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Falência Federativa

Daí a frente sempre, atento a estas observações, pude perceber que o povo brasileiro é sério, trabalhador e constrói sua parte. E isto por todo território nacional, ressalvados algumas praias

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01-09-2024 às 10h:10

José Altino Machado*

Em minha vida andei aprontando troços inacreditáveis. Respeitando limites impostos pela modéstia, acredito que outros teriam que viver mais tempo para realizarem um tantão do que cheguei a alcançar.

Mas, para mim, destes inúmeros feitos, nada se compara ao fato de praticamente conhecer todas as fronteiras de meu País.

Numa delas tornei-me vaidoso em ser brasileiro junto a outros patrícios de extremado valor. Javari...Um morrote, onde quem lá vai diz que ali é o fim do Brasil, mas quem lá está, diz que ali é mesmo o começo. Estava em companhia do escritor também mineiro, Mario Palmério. De avião, lá chegando, me arranchei em seu barcão, o Frei Gaspar de Carvajal.

Fumava demais naquela época. A curiosidade fez com que andasse horas por um selvático varadouro, com o leal companheiro de estrada, o Mauro, para atingir o acidente fronteiriço. Lá chegando, um casebre, uma família e uma meninada danada. Logo me pareceu que esta seria a diversão única do casal, fazê-los.

Outra distração possível, uma bosta de radiofonia fornecida pelo governo para vigília de fronteira. (Antigamente isto existia, hoje atividades outras toleradas não a permitem). Porém, orgulho senti, prazer tive em ler no portal da casa à tinta, escrito à mão, SUCAM- 0001. Me apequenei. Se ali buscava a aventura do conhecimento, e talvez até poder dizer que ali fui, outro ou outros lá foram em cumprimento de seus deveres e responsabilidades.

Daí a frente sempre, atento a estas observações, pude perceber que o povo brasileiro é sério, trabalhador e constrói sua parte. E isto por todo território nacional, ressalvados algumas praias e trios elétricos. Cabendo também, havendo exceções, ressalvas maiores à classe política.  Embora irresponsavelmente temos continuado a elegê-los. A começar por um deles, que tão logo eleito, fudeu a (linguagem do Lula) SUCAM, extinguindo sua marca de confiança nacional, duramente conquistada.

Uma união marital, que deveria ser estável, mas não o foi, levou-me ao extremo sul, no fim ou também começo do Brasil. Santana do Livramento. Bem onde há uma avenida, sem guardas, que separa os uruguaios da gauchada. De sacanagem por lá existe um cassino fenomenal: a gente só perde e ele só ganha. E o brasileiro ainda morre de rir.

Rodando pelos pampas e porque não em outros estados vizinhos, bem se nota uma total diversidade cultural e bem notável operosidade em todos eles.

Seguindo ao Nordeste, tradições e culturas mais diferentes ainda. Em comum a extrema dedicação ao trabalho. O melhor exemplo, Paraíba/Pernambuco, cuja divisa se vai por centenas de quilômetros, deixando perceber, entretanto, comportamentos, instrução e socialização inteiramente diferentes. Se em São José do Egito-PE, descendo-se a serra, em Patos-PB, encontra-se outro povo.

Ao Norte, Amazônia. Aí o pau tora. No Amazonas, Manaus, uma hoje esquisita e eterna zona franca, tem-se tornado verdadeira zona. Um autêntico gueto da indústria paulista onde até o próprio crime, tem um fenomenal poder.

Apesar de poderes outros permitirem, o continuado privilégio do empresariado externo, o amazonense do interior trabalha, produz e muito, não se permitindo contaminar com o comércio da esperteza.

Pará, um único estado em três. Por sinal, estado único com reais possibilidades de se tornar república economicamente independente, tantos seus recursos naturais.

Num paradoxo, a capital Belém, ocupa a segunda posição nacional de população carente em estado de moradores de rua. Tudo isso, convivendo com diferente cultura de arraigados costumes europeus do ancião Portugal.

No entanto, a grande Belém tem segurado a organização e mando político a todo o estado, pela densidade numérica de eleitores. Enfim, por distâncias ou mesmo cultura citadina, também por lá, ao se manter de costas a seu enorme e produtivo interior, o Estado torna-se seu maior provedor,

Ao Sul, o fenômeno de município, São Felix do Xingú, com o maior rebanho bovino do mundo. Também no mesmo sul, uma das maiores riquezas minerais do planeta, incluindo aí a famosa Serra Pelada, ainda com vizinhança da maior e mais lucrativa empresa do País. A instalação desta empresa, no Pará, custou caríssimo a Nação. Ainda assim, foi expropriada por política de favorecimentos particulares, quando também de graça, levaram as minas das Gerais. Outro fenômeno, este com brutal demonstração de impunidade.

Bem ao rumo onde o sol se põe, está o magnífico e valioso vale do Tapajós e muita gente. Bem onde o próprio governo, que a tudo abrange, busca gente para engrossar os urbanos sem teto da capital.

E muito mais outros, exemplo de explosões de trabalho, como Rondônia, Acre, onde culturalmente mandam as mulheres. Todos com culturas e costumes bem diferenciados, mas um só seguro espírito de respeitosa brasilidade.

Até aqui, muitos poderão pensar que esqueci ou mesmo que não conheço São Paulo. Sim, aquele mesmo que imigrantes de todos os cantos do mundo e nordestinos construíram, sem participarem da política; aliás, menos um...

Numa democracia mambembe, onde a casa legislativa de representantes de diferentes setores nacionais, surfa em ondas de interesses econômicos, este mesmo São Paulo, que bem conheço, maior colégio eleitoral, tem brincado irresponsavelmente há tempos, com eleições.

Com maior bancada na Casa, conseguem sempre privilégios a seus interessados fiadores, bloqueando ainda a aspiração de outros.  E por aí se foi a grande citada mineradora, a pujante fábrica de aviões que recebera em sua criação estímulos financeiros compulsórios de todos os declarantes do imposto de renda.

Para o saco o interesse nacional.

Com maior gravidade, se dão ao prazer em brincar com as urnas, enviando a brasiliense Ilha da Fantasia, mensagens de puro deboche aos Estados Federados. Começando com rinoceronte, o Cacareco, o macaco Simão, (este acho que foi cópia dos cariocas ao exemplo) primam sempre em nomear a Câmara de ordenação social e construtora de regimentos e leis, totais despreparados que sequer conhecem o País e seu povo. E até quando um mineiro, juntamente a luminares economistas, instituiu o plano real, creditaram sua aplicação, sem pudor, ao paulista “honoris causa”.

Bagunçando mais com tudo, permitem todos, a prática do compadrio, delegando poderes de gestão a despreparados. E vai ficando tudo por isso mesmo...

A Nação hoje carece e com urgência, nova Assembleia Constituinte, para melhor parcimônia na organização administrativa e emprego do tesouro nacional, assim como devolução não só dos poderes gerenciais, mas do exercício promotor da educação de cada um em acordo a costumes e tradições regionais próprias.

A falência deste ajuste federativo, deixa claro, que ao se manter, hoje, essa odiosa centralização política e administrativa, principalmente em conluio ao judiciário, é urgente sua necessidade.

Assim começou o País, com capitanias poderosas, assim ELE se tornou grande, e o bem conhecendo, muito me orgulho de sua gente e dele.  Embora desacreditado, nosso povo trabalha e muito. Exceto alguns... 

A continuar este sistema, algo torna-se evidente, como costuma dizer o fruto de enxerto “paulobuco” na presidência, o Brasil vai se fuder...

Belo Horizonte/Macapá 

*José Altino Machado é jornalista

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