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Falando de alegria, desabafo e tristeza, mas consciente da beleza e profundidade do filme

Falando de alegria, desabafo e tristeza, mas consciente da beleza e profundidade do filme

Digo isso face à projeção do filme “U ômi qui casô cua mula”, na capital, que contou com o apoio da Fundação Municipal de Cultura de Belo Horizonte – e de pessoas de fino trato.

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04-03-2023

09h:13

Eduardo Brasil*

A exibição – de ótimos resultados – “d’U ômi qui casô cua mula”, em Belo Horizonte, trouxe de volta um incômodo que, acredito, todo arteiro daqui que faz jus ao nome, carrega consigo: a questão do apoio municipal à cultura em Montes Claros (não só municipal, é verdade, mas essa é outra história).

Mais que “um incômodo", diria, um problema de difícil solução, já que esse apoio não existe, para sermos diretos e francos. Às vezes, falta até o que chamamos de “apoio moral”.

Digo isso face à projeção do filme na capital, semana passada, que contou com o apoio da Fundação Municipal de Cultura de Belo Horizonte – e de pessoas de fino trato como Luiz Trópia, Amilton Costa, Alberto Sena (Diário de Minas), Selma Dias – e tantas outras que elogiosamente consideraram “Us Catrumanus” merecedores da oportunidade de mostrar, no tradicional Cine Santa Tereza, o primeiro longa genuinamente montes-clarense, produzido e rodado no sertão norte-mineiro.

Quanta distância a consciência artística dos parceiros das alterosas, gestores e amantes de arte na acepção exata da palavra, guarda da dos nossos gestores, que sequer assistiram ao filme, ignorando a importância de um produto nativo, inédito na história da nossa cultura.

Penso que tal comportamento poderia até ser compreendido se partisse de outras pessoas – talvez por estarem com preguiça de sair de casa –, não deles! Deles, nunca!

Pois é. Sequer assistiram, ainda que o filme tenha sido exibido ao longo de dez dias, no Centro Cultural Hermes de Paula, prédio vizinho da Secretaria de Cultura, onde... trabalham.

Meu Deus! Quanta indiferença!

Quanta diferença, ainda, em relação à vizinha cidade de São Francisco, onde os gestores de cultura promoveram o filme, em praça pública, dentro do nosso “Projeto Cinema Catrumano”, concebido para levar entretenimento ao povo, de graça, nas suas praças e ruas. Projeto que levaremos brevemente a outras cidades, como Corinto, Curvelo, Cordisburgo, a festivais como os de Trancoso e de Arraial d'Ajuda, na Bahia. E até mesmo a eventos internacionais, como a Mostra de Cinema, em Portugal, para onde deveremos enviar o filme em 2024.

O “Projeto Catrumano”, é importante dizer, primeiramente apresentamos aos gestores de cultura em Montes Claros, de quem recebemos um lacônico NÃO! Simplesmente deixaram claro que não havia interesse nenhum em promover a ação cultural, como se o artista e o povo pouco valessem na tal “Cidade da arte e da cultura”.

A verdade é que o município de Montes Claros conserva um desmazelo cultural histórico no que se refere à valorização de seus artistas. Santo de casa, aqui, é oco e precisa rezar por um milagre. Os gestores deixam, às escâncaras, a impressão de satisfeitos com o irrisório. Daí que preferem “realizar”, acomodados no conforto do assento de suas cadeiras, apenas o que está no calendário de eventos oficiais (e estes são poucos). Nada mais. Apenas cozinham o famoso “feijão com arroz” da cultura tratada como culinária e cujo prato distribuem ao povo como se bastasse para “matar” a fome que temos de cultura, sem se esforçarem para promover outras iniciativas, deixando os artistas mergulhados e sem fôlego em permanente banho-maria. E o povo limitado às festas do Pequi e de Agosto. É pouco para uma cidade que se arvora como exemplo de fazimento artístico-cultural.

Talvez estas linhas deixem a impressão de um desabafo. E são! Mas, vou parar por aqui. Até pelo fato de estarmos alegres. “Us Catrumanos” ainda estão numa espécie de lua de mel com aquela noite fantástica, que foi o 23 de fevereiro no Cine Santa Tereza, em Belo Horizonte. Ao lado de quem valoriza a cultura. De quem valoriza a arte. Nada deve estragar essa alegria. E falar de apoio cultural, em Montes Claros, como diria Zé do Jegue, o “ômi qui casô cua mula”, dá uma tristeza danada...

*Eduardo Brasil é jornalista, radialista e cineasta em Montes Claros, no Norte de Minas.

Imagem da Galeria O filme de Eduardo Brasil foi exibido no cine Santa Tereza, um dos poucos cines de rua que sobraram
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