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Aprenda com Hélio Garcia e com Itamar de Oliveira, o grande valor do silêncio

Aprenda com Hélio Garcia e com Itamar de Oliveira, o grande valor do silêncio

Não se trata de memórias póstumas, mas o jornalista realiza a proeza mediúnica e em um diálogo rico coloca o governador junto com personagens de outra dimensão da política.

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10-02-2023

12h:14

Rufino Fialho Filho*

O vice de Hélio Garcia: Arlindo Porto

Dr. Hélio, seu namoro com o ex-prefeito Arlindo Porto foi um “caso de amor”.

O Arlindo Porto, de origem, tradição e comportamento pessedista, parece que foi mesmo o JK de Patos de Minas. O senhor foi muito feliz ao escolher o Arlindo para seu companheiro de chapa na eleição de 1990. O “menino de Patos de Minas”, que foi vice-governador, senador e ministro da Agricultura, fica em estado de graça quando o assunto é Hélio Carvalho Garcia. 

Surge um vice

Nascido em 27 de março de 1946, na cidade de Patos de Minas, Arlindo Porto Neto, casado com Maria Coeli Memória Porto, sem nenhuma experiência eleitoral anterior, foi eleito prefeito em 1982, pelo PMDB, liderado e comandado pelo mais notável chefe político local, Pedro Pereira dos Santos, do antigo PSD, do PP e do PMDB.

Ao terminar o curso de Ciências Contábeis e Administração de Empresas, o jovem Arlindo iniciou as atividades profissionais como contador cuidando de atender com empenho e dedicação aos setores comercial, industrial e aos prestadores de serviços de uma cidade que se consolidava como importante polo de desenvolvimento no Alto Paranaíba, Triângulo Mineiro e Noroeste de Minas.

Patos de Minas, na época, era a 12ª cidade mais importante de Minas, palco da famosa Festa Nacional do Milho, que se tornou um grande evento nacional. Sete candidatos disputaram as eleições de 1982 na cidade. O jornalista Oswaldo Amorim, Antônio Libério e Sebastião Versiani, pelo PDS; o professor Salvador Rodrigues, pelo PT; Francisco Pinheiro Campos, Arlindo e Paschoal Borges, pelo PMDB. Arlindo Porto teve mais votos que todos os adversários juntos. A vitória não embriagou o jovem prefeito. Ele sabia que devia a eleição ao grupo liderado por Pedro Pereira dos Santos, responsável pela eleição de prefeitos que o antecederam e que o sucederam. O jovem Arlindo começava também uma trajetória de fazendeiro e empresário com excelentes perspectivas. Ele já era sócio da Companhia Patense de Veículos (COPAVE), a quarta maior concessionária em negócios da empresa FIAT em todo o Estado.

Na cabeça do prefeito existiam responsabilidades que ele imaginava por tempo determinado. Mas a vida costuma mudar os planos de quem a planeja ou não. No ano de 1982, uma notável safra de prefeitos brotou na seara política mineira. O povo queria mudar e o PMDB elegeu uma frente de dirigentes municipais que se afirmou definitivamente no cenário político de Minas.

Newton Cardoso foi eleito prefeito de Contagem, Tarcísio Delgado venceu em Juiz de Fora, Zaire Rezende em Uberlândia, Wagner Nascimento em Uberaba, Luiz Tadeu Leite em Montes Claros, Galileu Machado em Divinópolis, Ronaldo Perim em Governador Valadares, Getúlio Neiva em Teófilo Otoni, Ambrósio Pinto em Itajubá, Adélio Martins em Unaí e Arlindo Porto em Patos de Minas.

Sob a coordenação de um líder municipalista do Alto Paranaíba, Nilson Souto, os prefeitos das principais cidades mineiras se uniram na Associação dos Prefeitos das Cidades-Polo que muito contribuiu para colocar o desenvolvimento local e regional na agenda política estadual e nacional.

