Português (Brasil)

Ler, ler e ler literatura para manter a cabeça azeitada, é o que devemos fazer

Ler, ler e ler literatura para manter a cabeça azeitada, é o que devemos fazer

Lembro-me, como se fosse hoje, do primeiro livro lido: “Os músicos de Bremen”. Foi ali pelos sete anos, em Montes Claros. Em seguida “As mais belas histórias”, de Lúcia Casasanta

Compartilhe este conteúdo:

19-08-2023 - 09h:15

Alberto Sena

Posso estar enganado, e se eu estiver enganado, por favor, me corrijam: leitura não interessa a muitos dos nossos jovens de hoje. Ler livros, literatura. Pergunto: quantos livros você leu neste ano? Se a resposta for nenhum, a minha constatação estará corroborada. Se você disser que leu um, apenas um, isto é muito pouco, precisa ler mais.

Acredito: esse desinteresse por parte dos nossos jovens está intrinsecamente relacionado com a internet. Estamos em convívio com uma geração de internautas, jovens que preferem se comunicar via informática e a se entreter por meio das várias opções tecnológicas oferecidas, enquanto os bons livros da literatura clássica dormitam, talvez, na estante.

Lembro-me, como se fosse hoje, do primeiro livro lido: “Os músicos de Bremen”. Foi ali pelos sete anos, em Montes Claros. Em seguida “As mais belas histórias”, de Lúcia Casasanta, lido, relido e trelido. Outros livros vieram em seguida, como os das coleções de Monteiro Lobato e de Malba Tahan; “O pequeno príncipe”, de Antoine de Saint Exupéry, veio em seguida.

Este último bateu fundo na alma. Hoje tive a grata surpresa de saber que uma colega de trabalho, já adulta, em vias de se casar, confessou ter lido esse belo livro de Exupéry, recentemente. O livro dele já vendeu dezenas de novas edições. É um livro eterno. Mas o que mais me chamou a atenção foi o fato de a colega ter lido só recentemente “O pequeno príncipe”.

Mas nunca é tarde. Aliás, antes tarde do que mais tarde, sempre se poderá ler o livro desse aviador francês, precursor do serviço postal lá para as bandas do Oriente Médio. Ele escreveu também “Terra dos homens”, outro livro que até hoje corre o mundo e, claro, deve render fundos para a família do escritor.

O que podemos apreender de uma leitura dos clássicos da literatura nenhum banco de escola formal servirá de termo de comparação. Livros incríveis foram escritos muito antes de nós e são tão surpreendentemente atuais que nos levam à seguinte reflexão: “Como é que pode um ser humano escrever um livro deste?”

Por exemplos: “A divina comédia”, de Dante; Dom Quixote, de Cervantes; Germinal, de Émile Zola; “Odisséia”, de Homero; Ulisses, de James Joyce; “Cem anos de solidão”, de Gabriel Garcia Marques; “Grade Sertão Veredas”, de João Guimarães Rosa; “Os Sertões”, de Euclides da Cunha, entre tantos outros.

Sobre “Os sertões”, trata-se de uma grande reportagem. Muitos devem tê-lo na estante, mas nem todos se deram ao trabalho de lê-lo. Ouve-se dizer: “O livro é muito pesado, principalmente na primeira parte”. Há discordância: “Os Sertões” é um dos livros mais bonitos da literatura brasileira (universal), em que pese à temática baseada no massacre de Canudos.

Massacre. Este é o vocábulo apropriado. Ao mesmo tempo, lendo-o se pode constatar: de fato, “o sertanejo é um forte”. Tudo começou a partir de uma denúncia esfarrapada feita por um juiz baiano contra o Antônio Conselheiro. O exército foi acionado e por vezes consecutivas acabou afugentado pelos bravos sertanejos.

Nas fugas, os soldados abandonaram as armas, canhões, principalmente, e sem querer municiavam os bravos sertanejos, lutando com espingardas, até que na última investida do exército, houve o massacre. Aquilo nunca poderá ser chamada de “guerra”. Aquilo foi um morticínio, e quem se der ao prazer de fazer a leitura do Euclides verá: foi um conflito estúpido, entre irmãos. Uns mataram uns aos outros sem dó nem piedade.

Grande deve ser o prazer de ler. Lembro-me de uma vez em que passamos uma semana num sítio em Juramento, na Grande Montes Claros, e levamos seis livros para ler. Houve quem dissesse: “Vocês não irão aguentar ficar lá esse tempo todo”. Quem disse isso não conhecia nada da nossa disposição. Em seis dias os livros já estavam lidos.

Passamos sete dias estirados numa rede debaixo de uma frondosa goiabeira. Um lugar cheio de música natural. Ora vinha o vento, cálido; ora eram os passarinhos, sanhaços, principalmente. Eles aportavam na goiabeira e usufruíam do prazer de comer goiaba ainda no pé. Nós também, goiaba e literatura.

Outro dia, os cientistas descobriram: nós devemos fazer três coisas para mantermos a cabeça azeitada: “Ler, ler e ler”. A gente deve atentar bem para isto, a não ser que alguém queira abrir a porta para aquele “alemão”, que costuma entrar sem bater com os nós dos dedos na porta.

*Editor Geral do DM

Imagem da Galeria Frequentar livrarias é uma maneira de manter vivvo o encontro e o prazer de ler literatura
Compartilhe este conteúdo:

 

Synergyco

 

RBN