Sigma oferece 2000 reservatórios de captura de água de chuva para agricultores do Vale
Em viagem rumo a Araçuaí, passando por Diamantina, a impressão que o viajante tem é de ver na paisagem a maior monocultura de eucalipto do mundo.
Direto da Redação
29-03-2023 - 08h:34
Alberto Sena*
O leitor do Diário de Minas já deve ter percebido o formato do Jornalismo aqui praticado. O que se está fazendo aqui é uma maneira diferente do que é visto.
Neste formato, a notícia é comentada, enriquecida com reflexão e não raras vezes o jornal sugere soluções dos problemas tendo em vista o bem-estar, primeiro da população mineira, razão de ser do seu título.
Então, dentro desse princípio, nós, o DM fomos a Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha – digo nós, Gumercindo Lellis, consultor agrícola e ambiental, e eu – passando pela estrada de Diamantina.
Gumercindo conhece a estrada como a palma da mão, mas o repórter aqui, não. Era a primeira vez que passava por ali e, então, confesso-me estarrecido com a quantidade de eucalipto que toma conta da área, no Vale do Jequitinhonha, que chamei de “laranja chupada”.
Não é novidade para ninguém que o Vale e o Norte de Minas são regiões semiáridas e os eucaliptos lá plantados ressecam ainda mais a terra e sem dúvida mudam o clima.
Porque o custo da terra era menor, os empresários do ramo calcularam na ponta do lápis, antes, muito antes do surgimento da informática, e viram que é negócio lucrativo estar a dezenas de quilômetros de onde operam os seus fornos, os eucaliptais, lugares de um silêncio tenebroso, onde não se ouve um pio de passarinho e servem de pousadas para as gralhas que atacam lavouras.
Tudo isso aconteceu porque o poder econômico, aliado aos governos, precisavam saciar a fome das fornalhas das usinas siderúrgicas e guseiras, então destruíram as florestas nativas para encher os caminhões que trafegavam – e ainda trafegam – como se fossem edifícios ambulantes de tão carregados de sacos de carvão. Desta feita, carvão de eucalipto.
Depois de destruírem o suficiente de matas nativas, eles vieram com o discurso de “reflorestamento” quando estavam fazendo monocultura de eucalipto, que chupa a água dos lençóis freáticos. Um exemplar de eucalipto precisa consumir 30 litros de água por dia.
É por isso que o Vale do Jequitinhonha, hoje, é mais seco e o calor está cada vez maior. E a escassez de água. Nessa temporada, em Araçuaí, os termômetros chegaram a 42 °C.
O jornalista Sérgio Vasconcelos, natural de Araçuaí, onde vive e dirige o Jornal Gazeta e uma rádio, confirmou a informação e acrescentou ter sido ele quem fritou um ovo no asfalto.
Depois de tudo comentado, se pode dar o real valor ao investimento que a empresa Sigma Lithium quer fazer para construir nos municípios de Araçuaí e Itinga dois mil reservatórios de captação de água da chuva, a fim de atender pequenos agricultores durante o período seco.
Para isso, a Sigma irá investir R$ 4,5 milhões e isso, segundo a CEO Ana Cabral Gardner, “é a maior iniciativa do gênero no País. Importante é que essa mesma iniciativa ajuda a conter enxurrada, previne a erosão e acumula água. Trata-se de bacias escavadas no solo de cada proprietário participante, de 2,5 m de profundidade e área de 160 m².
Para criar uma imagem diametralmente oposta à dos eucaliptos que infestam o Vale do Jequitinhonha, impunemente, melhor imaginar os dois mil reservatórios que a Sigma quer construir em propriedades de agricultores.
Os exemplos dados até aqui pela Sigma, que fará seu primeiro embarque de lítio para o estrangeiro em 1° de maio, deveriam ser copiados também pelos empresários usuários das terras do Vale do Jequitinhonha. Levam madeiras e deixam os tocos para rebrota às comunidades em sua volta.
É imprescindível pensar e praticar isso, porque a trilogia ESG veio para transformar, porque as mudanças climáticas estão aí e a Humanidade, a essa altura, está na tábua da beirada do abismo.
*Editor Geral.