Os prefeitos eleitos em 1982 tiveram seus mandatos prorrogados por mais dois anos e puderam desenvolver projetos de destaque em suas bases. Arlindo Porto conseguiu realizar o sonho local, criando e construindo a Escola Agrícola que consolidou Patos de Minas como a capital nacional do milho. A Lagoa Grande foi urbanizada, e construída a Avenida JK. Foram iniciadas as obras do Parque Municipal do Mocambi. Foi criada e implantada a Faculdade de Administração de Empresas.

Arlindo Porto passou a ter projeção no movimento municipalista mineiro e nacional. Foi diretor da Associação Mineira dos Municípios e da Federação Mineira de Associações Microrregionais. Fundador e presidente, por dois mandatos, da Associação dos Municípios do Alto Paranaíba. Teve a oportunidade de participar de um curso de Administração Municipal, promovido pela Fundação Alemã para o Desenvolvimento, na Alemanha.

Ao deixar a prefeitura, Arlindo estava disposto e determinado a retomar as atividades no comércio e na agricultura. Manteve os contatos e os amigos do movimento municipalista. Acreditava que a missão política estava concluída. O prefeito e o povo de Patos se entenderam muito bem, mas Arlindo Porto pretendia cuidar da própria vida.

Ele havia convivido com Tancredo Neves, Hélio Garcia e Newton Cardoso, ao longo dos seis anos de prefeito. Com Hélio Garcia ele tivera reuniões protocolares e de trabalho. Algumas vezes para convidá-lo para a Festa do Milho, outras para recebê-lo em visita à cidade. Nada que pudesse sinalizar algum tipo de convivência política entre o ex-prefeito e o ex-governador de Minas.

Descansando em hotel no Rio de Janeiro, Arlindo Porto foi acordado, de madrugada, por uma chamada telefônica. Meio sonolento ouviu o interlocutor, com quem travou a seguinte conversa:

– Aqui é o Hélio Garcia e preciso falar com você.

– Pois não, Governador, às suas ordens!

– O que você está fazendo e quanto tempo vai ficar aí no Rio?

– Estou de férias com a família e penso voltar dentro de três ou quatro dias. Se precisar, volto imediatamente.

– Bobagem, descanse e volte no tempo certo. Não fale com ninguém da nossa conversa e chegando a Belo Horizonte me informe para eu mandar te apanhar.

“Fizemos o combinado. Cheguei a Belo Horizonte e me hospedei no Real Palace, na Rua Espírito Santo. À noite, fui apanhado no hotel. Entrei pelas portas do fundo da casa da rua Paracatu e Hélio Garcia foi direto ao assunto:

– Você vai ser meu companheiro de chapa como candidato a vice-governador. É uma escolha minha. Nós vamos vencer a eleição. Você vai mudar para Belo Horizonte e cuidar da relação com os políticos. Você é que vai conversar e atender vereadores, prefeitos e deputados.

– Governador, posso saber por que o senhor está me escolhendo?

– Preciso de você. Tenho pesquisas. Estou muito bem em quase todo o Estado. A região metropolitana deve garantir a vitória. Mas não tenho o apoio necessário no Triângulo Mineiro e no Alto Paranaíba. A pesquisa mostrou que você é o prefeito com a melhor avaliação em Minas Gerais. Você saiu com 97% de aprovação da Prefeitura de Patos de Minas. Preciso de você para mudar o quadro eleitoral na sua região.

– Preciso de tempo para pensar.

– Quanto tempo?

– Noventa dias.

– Vá para casa. Você não vai dormir e me dará a resposta amanhã cedo”.

No dia seguinte, discreto e furtivamente, Arlindo Porto voltou à rua Paracatu e imediatamente foi recebido pelo ex-governador.

– Estamos acertados?

– Governador, perdi o sono e a minha resposta é afirmativa. Aceito o desafio.

– Ótimo. Vá embora e comece o trabalho. Você está proibido de falar da nossa conversa até com a sua mulher.

