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Um Carnaval para chamar de nosso, modelo construído democraticamente

Um Carnaval para chamar de nosso, modelo construído democraticamente

Está aí o primeiro ingrediente para explicar a receita de sucesso do Carnaval de rua de BH. Tínhamos a matéria prima básica, ou seja, o nosso povo gosta de Carnaval.

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15-02-2023

13h:03

Por Marcio Lacerda*

Frequentemente, sou abordado por pessoas que desejam compreender o fenômeno do Carnaval de Belo Horizonte, que teve início em nosso governo à frente da prefeitura, entre 2009 e 2016.

Antes da nossa gestão, alguns passos foram dados. No início dos anos 2000, surgiram vários blocos pela cidade. Santo Bando, As Virgens do Formigueiro Quente, Concentra Mas Não Sai, Sagrada Folia, Banda Santa, Sou Bento Mas Não Sou Santo, Bloco do Pirulito, entre outros.

Eles desfilavam no final de semana anterior ao Carnaval. Logo no primeiro ano, em 2009, participei do desfile do Trema na Linguiça. E ainda tinha a tradicional Banda Mole. A cidade virava uma festa no pré-Carnaval. E uma semana depois ficava deserta.

Está aí o primeiro ingrediente para explicar a receita de sucesso do Carnaval de rua de BH. Tínhamos a matéria prima básica, ou seja, o nosso povo gosta de Carnaval. É fã de uma festa de rua, evento ao ar livre. Além do gosto popular para fazer a folia, também houve questões de infraestrutura e econômicas.

Ao viajar no Carnaval, as pessoas enfrentavam congestionamentos e rodovias perigosas. Era uma aflição para os pais aguardar a volta dos filhos foliões. Tinha gente que ficava dois dos quatro dias de festa na estrada. O fator econômico também pesou na balança. Destinos mais procurados, como Salvador e Rio de Janeiro, tinham preços bem salgados.

Blocos e manifestações culturais

Coube à nossa gestão captar este sentimento e a realidade da época para incentivar o novo Carnaval que surgia na cidade. Três movimentos foram fundamentais. O primeiro veio em 2011, por meio do Decreto 10.277, que passou a considerar os blocos como manifestações culturais. Isso porque, até então, para desfilar pelas ruas da cidade um bloco precisava fazer uma verdadeira peregrinação por vários órgãos atrás de licenças e alvarás. Naquele ano, também começamos a valorizar as escolas de samba e blocos caricatos, que desfilavam na Via 240, região Norte da cidade. Passamos os desfiles para a avenida dos Andradas e, em 2014, para a Afonso Pena, atendendo uma antiga reivindicação das agremiações.

 Ainda em 2011, a prefeitura implantou uma novidade. Passamos a fazer o cadastramento dos blocos para dar suporte aos desfiles. O formulário era bem simples. Constava o nome do bloco, a data do desfile, o horário de início e término, o trajeto e a previsão do número de pessoas. De posse do formulário, a prefeitura providenciava os banheiros químicos, fazia alterações no trânsito, garantia a segurança e determinava à SLU a limpeza do local imediatamente após o desfile. Em 2012, 37 blocos se cadastraram.

 Planejar a organização

No último ano da gestão, em 2016, foram 274, levando mais de 2 milhões de pessoas para as ruas. A iniciativa do cadastramento foi tão exitosa que, em 2014, fomos convidados pelo então prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, para falar do nosso modelo de Carnaval no 2º Seminário de Carnaval de Rua da capital paulista.

O último passo foi planejar a organização. A festa cresceu ano após ano e, para garantir que tudo corresse bem não só para os foliões, mas para toda a cidade, foi necessário o envolvimento de toda a prefeitura, além de órgãos estaduais e federais. A partir de 2015, todos monitoravam a festa por meio do Centro de Operações da Prefeitura, equipamento que inauguramos no ano anterior.

Carnaval democrático

Além do crescimento em números, a festa ganhou personalidade. Nosso Carnaval moldou uma cara própria. Um jeito bem peculiar, único, sem importar modelos. Um Carnaval democrático, sem camarotes, pulseirinhas e abadás. Acessível para todas as classes sociais. Uma festa segura e sem violência, que atraiu para as ruas famílias e pessoas de todas as idades. E, é claro, milhares de turistas.

Assim foi construído este novo Carnaval, cujo modelo foi discutido democraticamente com todas as partes envolvidas respeitando, acima de tudo, o espaço legítimo de manifestação dos blocos, inclusive políticas. Esta construção não foi fácil. Houve muitos obstáculos. Mas os ingredientes básicos estavam postos. Um desejo popular absolutamente espontâneo que contou com a sensibilidade do poder público para abraçar a ideia. Que assim continue sendo. Um Carnaval feito por todo mundo para todo mundo

* Marcio Lacerda foi prefeito de Belo Horizonte  entre 2009 e 2016.

 

Imagem da Galeria O ex-prefeito de Belo Horizonte demonstra toda a sua experiência em matéria de carnaval
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