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Uma coleção de mais de 300 garrafas de cachaça deixa o santo na expectativa da dose dele

Uma coleção de mais de 300 garrafas de cachaça deixa o santo na expectativa da dose dele

O empresário Paulo Calábria, enquanto ouve a leitura de um poema da esposa poetisa, Evany Calábria, experimenta uma e aumenta a coleção, em Montes Claros, no Norte de Minas.

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23-05-2023 - 08h:19

Alberto Sena*

Domingo foi o dia dedicado à cachaça*. Mais do que uma atividade econômica, a chamada “água que passarinho não bebe” faz parte da vida e memória dos mineiros. A cachaça produzida em alambique é patrimônio cultural imaterial de Minas Gerais por meio da lei estadual de 2007.

Paulo Calábria colecionador de cachaça, marido da poetisa Evany Calábria é um camarada simpático, que tem uma bonita história de vida com a esposa. Ao conhecê-la, ele perguntou a ela:

- Você quer namorar comigo?

Ela disse:

- Não.

Ele contra-atacou:

- Quer casar comigo?

Aí a conversa foi outra. Paulo nasceu em Belo Horizonte. Quando vivia com a família, ainda solteiro, morava no Bairro São Lucas e viveu os bons momentos da capital da década de 1970. Certamente, nós cruzamos um pelo outro naquela bendita época, apesar do regime militar, ditadura, que a mim, e aos demais companheiros, estimulou a criatividade na redação de jornal, para burlar a censura prévia.

Mas, mudando de pau para cavaco, como se costuma dizer, Paulo possui uma coleção de cachaça de tirar água na boa de qualquer apreciador ou cachaceiro contumaz, daqueles que trocariam qualquer coisa por uma dose. A essa altura, a coleção já deve estar chegando às 400 garrafas. Elas ficam numa prateleira e estão empoeiradas. E é assim que devem ficar.

Para mostrar uma garrafa, ele pegou-a com todo cuidado na tampinha.

Paulo possui duas delas na coleção que valem preço de ouro. Quanto? Ele respondeu “uns R$ 700 cada”.

São cachaças produzidas na fazenda do então vice-presidente da República, José de Alencar – Sagarana e Maria da Cruz nome manuscrito por ele – às margens do Rio São Francisco. Fazenda que conheci um dia, ao fazer reportagem para o caderno , década de 1990.

Quem nos apresentou a coleção de cachaça de Paulo foi Evany, que é tão cuidadosa e amorosa que tratou de catalogar cada garrafa organizando tudo no computador e depois fez um caderno ilustrado. “E Paulo não bebe”, disse ela, certamente de brincadeira porque ele bebe, não as da coleção, mas tem o estoque reservado para certas ocasiões.

Fui brincar com ele que havia experimentado a cachaça das garrafas de coleção, ele me olhou com um olhar de quem se surpreendeu por alguns instantes, ao que tratei logo de dizer ser uma brincadeira. Em verdade, cachaça bebo só muito de vez em quando. Aprecio vinho tinto seco. Cerveja? Só se não tiver vinho.

Com Paulo e Evany tivemos uma tarde memorável. A poeta serviu-nos bolo feito por ela, de castanhas, pão de queijo, e outras quitandas. Foi um encontro tão marcante, que Paulo adiou para o dia seguinte uma viagem que faria naquela tarde.

Ficamos de retornar um dia para observamos a quantidade de passarinhos que o casal alimenta. Dois pássaros-pretos são os maestros da sinfonia em uníssono com o canto dos sabiás. Eles passarinhos, parafraseando o poeta Mário Quintana. E nós também – Paulo, Evany, Sílvia e eu.

Naquele dia, não se bebeu nada a não ser café acompanhado de bolo e pão de queijo, afinal não dá para misturar trabalho com outra coisa.

*Metade das dez cidades do ranking de produtoras da bebida no é mineira. Destaque para Salinas, com 16 cachaçarias. O município foi reconhecido pelo Governo Federal, em 2018, como a “Capital Nacional da Cachaça”, e também com o selo de Indicação Geográfica, do Instituto Nacional da Propriedade Industrial, em 2012.

Imagem da Galeria A coleção de cachaça de Paulo Calábria vai crescendo a cada dia; já beira as 400 garrafas
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