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Tudo fluiu naturalmente no bate papo com o doutor Gusmão e o prefeito de Diamantina

Tudo fluiu naturalmente no bate papo com o doutor Gusmão e o prefeito de Diamantina

Nesse dia do encontro marcado na casa dele, em Diamantina (MG), numa quinta-feira, me pareceu estar diante de um homem simples. E. ao mesmo tempo, erudito.

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14-07-2023 - 08h:41

Alberto Sena*

Costumo dizer que faço leitura das coisas de modo geral, por meio do olhômetro e o sensorial. Faço principalmente leitura de gente. Diante do ilustre doutor Sebastião Natanael Silva Gusmão, médico, neurocirurgião solicitado pelo Brasil e o mundo, pude lê-lo ao vivo e na própria casa, em Diamantina (MG).

Os cabelos são prateados e desgrenhados, olhos escuros perscrutadores, nariz proeminente, sorriso fácil, tudo isso compõe o seu semblante de pessoa brilhante por meio de quem se pode aprender e, melhor, apreender um pouco de sua sapiência.

Nesse dia do encontro marcado na casa dele, em Diamantina (MG), me pareceu estar diante de um homem simples. E. ao mesmo tempo, erudito.

Homem que tem gana e vive sempre com vontade de apreender as coisas. Estudioso, daqueles que gosta de ir fundo na história, e se alimenta da arte, da música, dos costumes dos seus antepassados e do viver.

Ele me pareceu assim: uma pessoa que vive vivendo e não morrendo. Inda bem! Diamantina e o mundo ganham com o doutor Sebastião salvando vidas.

O companheiro Soelson me dizia sobre ele, antes de eu conhecê-lo pessoalmente, que se tratava de um profissional que resolvera problemas neurológicos e de coluna vertebral de quem já se achava desenganado.

Como foi informado na primeira parte deste encontro, sentados à mesa da casa do doutor Sebastião, à vontade, na cozinha, naquele momento, ele se encontrava ali e em Diamantina, em carne e osso. Havia acabado de chegar da Santa Casa.

Dois dias depois, eu o reencontrei em Belo Horizonte e tive a alegria de almoçar com ele, junto aos companheiros do Diário de Minas, Soelson Barbosa Araújo e Tito Guimarães Filho, ocasião em que o doutor já estava de mala pronta e embarcaria para a Turquia.

Doutor Gusmão é um ser humano iluminado; de uma versatilidade impressionante!

Ele só não tem, acredito eu, o dom da ubiquidade, isto é, de estar ao mesmo tempo em dois lugares, porque não é santo como o Antônio de Pádua era e tinha essa capacidade, mas voa por meio das asas de um avião internacional a qualquer momento.

Quando a gente acha que ele está em Diamantina, não, viajou para São Paulo ou se encontra em Londres, em qualquer parte do planeta.

Ele é possuidor de luz própria.

Recordo-me, o pintor Pablo Picasso disse certa feita, toda pessoa pode ser genial, n’alguma coisa, basta dedicar-se a ela. O doutor Gusmão é assim, se dedicou à neurocirurgia e tornou-se um profissional genial no que faz e noutras atividades também envolvendo as artes.

Foi ele quem, com recursos próprios, criou o laboratório de Neurologia de Diamantina, que se tornou referência no mundo inteiro. Vejo-o como médico, como escritor, como colunista do DM, como amante das artes, historiador ocupado em preservar as tradições como a dos tropeiros diamantinenses.

Nesse encontro pude perceber a relação de amizade entre o doutor Sebastião Gusmão e o prefeito Juscelino Brasiliano Roque, nascido no dia da inauguração de Brasília (DF). Foi por isso que, ao final do nosso bate papo, propus que eles dessem uma demonstração dessa amizade para eu sacar uma foto e eles me atenderam com grande satisfação.

Um abraçou o outro, no interior da biblioteca do doutor Gusmão, onde pude sentir, atrás de nós, o irradiar da energia contida nos livros ali ordenhados de forma escorreita.

Antes de adentrar ao bate papo, licença peço para resgatar um pouco de um texto assinado por ele, intitulado “Fluir de tudo”, que, inclusive, “an passant” o doutor Sebastião se referiu. Acho que o artigo tem a ver com o que aconteceu naquela noite.

A conversa nossa fluiu naturalmente, sem que tivesse sido pré-elaborada uma pauta. Simplesmente fluiu, e foi melhor assim.

Doutor Gusmão escreveu no artigo: “Esta força construtiva, imanente ao próprio universo, é denominada de Conatus por Spinoza, de Vontade por Schopenhauer, e de Vontade de Potência por Nietzsche. Na filosofia idealista esta força tem origem transcendental, fora do universo”.

FINAL DE BATE PAPO

A nossa conversa fluía regada a poucas latas de cerveja com   alguns quitutes para tira-gosto, tudo comedidamente, só mesmo para molhar a palavra, como o dono da casa havia sugerido.

Transcrever “ipisis litters” o que aconteceu naquela bendita cozinha, não é o caso, senão vira livro. Mas, como diria o genial Salvador Dalí, “em rápidas pinceladas”, o prefeito de Diamantina criticou a “burocracia terrível” para realizar o que gosta e ama, que é servir, mas ao ser vencida, ele se vê diante de outra questão, que é a comunicação. E com o jeito que lhe é característico no falar, às vezes enfático, ele resolve as dificuldades falando com as pessoas de maneira simples traduzindo a técnica de modo que o interlocutor entenda.

O prefeito e o doutor Gusmão elevaram a Vesperata aos píncaros da Cordilheira do Espinhaço.

