10-03-2024 às 08h:18

Direto da Redação

Vamos imaginar uma situação esdrúxula: são 5h da manhã e um homem com roupa esportiva, calçado de tênis, corre pelas ruas em sua rotina diária. Poucas pessoas nas ruas a essa hora da manhã de tempo nublado a anunciar chuva a qualquer momento.

O homem adentra à Praça Raul Soares, na região Central de Belo Horizonte. Em meio à praça, de repente ele sente uma mordida de cachorro na batata da perna direita e, surpreso, cai no chão. E mais surpreendido ainda ele fica quando uma matilha debruça sobre ele.

O homem recebe 23 mordidas em várias partes do corpo e só consegue se desvencilhar dos cães com ajuda de outras pessoas. Mesmo assim, mordido pelos cachorros de todo jeito, ele, em vez de buscar socorro em um hospital, para pensar os ferimentos, se encaminha para o local de trabalho.

Na essência, o que a princípio foi abordado como imaginação de uma situação esdrúxula, de fato aconteceu. O cenário é o mesmo, e o homem não é uma pessoa comum. Ele tem status de autoridade de poder e não o identifico propositalmente, porque embora tenha tentado várias vezes contato para ouvir de viva voz a sua versão dos fatos, não obtive êxito.

O que ora é narrado foi contado por amigos dele, que se diziam assustados com a situação. E olhe que esta não é a primeira vez que acontece ataque semelhante.

Levado ao hospital por seus assessores, o homem recebeu o soro antirrábico e uma série de outros cuidados e, dedicado que é às importantes funções exercidas, em vez de ir para casa, ele retornou ao trabalho, onde participou de uma reunião relacionada com as questões municipalistas, tendo em vista as eleições municipais para vereadores e prefeitos.

O homem é mais uma vítima da falta de um departamento de Zoonose na Prefeitura de Belo Horizonte. Digo falta porque o departamento simplesmente não funciona, senão a cidade não estaria infestada de cães abandonados. O telefone da Zoonose é acionado e ninguém atende, quando não acontece de estar ocupado.

O prefeito Fuad Noman, que pleiteia a reeleição, ficaria em polvoroso se soubesse quem é a ilustre autoridade vítima de uma matilha de cães abandonados, que poderiam estar sendo cuidados pela Prefeitura de Belo Horizonte e, no entanto, estão nas ruas por culpa única e exclusiva de quem os abandonou.

Os cães não têm culpa alguma de terem mordido uma autoridade, o problema é que se existe um departamento de zoonose na Prefeitura da capital, tinha de estar atuante, e, no entanto, perceptível é o comportamento da PBH, que, compulsoriamente, delega essa função de cuidar dos cães abandonados às Ong’s, como se a responsabilidade fosse delas e não do Município.   

Toda gente de bom senso sabe que o manejo dos animais de rua é de responsabilidade dos municípios, mas são poucos os que possuem legislação sobre o assunto.

Edna Cardoso Dias, integrante da Comissão dos Direitos dos Animais da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-MG), defende a criação de diretrizes gerais sobre o controle populacional de animais de rua.

“Embora o Estado não possa fazer uma lei obrigando as cidades a terem um programa específico, é possível haver uma lei estadual que trace regras gerais para as cidades”, acredita.

Já na década de 1980 do século passado, sabia-se que BH tinha 30 mil cães abandonados. É possível que hoje em dia o número deles tenha aumentado, porque de lá para cá, certamente, eles se procriaram e outro tanto deles foi abandonado pela irresponsabilidade das pessoas que os tomam para criar e se livram deles na primeira oportunidade, com requinte de desumanidade.