– Governador, se quiser, pode escolher quem for mais conveniente para chegar à vitória.

– Dois dias antes da convenção, mando te buscar para anunciar a composição da chapa.

Arlindo Porto voltou a Patos de Minas e passou a conversar com as lideranças para avaliar melhor como poderia ser a campanha. Ele passou a ser visto como um possível e natural candidato a deputado. A maioria dos ex-prefeitos da safra de 1982 trabalhava com essa lógica.

Sem alarde, Arlindo filiou-se ao PRS de Hélio Garcia e ninguém tentou adivinhar o que passava na cabeça de Arlindo Porto.

O ex-prefeito de Patos sofreu muito.

Hélio Garcia era um forte candidato à sucessão de Newton Cardoso. Os demais candidatos foram surgindo. O nome de Hélio Costa já era tido como viável e muito forte no Triângulo Mineiro. Seria uma campanha muito dura. As especulações na imprensa eram muitas.

Todos os amigos e companheiros de Hélio Garcia eram apresentados como possíveis candidatos a vice-governador. O nome do deputado Romeu Queiroz era apontado como composição regional forte. Walfrido dos Mares Guia, Roberto Brant e Leopoldo Bessone eram apresentados como os mais identificados e queridos do ex-governador. A ansiedade tomava conta do “candidato secreto”.

Dois dias antes da Convenção, à noite como sempre, o telefone tocou e Hélio Garcia anunciou:

– Pode pegar a estrada. Assim que chegar, avise para eu mandar te buscar.

– Combinado. Até amanhã, Governador.

Arlindo chegou a Belo Horizonte e foi levado à presença de Hélio Garcia, que estava cercado de amigos. Carlos Elói, Ruy Lage, Leopoldo Bessone, Romeu Queiroz, Walfrido Mares Guia. Havia, no grupo, pessoas que Arlindo Porto ainda não conhecia.

Por volta de 11 horas da noite, Hélio Garcia avisou: – Amanhã, às 13 horas, em entrevista coletiva, seu nome será anunciado como meu companheiro de chapa.

“E assim aconteceu. Quem me apresentou à imprensa foi o jornalista Márcio Fagundes, que mais tarde seria convidado para assumir o cargo de assessor de Comunicação do Governador Hélio Garcia”.

Arlindo Porto entrou na campanha de 1990 com a disposição de somar. Uma coisa que ele havia aprendido com o mais notável chefe político do antigo PSD de Patos de Minas, Pedro Pereira dos Santos.

Hélio Garcia havia colocado, na coordenação política, o já então experiente e experimentado Carlos Elói Guimarães, a quem o ex-governador chamava afetivamente de Carlinhos.

A legenda inventada para aquela eleição era o Partido das Reformas Sociais, cujo presidente em Minas era outro Carlos, o tranquilo, disciplinado e trabalhador Carlos Alberto Dilly. O tripé partidário de apoio da campanha era formado ainda pelo PTB, presidido pelo experiente deputado federal Milton Reis, e pelo PL, presidido pelo professor Aluísio Pimenta, candidato ao Senado pela coligação “Todos por Minas”.

Um dos principais objetivos da coligação era “rachar” o PMDB, para evitar que a candidatura do então senador Ronan Tito pudesse decolar. A tarefa foi enormemente facilitada pelos bons serviços prestados pelo deputado estadual Kemil Kumaira. Ele disputou a convenção do PMDB com o claro intuito de abrir uma dissidência em favor da candidatura de Hélio Garcia.

 Kumaira, como previsto, foi fragorosamente derrotado na convenção, realizada no plenário da Assembleia Legislativa e, claro, as notícias publicadas em seguida destacavam o previsível “racha” no PMDB. Estava aberta a temporada de adesismo inaugurada pelo “dissidente” Kemil Kumaira.

 Outra missão importante foi atribuída ao candidato a vice-governador: promover uma campanha suprapartidária de prefeitos e de vereadores para apoiar o candidato Hélio Garcia. Era a praia do ex-prefeito Arlindo Porto.