“Posso dizer” – ele disse – “é a coisa mais maravilhosa que se pode ver e ouvir no mundo. Eu estava na Áustria, lá e em nenhum outro lugar possui algo tão lindo”, disse doutor Gusmão.

Juscelino, com sua empolgação relacionada com a administração da cidade, tratou logo de fazer o seu marketing dizendo que “aqui, em Diamantina, tudo está dando certo” e enalteceu a parceria que diz ter com o governador Romeu Zema, de Minas Gerais, mormente no tocante ao setor de Turismo.

Ele e também o doutor Gusmão sabem que Diamantina tem identidade própria e jamais, em tempo algum, pode prescindir dela porque simplesmente não deve “matar o passado”. Ao contrário, usa-o como degrau. “Lembrando-o sempre cultuamos o passado, mas a nossa ambição é pelo futuro”.

Neste ponto do bate papo me recordei do meu professor de História do curso ginasial, em Montes Claros, Pedro Santana, que dizia: “Quem não conhece o passado não consegue vislumbrar o futuro”. E ainda corre o risco de repetir os mesmos erros do passado, como disse o doutor Gusmão.

Em verdade, o tempo é um só, nós é que estamos sujeitos ao tempo e ao espaço. Mas não se deve viver de passado, com saudosismo, o que pode adoecer as pessoas.

No caso do prefeito, a gente nota que ele gosta de falar de sua origem, para realçar a situação a que chegou, de duas vezes prefeito de Diamantina. Embora tenha passado apertos lá na infância, o esteio da família dele foi a cultura, a música, serestas, o pai dele e JK, além da dança, ao ponto de ex-presidente receber o epíteto de “Pé de Valsa”.

Na opinião de Juscelino, ele não correu o risco de tornar-se um marginal (ele usou a expressão “bandido”) porque teve uma base cultural e isso o impele a preservar tudo numa administração eficaz que justifica a quantidade de prêmios recebidos pela prefeitura. Foram tantos, que, de cabeça, ele não tinha a conta.

Foi nesse momento que o doutor Gusmão citou Nietzsche: “Sem a música a vida seria um erro”.

Só para reforçar Nietzsche música é fundamental e é uma pena que os sons estranhos estão sendo ouvidos aos quadrantes e são de um mau gosto de causar desgosto. “Música é alimento”, disse o doutor.

Foi então que dei o meu pitaco lembrando a italiana Maria Montessori, educadora por excelência, que questionava a forma como se deu a educação no mundo. Segundo ela, fomos todos educados para disputa de um contra o outro, o que na ponta final é sinônimo de guerra, quando tínhamos de ser educados para o amor, fraternidade, amizade e demais sentimentos positivos.

No entanto, os humanos precisam se humanizar. Ao que o prefeito disse que a religião dele é servir e ele interpreta o servir como uma oração. Quando pede ao doutor Gusmão para atender alguém que precisa, o que ele faz é caridade. E a gente sabe que a caridade é a plenitude da Lei de Deus. Quem pratica a caridade está fazendo tudo que Deus quer que façamos.

Em novo momento de exaltação a Diamantina, o doutor Gusmão disse e é a mais concreta verdade, “Diamantina é muito maior do que o seu tamanho. Em termos culturais e de qualidade de vida, o município é do tamanho de uma cidade não de cem mil habitantes, mas de meio milhão.

“A nossa Universidade”, disse o prefeito e o doutor Gusmão apoiou em uníssono, oferece 54 cursos e isso não é para qualquer lugar não. E ele emendou: “Diamantina é Atenas do Norte”. E lembrou de que parentes seus eram ferreiros e o doutor até ouviu o ruído característico do martelo do ferreiro na bigorna: “tem-tem-tem...”. Daí o seu gosto pelo Memorial do Tropeiro.

As oportunidades estão por todos os cantos em Diamantina. A cidade é vibrante e tem de tudo. “Arcebispado, seminário, foi enumerando o prefeito, e em seguida, disse que é um pecado fazer comparações, o que acaba por gerar revolta.

Foi então que o doutor Gusmão disse duas palavras que me remeteram a um dos seus artigos famosos e publicados no DM, “Tudo flui”. Um parágrafo dele foi transcrito no início deste texto.

Ele disse isso porque o assunto era o fim do mandato do prefeito e então o doutor opinou afirmando que “tudo acaba, tudo flui”.

O importante é que são atitudes que irão levar a uma vida melhor para o povo. A gestão positiva se não for trabalhada tem problemas também, ele disse.

Nós estamos pagando para ver as questões climáticas. A base da vida está na bíblia e o importante é a prática, não tem mistério. Palavras sem obra é tiro sem bala, disse Gusmão.

Gestão tem riscos como dizia JK, se a pressa é inimiga da perfeição, com ele dizia, “a lentidão é inimiga do progresso”. Nenhum outro presidente fez tanto para o Brasil, afirmou o prefeito.

O importante é “plantar o jequitibá”, que se torna adulto aos 60 anos. A gente pode não pegar a sombra dele e os seus frutos, mas outros irão usufruir e é isso que importa.

Muito mais foi dito no nosso bate papo, mas a essência de tudo aqui foi exposta, de modo fluído, como apregoa o artigo do doutor Gusmão. Ele é muitas vezes maior do que o seu próprio tamanho físico. Para o bem dos seus, dos mineiros, do Brasil e do mundo.

*Editor Geral do DM

Imagem da Galeria O doutor Gusmão e o prefeito Juscelino Roque são amigos de longa data e parceiros
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