo progresso humano.

A carta de Adams, datada de 28 de janeiro de 1865, dizia:

“O governo dos Estados Unidos não tem hesitado em acreditar que a sua causa e a da humanidade são as mesmas. Eles têm sentido que a sua batalha é a batalha da liberdade, e que seus sucessos estão conectados com a causa da emancipação dos trabalhadores em todo o mundo.”

“Embora Lincoln e Marx tivessem perspectivas diferentes – Lincoln como um político e Marx como um teórico revolucionário – ambos reconheceram a importância do desenvolvimento tecnológico e industrial.

Abraham Lincoln:

Lincoln acreditava que o progresso econômico e tecnológico era crucial para a prosperidade da nação. Ele defendia a construção de infraestrutura, como ferrovias e canais, e promovia a inovação tecnológica. A visão de Lincoln era que o desenvolvimento industrial não apenas fortalecia a economia, mas também oferecia oportunidades para o crescimento social e econômico, ajudando a promover a liberdade individual e a igualdade de oportunidades.

Karl Marx via o desenvolvimento tecnológico e industrial como uma força que moldava a estrutura social e econômica. Ele argumentava que a industrialização criava as condições materiais para o socialismo, pois aumentava a capacidade produtiva e preparava o terreno para a abolição das relações de produção capitalistas. Para Marx, o avanço tecnológico era uma faca de dois gumes: enquanto aumentava a exploração dos trabalhadores sob o capitalismo, também criava as bases para a emancipação e o progresso social.

A troca de cartas entre Lincoln e Marx simboliza um momento de reconhecimento mútuo entre dois homens que, embora operando em contextos muito diferentes, estavam envolvidos em lutas paralelas por liberdade e progresso. Ambos reconheceram que o desenvolvimento tecnológico e industrial era essencial para o avanço das nações, mesmo que tivessem visões diferentes sobre como esse progresso deveria ser alcançado e utilizado.

Legado

“Essa correspondência reflete uma intersecção única na história do pensamento político e econômico. Ela ilustra como ideias sobre liberdade, progresso e desenvolvimento econômico podem encontrar terreno comum, mesmo entre pensadores com abordagens muito diferentes. A troca de cartas entre Lincoln e Marx permanece um testemunho da interconexão das lutas pela justiça social e econômica no mundo moderno.”

* Graduado em Economia pela FEA-USP. Mestre e Doutor em Economia pela Fundação Getúlio Vargas em São Paulo, CGA-Anbima. Foi pesquisador visitante nas Universidades de Cambridge UK e Columbia NY. Foi economista, gestor de fundos e CEO em instituições do mercado financeiro em São Paulo. É professor de economia na FGV-SP desde 2002. Brasil, uma economia que não aprende é seu último livro. Conselheiro da Fiesp e Economista-chefe do Banco Master

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