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Qual o significado da vida

Qual o significado da vida

Qual é o seu sentido mais profundo, em face da impermanência? O significado dos acontecimentos é relativo e limitado ao universo de cada ser humano neste plano terreno

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03-09-2024 às 09h:26

Daniela Rodrigues Machado Vilela*

Viver não é tarefa fácil. Os desafios são diários. As respostas para as grandes questões que desafiam e inquietam os indivíduos são múltiplas, multifacetadas, incompletas e, por vezes, inexistentes. Nem tudo tem de fazer ou faz sentido, isso é uma questão posta. 

Quem já não se perguntou o que está fazendo com sua vida? Uma inquietação subjacente é a sensação de incompletude face à possibilidade da morte. Via de regra, todos os seres gostariam de ter mais tempo de vida e possuem em alguma medida expectativas quanto ao futuro. 

A vida humana se perfaz pelo inacabado, provisório, limitado. Há um projeto potencialmente em aberto. O significado dos acontecimentos é relativo e limitado ao universo de cada ser. A compreensão do mundo e dos fenômenos invariavelmente é condicionada pelas vivências, crenças e valores, pela fase de vida pela qual passa o indivíduo, por sua profissão, condição financeira, religião, posição político ideológica e assim por diante, ou seja, por uma infinidade de aspectos. 

Todas as coisas a serem conquistadas envolvem esforço. Os indivíduos são de algum modo artistas, e a obra de arte a se realizar é a vida que se vive. 

O que se deixa como legado? Qual o traçado a ser executado? A obra produzida ao longo de uma vida pode carregar traços de doçura, bravura, encantamento, e tantos outros vieses. Certo é, que as vidas são marcadas por dores e lutas, alegrias e risos, tudo é movimento e assim se desenha e redesenha. 

O homem pode ser astuto, inteligente, ou pouco dedicado, rabugento ou bem humorado, triste ou feliz, vive resmungando ou cantando. Caracteriza-se enquanto uma mistura de tudo, esta talvez seja a melhor forma de resumir os seres. Todos reúnem uma confluência de modos de ser e existir. Ninguém é permanentemente desta ou daquela maneira, todos estão em movimento na dança da vida. 

Ninguém é apenas desta ou daquela maneira, todos os seres estão em mutação constante, são indivíduos diferentes e iguais em alguma medida. Todos contam com a angústia de não saber quando será o momento do ponto final. Todo ser vivo caminha diariamente rumo a sua morte, mas não tem consciência disto. O sistema capitalista de produção é feito para que não se pense sobre a finitude da vida. O mercado de consumo vende a todos uma série de distrações e as questões existenciais ficam a cargo das discussões filosóficas. 

No capitalismo, os indivíduos necessitam ganhar dinheiro para prover suas necessidades diárias e rotineiras, pagar pelo pão da vida. 

Na obra “O sentido da vida: uma brevíssima introdução", seu autor Terry Eagleton que é professor de literatura inglesa da universidade de Oxford reflete no sentido de que nem tudo possa ou deva ser respondido, que é estranho supor que tudo deva ter uma resposta. Que isto, porém não elimina que em parte da sua vida o homem reflita sobre as aflições e dores humanas.

É uma armadilha atribuída pelo capitalismo e vendida pelo “marketing” limitar toda a dinâmica da vida à construção de um legado material. Porém, é condição “sine qua non” possuir recursos materiais mínimos, pois sem corpo não há vida e para manter o corpo físico recursos financeiros são indispensáveis para que se custeie a existência. 

Talvez o sentido real do existir não possa ser definido, esteja sujeito a constante mudança. Todos os sonhos e projetos se circunscrevem a uma fase da vida. Os propósitos, desejos e sonhos vão sendo reelaborados, reconstruídos. 

Alguns acreditam ter uma missão existencial de vida, para outros o indispensável é viver o dia a dia da melhor maneira possível, lidando do modo mais aperfeiçoado com o imponderável. 