 Naquela eleição, particularmente, era fundamental municipalizar a campanha. Primeiro porque os candidatos a deputado federal e estadual possuem um único objetivo: a própria eleição. Pouquíssimos candidatos se alinham completamente com as candidaturas majoritárias. Já os prefeitos e vereadores precisam mostrar força eleitoral e a expectativa de eleger um governador impulsiona prefeitos e vereadores a se tornarem os mais importantes cabos eleitorais nas eleições majoritárias.

 Arlindo Porto, no Alto Paranaíba, Triângulo Mineiro e Noroeste de Minas, tinha um enorme desafio. Um dos principais líderes políticos do Triângulo Mineiro, Virgílio Galassi, prefeito de Uberlândia, já havia declarado apoio ao candidato Hélio Costa. Seria, como foi, um estrago inevitável na votação dos demais candidatos.

 Com muita cautela e discrição, Arlindo Porto conseguiu o apoio de um dos importantes companheiros de Virgílio Galassi, o fazendeiro Paulo Ferola, que resolveu caminhar com Hélio Garcia. Em Uberaba, outro calcanhar de Aquiles da campanha, quem acabou ficando com Hélio Garcia foram Hugo Rodrigues da Cunha e Luiz Guaritá Neto, duas destacadas lideranças políticas da cidade.

 A campanha de Hélio Garcia, cuja logística foi coordenada por Walfrido dos Mares Guia, foi realizada por meio de grandes comícios e reuniões regionais de lideranças políticas das vinte maiores cidades do Estado. A regionalização da campanha ajudava no processo de integração da chapa majoritária com os candidatos a deputado estadual e deputado federal. Os candidatos disputavam espaço no palanque de Hélio Garcia.

 Arlindo Porto se dedicou particularmente ao trabalho de mobilização política regional e acabou se tornando uma presença constante em debates entre candidatos. Nas associações microrregionais de municípios, Arlindo Porto navegava com enorme desenvoltura. Nas associações empresariais, com as associações comerciais, câmaras de dirigentes lojistas, entidades e clubes de serviços, especialmente nos Lyons Club, ele também se apresentava com bastante segurança. Aos poucos, tornou-se uma fonte de informação para a imprensa.

 Arlindo se empenhou particularmente na realização do grande encontro regional com o candidato Hélio Garcia em Patos de Minas. Foi uma apoteose. Mais de 60 prefeitos e quase 200 vereadores dos municípios do Alto Paranaíba, Triângulo Mineiro e Noroeste de Minas foram reunidos para um almoço no Caiçaras Country Clube. Todos tiveram oportunidade de cumprimentar e conversar com o candidato. Hélio Garcia era pura energia e animação. Todos receberam material de campanha e aconteceu a maior carreata já vista em Patos de Minas, com a participação de lideranças e representantes de vários municípios dessas três regiões.

Eventos similares aconteceram nas principais cidades de Minas Gerais. Em Montes Claros, o Norte de Minas foi mobilizado por Ruy Lage, Dario Ruthier, Pedro Narciso e pelo prefeito Mário Ribeiro, irmão do ex-senador Darcy Ribeiro. O clima em Montes Claros era também de muita animação.

Na Zona da Mata foi um pouco diferente. Conforme apareceu nas pesquisas de opinião, a região padecia de um visível complexo de abandono. Outra dificuldade a ser enfrentada: em Juiz de Fora, o ex-prefeito Tarcísio Delgado era um dos poucos que tentou mobilizar o PMDB em favor da candidatura de Ronan Tito. Era preciso cautela porque, no segundo turno, o apoio do PMDB seria indispensável para a decisão da eleição.

A campanha foi pedreira. Especialmente no segundo turno. Por pequena margem, Hélio Garcia derrotou Hélio Costa.

