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Santa Casa de BH, modernidade eterna

Santa Casa de BH, modernidade eterna

José Maria de Alkmim obteve fartas e inéditas doações de recursos. O empreendedor tornou realidade aquele local de saúde que foi, e continua sendo, a maior realização na medicina pública da cidade

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31-08-2024 às 09h09

Cristiano Francisco Alkmim França*  

Inaugurada em 8 de setembro de 1899, quando a nova capital mineira completava tão somente dois anos, a Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte possuía apenas um modesto edifício, na Rua Álvares Maciel, composto de poucos leitos e uma única enfermaria, que prestava, na modalidade “Hospital Barraca”, serviço médico para a população carente.

Todavia, coube ao renomado político mineiro, José Maria de Alkmim, a partir do ano de 1938, quando assumiu a provedoria daquela Instituição, idealizar e levar a efeito uma das maiores obras dessa natureza na América do Sul. Tratava-se da construção do magnífico complexo hospitalar filantrópico, no quarteirão da Praça Hugo Werneck, em 1946, a qual leva hoje o seu nome.

Seu estilo, extremamente modernista para aquela época, foi projetado pelo arquiteto e urbanista italiano Raffaello Berti.

Compunha-se de 13 andares (com quatro grandes alas, cada um) e capacidade para 1180 leitos. Destinava-se exclusivamente à assistência médica, além de assegurar a agregação dos demais setores administrativos e de apoio, passando a figurar entre os cartões postais da recente capital.

Teve, nesse contexto, a perspicácia visionária de organizar a Fazenda Jequitibá, como fonte espontânea de alimentação, para abastecimento direto dos usuários da Santa Casa. Sem tal iniciativa, os serviços assistenciais gratuitos seriam inviáveis.

Usando de seu prestígio, adquirido ao longo da notável vida pública, José Maria de Alkmim obteve, junto a grandes empresários de vulto nacional na época, fartas e inéditas doações de recursos. O empreendedor tornou realidade aquele local de saúde que foi, e continua sendo, a maior realização na medicina pública da nossa cidade.

Portanto, a trajetória de vida do Dr. Alkmim teve vínculos profundos e sólidos com a própria história da Santa Casa, pois foi o seu “Comandante Maior”, num período inimitável de 36 anos.

Seus efeitos têm-se constituído em divisor de águas, entre si e os demais estabelecimentos do ramo, desde os fundamentos daquela instituição.

Outro permanente desafio, conferido a Alkmim, fortaleceu-se, mantendo a exclusividade dos serviços da Funerária da Santa Casa, na remoção e na preparação de obituários. O monopólio fundamentou o meio primordial de custeio da operacionalização da Casa. O eminente político, por várias vezes, teria defendido esses interesses em vitoriosas batalhas judiciais.

O Dr. Alkmim jamais se deixou abater pelas constantes dificuldades orçamentárias da Santa Casa. Os objetivos complementares sempre foram, durante sua majestosa provedoria, uma fonte inesgotável de otimismo, perseverança e, principalmente, de solução.

Pelas coincidências do destino, coube-nos, na condição de sobrinho-neto desse honorável senhor, a incumbência de efetuar tão belo e profícuo relato de sua existência. Elevamo-nos por ter sido, embora com tenra idade, testemunha de algumas de suas brilhantes conquistas. Ele não conhecia limites de qualquer natureza, quando se tratava de ser solidário para com as pessoas.

No mês de dezembro de 1973, quando ainda conversava, Alkmim falou a um dos seus médicos, conforme relato do jornalista Bandeira de Mello: “Doutor, queria pescar”. Era sua alegria, dentre poucas, além da caça, numa época em que essa era permitida. Entretanto, só em Bocaiúva (nos cerrados bobos, aonde de vez em quando passa uma codorna), confessou, logo, entre a tristeza e a poesia, antes que o médico dissesse alguma coisa: - “Está bem, eu sei que é impossível, mas, sabe, doutor, segurando um caniço, sozinho, num rio ou numa lagoa qualquer, longe de tudo, há sempre um homem sonhando. Eu queria sonhar. Agora.”

Resistiu à doença até às 22h25min do dia 22 de abril de 1974, momento em que veio a falecer. Descansou, ciente de que a passagem pela provedoria marcou, sobremaneira e de forma incontestável, sua vida *Cristiano Francisco Alkmim França é especialista em Controle Externo pela Escola de Contas do TCEMG/PUC Minas e em Direito Público pela Faculdade de Direito de Sete Lagoas/MG

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