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Ares do Cerrado envenenados pelo agronegócio

Ares do Cerrado envenenados pelo agronegócio

O cádmio é um dos metais pesados presentes no glifosato, um tipo de herbicida usado para inibir o crescimento de plantas espontâneas.

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01-11-2023 às 08:45h.

Direto da Redação

Enquanto Rússia e Ucrânia travam guerra fratricida, na Eurásia; Israel e Hamas, idem, explodem o Oriente Médio, por aqui, por esse Brasil continental, especialmente no Cerrado, o conflito é talvez mais mortífero do que as bombas que caem do espaço e destroem bens materiais, porque o veneno está no ar, mata seres humanos, outros animais e insetos.

A guerra travada no Cerrado é silenciosa e as armas não matam as vítimas de uma vez a cada disparo, porque antes precisam entrar pelas narinas e pela boca e na base do conta gotas, vai destruindo por dentro as pessoas, principalmente o sistema nervoso.

Do que mesmo estamos falando? Dos agrotóxicos, que, depois de detectados no solo e nas águas de rios, agora poluem os ares do Cerrado. E como boa parte dele se encontra em Minas, estamos abordando o assunto, porque de fato poucos são os que se acham ocupados com essa questão, apesar de ser de tamanha importância.

Por meio de uma pesquisa desenvolvida pelo Instituto Federal Goiano (IFG), um grupo de pesquisadores, dentre eles a doutora em Microbiologia Luciana Vitorino, constatou as consequências dessa guerra travada pelos empresários do agronegócio e os “terríveis” insetos que ameaçam os seus lucros.

Só que eles pensam exclusivamente em si, talvez ignorem (ou não) que os venenos lançados de avião estão, de pouco em pouco, causando estragos maiores, pois envenenam os consumidores também, além dos insetos, pássaros e animais de modo geral.

A doutora explica o interesse de ir mais a fundo na pesquisa depois de haver encontrado cádmio em líquens nas bordas de quatro áreas lá de Rio Verde (GO). O cádmio é um dos metais pesados presentes no glifosato, um tipo de herbicida usado para inibir o crescimento de plantas espontâneas.

Os pesquisadores descobriram uma relação entre a morte de líquens e a exposição ao glifosato. Afinal, o que são líquens? São organismos formados por fungos e algas e relacionam-se entre si. Sensíveis, são os primeiros a sentirem a poluição do ar. Numa mata, liquens nos troncos das árvores são sinais de ar puro.

Foram feitos levantamentos em 2017 em áreas de conservação localizadas em propriedades privadas de cultivo de commodities.

Novamente em 2018. Os pesquisadores ficaram mais preocupados ainda. Foram encontrados líquens com metais pesados provenientes do glifosato também no Parque Nacional das Emas.

O parque é uma Unidade de Conservação de Proteção Integral, com restrição de atividade econômica. Deveria ser improvável achar resíduos de glifosato nestes organismos vivos.

A contaminação se dava por “efeito à deriva”, o veneno era levado por meio das águas subterrâneas e de correntes de ar, para outras áreas além do ponto da pulverização, mais comum em Goiás. E assim a dispersão acontece.

O glifosato compromete o processo de fotossíntese dos líquens, processo essencial para a sobrevivência.

O estudo atual não exime outras espécies do risco de estarem contaminadas também pelo glifosato. No caso, a resposta dos liquens é mais rápida, algo que pode demorar a aparecer em outras espécies. A dispersão do produto venenoso para áreas de conservação fica confirmada por meio desse estudo de grande importância.

(O comentário é da Redação: os empresários do agronegócio responsáveis por essa dispersão cometem um ato que transfere para outros um mal, enquanto ficam eles com os bônus. Sofrem as populações, o ambiente, e os empresários exaltam os lucros em dólares na exportação. Falta uma dose de reflexão a respeito.).

O glifosato é apontado pelo Ibama como o agrotóxico mais vendido no mercado brasileiro, com quase 220 toneladas por ano. Apenas no estado de Goiás, onde está localizado o município de em Caiapônia (GO), local de onde foram colhidas amostras, por ano são vendidas quase 20 toneladas por ano.

É espantosa a conclusão do estudo que deve ser levado a sério por todo brasileiro consciente do presente que espera cada ser vivente. O Cerrado é responsável por 73,5% de todo o volume de agrotóxicos comercializados no Brasil, de uma ponta a outra.

É que milhares de hectares há de monoculturas de commodities, com a maior fronteira agrícola do agronegócio brasileiro.

O pior, nesse ramo de negócio venenoso é que a má qualidade do ar não é consequência única. Na composição do glifosato há substâncias que são provavelmente cancerígenas.

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