Hélio Garcia entregou ao professor Paulo Paiva a responsabilidade de conduzir a Comissão de Transição da futura administração e saiu de cena. A posse, naquela época, acontecia no dia 15 de março. Arlindo Porto, com a mesma lógica de Hélio Garcia, também se recolheu e voltou para Patos de Minas.

Faltando 15 dias para a posse, ele foi convidado para um encontro com Hélio Garcia. A conversa foi muito boa. Havia entre os dois um clima de afetividade recíproca.

– Nosso governo vai começar. Teremos muito trabalho. Vamos tentar fazer o que anunciamos na campanha. Preciso formar um time para enfrentar muitas dificuldades

– É isso mesmo, Governador. Não será nada fácil.

–Você quer ser Secretário de alguma coisa? Se quiser, pode escolher.

–Não, senhor. Quero ajudar onde o senhor achar mais conveniente.

– Pensei que você desejaria ser Secretário de Assuntos Municipais. Acho ótima a sua decisão.

– Obrigado, Governador. Serei seu vice.

– Vice não deve ser Secretário, senão ele se nivela com os demais secretários. Mais livre você ajudará mais o nosso governo.

  –Vamos em frente, Governador.

  –Ajude o Evandro (Secretário de Governo) e o Roberto (Secretário da Fazenda) a ver o que é mais relevante e continue recebendo e tratando muito bem os deputados, prefeitos e vereadores.

 Hélio Garcia jogou o sapo na lagoa.

 O gabinete do vice-governador tornou-se uma parada obrigatória para o encaminhamento de pleitos ao Governador Hélio Garcia.

 Arlindo Porto observou o estilo político de Hélio Garcia na formação da equipe de Governo. Alguns convites, tidos como naturais, foram feitos aos colaboradores mais próximos. O coordenador do Programa de Governo, professor Paulo Paiva, foi convidado para a Secretaria de Planejamento. O professor Walfrido dos Mares Guia foi convidado para a Secretaria da Educação. Na Secretaria da Fazenda, o escolhido foi Roberto Brant e, para a Secretaria de Governo, Evandro de Pádua Abreu. Estava formado o chamado “núcleo duro” do Governo, e os demais secretários foram escolhidos, em grande maioria, por razões políticas.

 O anúncio completo da equipe de governo, conforme havia sido combinado com o jornalista João Carlos Amaral, seria feito pelo Governador Hélio Garcia no dia seguinte, no programa Bom Dia, Minas, da Rede Globo de Televisão. Por volta de 11 horas da noite, Hélio Garcia mudou de ideia e atribuiu a tarefa ao vice-governador Arlindo Porto.

Era voz corrente entre os jornalistas que Hélio Garcia tinha pavor de acordar cedo. Mas, no meio político, o anúncio oficial da equipe de Governo foi o reconhecimento público do prestígio de Arlindo Porto junto ao Governador Hélio Garcia.

Era um excelente começo de convivência entre o Governador e seu vice. Foi assim do início ao fim. Arlindo Porto argumenta que o Governador era muito cuidadoso com a coisa pública. Não gostava de admitir para não se ver na obrigação de demitir. Se nomear para ele era um sofrimento, demitir era uma dor ainda maior.

 “A orientação para a equipe era buscar recursos para obras e dar condições à iniciativa privada de gerar trabalho e renda. O balanço de realizações do Governo Hélio Garcia foi dos mais positivos. No plano rodoviário, a maior iniciativa foi o início da duplicação da Fernão Dias entre Minas e São Paulo”.

Arlindo Porto se orgulha das obras de infraestrutura, pavimentação de estradas e abertura da fronteira agrícola no cerrado, sob a liderança do então Secretário da Agricultura, Alysson Paulinelli.

 Outro motivo de orgulho para o vice-governador foi a inauguração do aeroporto de Patos de Minas, no dia 25 de maio de 1994. Na placa comemorativa, além do nome do prefeito Jarbas Cambraia, três outros foram destacados: Hélio Garcia, Governador do Estado; Arlindo Porto, Vice-Governador e Dario Ruthier Duarte, Secretário de Transportes e Obras Públicas.

