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Feijão pretinho borbulhava gostoso em “Senzala e Acorrentados”, livro de Manoel Botelho

Feijão pretinho borbulhava gostoso em “Senzala e Acorrentados”, livro de Manoel Botelho

Ele é jornalista e escritor. Recentemente lançou “Escritos de vida e de Esperança” e no momento, está escrevinhando mais esse, do qual o Diário de Minas publica um capítulo.

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01-03-2023

18h:24

Manoel Botelho*

A Senzala estava feliz, pois Zindim fora chamado pelo senhor de engenho, Rafael Gaspar, para organizar a matança de porcos. Ela ocorria de tempos em tempos para abastecer de gordura, carne, linguiça e pele a venda do engenho e a Casa Grande. 

Gaspar, nessas ocasiões mandava aproveitar bem toda a carne, a gordura, peles. E todo o resto, como pé de porco, orelha, rabo, as entranhas, era descartado. Aquilo que não gostava, restante de nojo, dizia ele, que os ricos não comiam e era jogado fora.

Zindim juntava tudo. E com muito jeito pedia licença pra levar para a Senzala. E lá iam os rabos, os pés, as orelhas, as entranhas, para a alegria de todos, festa de fartura e gostosura para os escravos.

No galpão da Senzala, explodindo em riso, estava Nina, a “preta véia”, cozinheira sem defeito, perfeita, das boas mesmo. Com dois panelões cheios de feijão pretinho, também já se pensava no arroz soltinho, na cebola, no alho, muita laranja, couve verdinha e muito cheiro verde.

E a boa cachaça.

E aí tudo dos porcos, que iam ser jogado fora, nas panelas borbulhando no feijão. E mais a cachaça produzida no engenho à espera da comilança da felicidade de homens e mulheres - que não sabiam por que eram escravos.

Vinha, no sábado, a alegria com as panelas de feijão cheias de pés, orelha, rabo de porco. Tudo fumegando picadinhos e deliciosos. O ar enfumaçado realçava os sorrisos largos dos negros de dentes branquinhos e bonitos.

Aquela beleza de paz e festa enchia a alma daquele povo bom. E se estendia pelo sábado afora.

Negros felizes já torciam para nova matança de porcos.

* Jornalista e escritor.

Imagem da Galeria Manoel Botelho é jornalista e aproveita bem a aposentadoria escrevendo livros
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