Chica da Silva soube usar dos seus dotes em defesa própria e dos seus iguais
Fui entrando e me deparo com ela e ao comprovar o deslumbre dela, entendo o porquê de o contratador de diamantes João Fernandes ter se apaixonado
29-06-2023 - 13h24
Direto de Diamantina
- Com licença, Dona Chica da Silva!
Parece que ela não está em casa (na Praça Lobo de Mesquita, 266, no Centro de Diamantina), mas vamos entrando porque o cheiro aqui dentro é de quem é de bem e a gente pode sentir isso na pele aos arrepios.
- Imponente a casa da senhora, Dona Chica, nunca vi tanto bom gosto – ousei dizer, mas não ouvi nada em resposta, voz nenhuma.
Fui entrando e, enquanto isso, em um voluteio aos tempos de antanho, deparo-me com ela e ao comprovar o deslumbre dela, entendo o porquê de o contratador de diamantes João Fernandes de Oliveira ter se apaixonado com tanta força e volúpia pelas curvas dela.
Quem já estudou história sabe, Chica da Silva era mulher escrava como qualquer outra na época. Vai daí, surgiu na vida dela um João e ela, até mesmo em legítima defesa, aproveitou-se dos seus dotes e fez a cabeça e o resto do contratador, que, evidentemente, estava montado na grana, a julgar por tudo feito pela belezura dela.
- A essa altura da história da senhora, ó Dona Chica, seria interessantíssimo capturar no espaço cósmico um diálogo seu com o contratador, só para avaliar a sua estratégia de prender o homem.
Cheio de curiosidade, fomos nos informando sobre o cuidado que o Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) tem com a casa de Chica da Silva, dada assim, ó, de presente pelo tal contratador. Desde o ano de 1949, já foi restaurada quatro vezes.
Interessante é que na casa há exposição permanente de Marcial Ávila, em óleo, na qual ele desvenda o imaginário popular a respeito de Chica da Silva. “A cada conto aumentam um ponto”, não é assim? É, sempre!
E o jardim-pomar da casa de Chica da Silva? É feito de degraus e de pedras umas sobre as outras. Nele costumava ela caminhar às tardes, nos fundos da casa.
Sem dúvida alguma, o prédio chama a atenção pelos espaços amplos com sacadas. Delas a Dona Chica apreciava a torre da Igreja de Nossa Senhora do Carmo, ela mandou construir para que os escravos também participassem das missas.
- Depois dessa visita, ô Dona Chica, só tenho a agradecer pelo mergulho na história e em suas estórias.