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Microcrédito às mulheres é negócio para mineradora Sigma

Microcrédito às mulheres é negócio para mineradora Sigma

E uma maneira de despertar sonhos de muitas delas, sonhos que podem vir a se tornar em pesadelos, caso não sejam bem sucedidas e ainda terem de pagar o empréstimo

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15-04-2024 às 09h:33

Direto da Redação

A população do Vale do Jequitinhonha, representada por seus prefeitos e vereadores, a esta altura da exploração que a região sempre sofreu, desde os tempos da coroa portuguesa, tinham de estar mais atentos em relação aos empresários e políticos vindos de fora.

Cuidado, eles se utilizam de versões semelhantes às utilizadas pelos portugueses. Vêm com agrados, migalhas na realidade, e levam montanhas dos minerais, que, a rigor são do Município, que não existiria sem povo, gente humana, que tem as suas necessidades e acaba sendo usada por quem tem interesses outros.

Se o leitor do Diário de Minas quiser, podemos citar aqui, “an  passant” (porque o assunto principal é a mineradora canadense Sigma Lithium, e a metodologia dela para deixar quem questiona imaginando coisas) o exemplo dos empresário das monoculturas de eucalipto, que vêm gerando problemas de saúde de toda monta enquanto eles lucram bilhões, usando o solo impiedosamente, envenenando as águas dos rios com o uso massivo de agrotóxicos, que, como o próprio nome induz, é veneno – ve-ne-no. E é por isso que Capelinha, na região, tem alto índice de ocorrência de câncer. Mas isso é tema para outra série.

Retomando o caso da mineradora canadense Sigma Lithium, só para a empresa poder instalar os monstrengos que a sua parafernália de explorar mineral é bem parecida, abre o seu leque de exploração ambiental em 105 hectares. E, principalmente, cortou toda a vegetação nativa de uma área de 60 hectares.

Só para o leitor ter uma ideia, foram 422 árvores em 36 hectares. O ambiente padeceu.

O Vale do Jequitinhonha como um todo já sofre com a escassez de água, e o empreendimento da mineradora canadense possui capacidade para extrair 150 mil litros de água por hora do Rio Jequitinhonha, principal curso d’água da região, água poluída. Numa região onde a população está sobre a terra rica, mas a gente materialmente pobre e desassistida, por outro lado, rica de talentos e devia ser mais bem assistida pelo governo mineiro, que se mostra interessado no Vale do Lítio do que com as necessidades da população.

Outro exemplo de uma coisa que parece ser, mas não é, o tal de “microcrédito para mulheres empreendedoras”. Parece ser uma demonstração de bondade, se não fosse ao final “um negócio” para a empresa canadense. É um empréstimo, que gera juros para a mineradora. A pretensão era alcançar 10 mil mulheres, mas até agora só chegou a um mínimo de 500. Elas receberam emprestado até R$ 2 mil, a juros mensais de 0,5% e com prazo de carência de quatro meses.

Em maio, o conselho da Área de Proteção Ambiental (APA) da Chapada do Lagoão, em Araçuaí, anulou uma permissão concedida à mineradora Sigma para sondar a quantidade de minério presente na região. A chapada está a cerca de 30 quilômetros da mina Grota do Cirilo, e é hoje cobiçada por mineradoras que veem potenciais reservas de lítio na área.

Além da mineradora Sigma que faz um estrago na região, o governador empresário Romeu Zema (Novo) está na expectativa de o Vale do Jequitinhonha receber até final de julho, outra canadense, a Lithium Ionic, em Araçuaí, além de Itinga e Salinas, cidades da região.

O pensamento do governador é só econômico porque não se ouve da parte dele nenhuma notícia sobre o que vai fazer pelo social. Ninguém pensa o quanto essas mineradoras vão transformar a vida e o ambiente das populações afetadas.

“Se a mineração chegar, com certeza, com o tempo, precisaremos sair. Lutar com quem tem dinheiro é remar contra a maré”, disse uma moradora.

Na chapada estação sob preservação permanente 5 mil hectares e área de preservação ambiental de 24 mil hectares. Isso significa 13% do território de Araçuaí. E a Emater – Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais – relata haver 139 nascentes na região, que pertencem à bacia do Rio Jequitinhonha. Tudo isso está correndo o risco de ser comprometido pela mineração que só tem sabido abrir buracos sem se importar nem respeitar as populações ali envolvidas.

Só uma das nascentes garante o abastecimento de 27 famílias dos quilombos Giral e Malhada Preta. Simar Gonçalves de Sá, 56, líder das comunidades, que desde 2012 as famílias bombeiam água do local. “Essa nascente é a riqueza do nosso lugar. Sem ela, jamais conseguiríamos estar em nossas casas. Temos medo de a mineração secá-la”, diz.

Antes de criarem a estrutura de bombeamento, os quilombolas precisavam lavar roupas na nascente e buscar baldes d’água com ajuda de gados.

O comerciante Pacífico de Sá, 62 anos, mora na comunidade há 37 anos e o temor dele é ter de sair dali. “Sou pai de seis filhos e criei toda a minha família aqui. Se a mineração chegar, com certeza, com o tempo, precisaremos sair. Lutar com quem tem dinheiro é remar contra a maré”, afirma.

(Esta é a segunda de uma série).

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Sou de Leme do Prado próximo de Araçuaí. Parabéns por defender o Vale do Jequitinhonha.

 

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