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Palacete de histórias foi ao chão

Palacete de histórias foi ao chão

Em Montes Claros, o último bastião da Rua Doutor Santos era grandioso, com pórticos de colunas colossais, pilastras despojadas de capitéis, belos lustres nas fachadas e no interior

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02-01-2024 às o7:07h.

Direto da Redação

Na calada da madrugada do dia 30 para 31 de janeiro de 2023, de um momento para o outro várias pessoas, inclusive o técnico em meio ambiente, José Ponciano Neto presenciaram a demolição do palacete em estilo neoclássico, na Rua Dr. Santos, 214, no Centro de Montes Claros (MG).

Quem assistiu ficou com dor no coração e até teve a impressão de que ali faziam “algo proibido”, mas, não, quem mandou demolir tinha licença da Prefeitura e do Conselho Municipal do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural de Montes Claros, como informou Ponciano em artigo publicado no jornal local, “para demolir o palacete histórico com área de 800 metros quadrados”.

Foi Levi Pimenta, mestre de obras dos bons, o construtor do palacete, que sempre chamou a atenção dos transeuntes da rua Sr. Santos. Pimenta executou a obra para a família de Dominguinho Braga. Adiante, o imóvel foi comprado pelo empresário Luiz de Paula Ferreira, sócio de José Alencar, que mais tarde foi vice-presidente da República. O palacete foi construído na década de 1940, quando Montes Claros recebia gente do exterior, no tempo dos jogos de azar eram permitidos.

Como Ponciano descreve, o palacete era “grandioso, com pórticos de colunas colossais, pilastras despojadas de capitéis, belos lustres nas fachadas e no interior, janelas e portas de ferro fundidos, ladrilhos cerâmicos, nobres mármores e granitos”.

Só que a retroescavadeira usada para demolir o palacete não entendia de nada disso e avançou sobre o imóvel tendo demolido primeiro as grades, que, por só serem reforçadas, teve mais dificuldade. O restante foi tombado sob os olhares dos que, boquiabertos, não entendiam o porquê de estar o desmanche acontecendo.

Sem dúvida, a memória antiga de Montes Claros ruiu em pouco tempo e na Rua Doutor Santos, a principal da cidade, perdeu tudo que tinha de lembranças de um tempo marcante dos primórdios da urbe que hoje é uma metrópole seguindo celeremente para a casa do meio milhão de habitantes.

Como comentou Ponciano, “sem compaixão nem piedade foram destruídos sem retirar quase nada - me parece que somente os lustres de cristal estilo francês foram poupados”.

Ponciano diz ter notado que “transeuntes indignados" acompanhavam a destruição das portas, janelas, colunas e telhados. Eu particularmente montes-clarense nato, assistia à cena com certa dor no coração, pois, desde criança conheço aquela mansão; lamento profundamente que a memória arquitetônica da cidade esteja se perdendo”.

Ele, como cidadão nascido ali afirma que “desdenhar a história e o patrimônio cultural de Montes Claros, é compactuar com aqueles insensíveis aos valores da memória”. Era um imóvel de grande valor histórico, sem dúvida.

O palacete era o último bastião da Rua Doutor Santos, que, ainda recentemente, ficou também sem a casa, em estilo clássico de Senhorzinho Batista, na esquina de Rua Dom Antônio Pimenta e o charmoso prédio do antigo Hotel São José, que hospedava histórias mil, na Praça Coronel Ribeiro.

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