Talvez, o sentido da vida seja o que cada ser humano de seu modo particular conceda a sua existência, de modo que, o mais importante é viver cada qual segundo sua própria ilusão.

A vida necessita ter uma razão, um propósito, uma direção, pois uma existência esvaziada de significado passa a ser um fardo.

Viver comporta inúmeras contradições, é complexo. Cabe aos seres humanos uma busca por valores mais humanísticos de materialização do justo, do bom, da quietude, da temperança, da bravura dentre inúmeros outros atributos. 

A linguagem nomeia as coisas e o entendimento desta perpassa pelos vieses de compreensão linguística, o sentido da vida passa pelo entendimento do indivíduo sobre o mundo e seus fenômenos. 

A vida humana é dilemática. Se tudo está em movimento, todo o tempo, tudo se constrói e desconstrói, surgem novos paradigmas, posto ser efêmero o ato de existir. Na mitologia Hindu, os deuses Brahma, Vishnu e Shiva representam essa ideia de criação, preservação e destruição, ou seja, tudo passa por ciclos, desde o micro até o macro, tudo é movimento constante. 

Há uma necessidade imperiosa de se criar espaços de reverberação de bons hábitos e desconfiar de uma ilusão de que possa haver uma perfectibilidade humana. Negar a realidade e lançar-se em abstrações idealizadoras é pouco desejável. Sempre existem

alternativas para se viver de modo mais aperfeiçoado, para além da mera sobrevivência material.

Não se deve lançar mão de um viver calcado tão somente na performance. Buscar um projeto de vida que faça sentido e concretize sonhos, este é o caminho: transformar-se. Questionar eticamente seus valores, inquietar-se diante da dor humana. Enfim, as opressões se fazem de muitas maneiras, é essencial não as tolerar.

Sentidos a vida pode ter vários ou talvez não tenha sentido nenhum, apenas o sentido concedido por cada indivíduo no seu universo particular. 

Às vezes a vida é absurda, muitos vivem na miséria e na penúria, afinal a história humana é carregada de exploração, escassez e dor. A realidade por vezes é bruta. É, porém, implausível pensar só em sofrimento. Tudo é múltiplo. 

Há sentido no cosmos? O que é a vida? O ser humano teria o distanciamento necessário para fazer estas reflexões? Posto que este não consegue se situar fora, pois se sair da vida estará morto e, portanto, todo seu ato de observação é parcial e comprometido.  

O sentido da vida se encontraria numa finalidade comum ou seu significado é particular e atribuído a cada ser de acordo com sua própria escala de valores? É geral ou particular? 

Enfim, cada um age em busca da sua própria satisfação, o sentido da vida é peculiar ao universo de valores de cada qual ou pode ser atribuído a um propósito maior de vida que molda a todos e os leva adiante. 

Assim, cabe ser irrequieto face à infelicidade ainda que não se saiba o que é felicidade. 

Deve-se ter presente consciência da finitude de tudo, inclusive da própria existência. Ter um ímpeto interior de plantar o bem para que se colha os frutos do que foi semeado, pois não há colheita sem semeadura. Quem planta vento não colhe temperança.

Que os indivíduos façam sempre o melhor uso dos recursos disponíveis para que sejam felizes. Não parece haver permanência inclusive no sentido da vida. 

Caros leitores, façam suas escolhas, usem seu ferramental e boa partida neste jogo da vida! Um alerta assertivo é que a vida vai passar, saiam da contemplação e direcionam-se para a prática. O que importa é a práxis. Talvez, o maior sentido da vida seja sua falta de sentido, mas a vida vai passar, como tudo. Então superem-se a si mesmos. Um brinde à vida e sejam felizes!

*Doutora, Mestra e Especialista pela UFMG. Atualmente, realiza Estudos Pós-Doutorais pela também UFMG, com financiamento público da F\pemig (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais). Professora convidada no PPGD UFMG (Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal de Minas Gerais). Pesquisadora com ênfase nos estudos sobre o Direito do Trabalho, Filosofia do Direito e Linguagem.

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