Português (Brasil)

Pelo menos três momentos raros podem ser vistos e lidos na foto de Drummond com Bandeira

Pelo menos três momentos raros podem ser vistos e lidos na foto de Drummond com Bandeira

Um era fã do outro e os dois acabaram amigos. Bandeira 15 anos mais antigo do que Drummond, que fez um belo poema para Bandeira, e o leitor analisará abaixo.

Compartilhe este conteúdo:

07-04-2023 - 18hh:15

Alberto Sena*

Esta foto, de autoria desconhecida retrata, pelo menos três momentos raros.

Enumero como primeiro, a presença do poeta Manoel Bandeira, com um livro debaixo do braço esquerdo.

O segundo, a presença do poeta Carlos Drummond de Andrade.

E a terceira, Drummond rindo de mostrar os dentes.

Bandeira fala alguma coisa com um gesto de mão. Talvez algo engraçado.

Talvez se possa ler nessa foto um quarto momento, Manoel Bandeira envelhecido, aparentemente debilitado.

Convém lembrar que de uma leitura da foto, momento estanque, não se pode tirar conclusões. Ninguém sabe ao olhar uma foto, tanto anos depois, o que acontecia antes e o que aconteceu no depois.

Drummond e Bandeira eram amigos. Bandeira 15 anos mais antigo do que Drummond, e os dois se tornaram amigos.

Primeiro, ele era fã, e depois que conheceu Bandeira, ficou amigo. Do peito.

Faça ideia o tipo de prosa e de versos que esses dois lançaram nos ares em seus encontros frequentes.

A essa altura, é bom contar aos leitores, Drummond dirigiu o Diário de Minas impresso, ali na Praça Raul Soares, e como nos disse o escritor montes-clarino, Manoel Hygino, que também trabalhou no DM impresso (e agora é um dos articulistas neste diariaodeminas.com, br) a melhor fase do jornal de décadas atrás, foi quando dirigido por Drummond.

Só para se ter uma palinha dos encontros dos dois, transbordantes de versos – e alguns reversos, certamente – veja, leia, ouça se puder, um dos mais bonitos escritos de Drummond sobre Bandeira:

“Tua violenta ternura,

tua infinita polícia,

tua trágica existência

no entanto sem nenhum sulco

exterior – salvo tuas rugas,

tua gravidade simples,

a acidez e o carinho simples

que desbordam em teus retratos,

que capturo em teus poemas,

são razões por que te amamos

e por que nos fazes sofrer...

 

és tu mesmo, é tua poesia,

tua pungente, inefável poesia,

ferindo as almas, sob a aparência balsâmica,

queimando as almas, fogo celeste, ao visitá-las;

é o fenômeno poético, de que te constituíste o misterioso portador”.

Não fosse essa foto de Drummond sorrindo, não um sorriso labial, mas de mostrar os dentes, continuaríamos com a impressão de que era ele o poeta que não ri.

*Editor Geral.

Imagem da Galeria Qualquer um de nós gostaria de estar presente em um encontro de Drummond com Bandeira
Compartilhe este conteúdo:

 

Synergyco

 

RBN