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Uma passada pela “Pedra da Tocaia”

Uma passada pela “Pedra da Tocaia”

Ele era um personagem controvertido. Era como anjo e demônio. Respeitado. Temido até. Mandou fazer a primeira estrada, trouxe para Grão Mogol o primeiro carro e também o telégrafo

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26-11-2023 às 10:10h.

Alberto Sena*

Quem vem ou quem sai de Grão Mogol encontra, a uns 10 km do Centro da cidade, uma enorme pedra historicamente batizada com o sugestivo nome de “Pedra da Tocaia”.

A maioria das pessoas passa pela pedra sem nem mesmo imaginar o quanto ela guarda em si de histórias mais. Era dali que os pistoleiros executavam as ordens do coronel Janjão, explicava Geraldo Frois – o Gê Frois, uma das poucas pessoas de Grão Mogol que sabiam da história desta que é uma das mais históricas das cidades históricas brasileiras.

Coronel Janjão era um personagem controvertido. Era anjo e demônio encarnado, mas respeitado. Temido até.

Ele mandou fazer a primeira estrada, levou para Grão Mogol o primeiro carro e também o telégrafo, unindo Cristália e Botumirim a Diamantina.

Mas não admitia desafetos. Mantinha duas tocaias, uma ao Norte e a outra ao Sul, personagem central deste texto sobre um tempo em que Grão Mogol regurgitava diamantes.

Diante da enorme e famosa “Pedra da Tocaia” imaginando a quantidade de eventos tenebrosos que ali se deram, a imaginação fértil convida a criar imagens mil ao ponto de pensar e até achar ter ouvido ecos dos estampidos, os pipocos das armas de fogo, e viu vítimas tombando “Pedra da Tocaia” abaixo, os corpos se resvalando nos arbustos ainda hoje insistindo em crescer ali na aridez pétrea.

Tantas são as histórias, tantas as emoções, como diria Roberto Carlos, que se pode viver em Grão Mogol, a partir da sapiência dos causos que proliferam por lá.

O que falta é registrar toda essa história da cidade antes que desapareça. Dizem que a história de Grão Mogol é mais conhecida lá fora, na Europa, do que dentro da própria cidade.

Significa dizer, em outras palavras, quem vive lá fora sabe valorizar o patrimônio de Grão Mogol e sua história mais do que os grãomogolenses nativos.

Chega-se à conclusão de que se as pedras areníticas tivessem proliferado na Europa, o mundo inteiro a essa altura estaria visitando a cidade e região para conhecer as suas belezas.

Os europeus não são Mandrake, mas sabem fazer mágica, sabem transformar lendas e histórias literárias em euros, como é o caso dos contos alemães dos Irmãos Grimm, em Bremen, como por exemplo, a história dos “Músicos de Bremen”, quatro animais – cavalo, cachorro, gato e galo – que espantam uma quadrilha de assaltantes cada um emitindo os ruídos característicos.

Ao contrário de muitas das histórias irreais dos europeus e com as quais eles ganham dinheiro o ano inteiro, as histórias de Grão Mogol são reais. Aconteceram de fato, como os casos do controvertido Coronel Janjão, que mandava e desmandava em Grão Mogol quando o diamante brilhava quase à flor da terra e até, pasmem, incrustado numa pedra enorme batizada de “Pedra Rica”.

A “Pedra da Tocaia” é a única sobrevivente dos acontecimentos ali registrados. É a única testemunha viva dos crimes ali perpetrados.

E sabendo que as pedras não são 100% duras, segundo atestou o cientista inglês Stephan Hawking, (as areníticas devem ser menos duras ainda) pode muito bem ser que um dia elas venham a contar pormenorizadamente os acontecimentos testemunhados com os olhos pétreos e até, se possível, mostrar as cicatrizes das balas nela ricocheteadas.

Sim, porque as pedras de Grão Mogol falam. Algumas até gritam. Só precisamos aprender a interpretar a linguagem das pedras. E por meio da beleza delas fazer com que os grãomogolenses lucrem reais, verdadeiramente reais, turisticamente falando.

A “Pedra da Tocaia”, até pelo tamanho, chama a atenção e valeria sinalizar o local com uma plaquinha contendo pelo menos um pouco da história dela. Seria como retirar casos da “arca da velha”. 

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