 Em outra placa, igualmente em destaque na entrada do aeroporto, está inscrito no bronze o reconhecimento ao líder mais importante do grupo político de Arlindo Porto: Aeroporto Pedro Pereira dos Santos.

Após a inauguração do aeroporto, havia mais obras a serem inauguradas. A mais importante delas era a do asfaltamento do trecho que, a partir de Presidente Olegário, assegurava a ligação com Brasília, na BR 040, passando por Lagamar, Vazante, Guarda-Mor, Coromandel e Paracatu.

Hélio Garcia foi avisado pelo secretário particular, Leonardo Fulgêncio, que precisava voltar a Belo Horizonte com urgência. Finalmente havia sido articulado um encontro de Hélio Garcia com o ex-governador Francelino Pereira. Na pauta, um possível acordo para a sucessão mineira. Hélio Garcia fazia questão de eleger o sucessor e Francelino Pereira pretendia se eleger senador. No ar, uma possibilidade de acordo eleitoral. Hélio Garcia indicaria o candidato ao Governo e Francelino indicaria o vice e trabalhariam juntos pela eleição do senador.

Arlindo Porto cumpriu como governador a agenda de inaugurações e Hélio Garcia acabou não se acertando com Francelino Pereira. O ex-governador Francelino entendeu que poderia ganhar mais na coligação do candidato Hélio Costa. O que acabou se tornando a opção mais vantajosa para ele. Francelino se elegeu senador e, no segundo turno, não se movimentou a favor de Hélio Costa contra o candidato de Hélio Garcia.

Hélio Garcia precisou se adaptar ao jogo que se mostrava perigoso. E passou a agir com maior presteza. Chamou para uma reunião o vice-governador Arlindo Porto, o deputado Romeu Queiroz e os secretários Walfrido dos Mares Guia, Paulo Paiva, Evandro de Pádua Abreu e Roberto Brant. Todos, exceto Evandro de Pádua Abreu, desejavam ser candidatos com apoio de Hélio Garcia.

O Governador foi rápido no gatilho.

– Vamos escolher o nome do nosso candidato. Você, perguntou batendo na perna de Arlindo Porto, quer ser candidato?

– Não, senhor. O senhor sabe o que precisa fazer.

– Não esperava de você outra resposta. Demonstração de lealdade e companheirismo         

Romeu Queiroz e Roberto Brant disseram a mesma coisa. Dirigindo-se a Evandro de Pádua Abreu e Roberto Brant, Hélio Garcia falou para todos:

– Vamos ter que chamar o Eduardinho (Eduardo Azeredo).

Em seguida a conversa tomou ares de organização de uma estratégia de campanha. Hélio Garcia deu o tom:

– FHC está tendendo para o Hélio Costa. Precisamos amarrar o FHC. Imaginem o Itamar (Franco), o Zé (Aparecido) e o FHC juntos.

A campanha de Eduardo Azeredo foi obra e graça de Hélio Garcia, cujo companheiro de chapa foi Walfrido dos Mares Guia, já temperado na campanha anterior e com a experiência política adquirida como Secretário da Educação.

Arlindo Porto, que ocupava interinamente a Secretaria do Trabalho, com o afastamento de Tarcísio Delgado para disputar a Prefeitura de Juiz de Fora, foi orientado por Hélio Garcia a se desincompatibilizar do cargo. Faltavam 45 dias para as eleições e Hélio havia convencido o deputado federal Israel Pinheiro, candidato ao Senado, a disputar a reeleição de deputado. Uma operação política muito delicada.

O Governador de Minas convocou Arlindo para uma nova empreitada:

– Quero que você seja candidato ao Senado.

– Não tenho patrimônio para bancar a campanha

– Esse problema não é seu. É da coligação.  

– Francelino está na frente nas pesquisas.

– Mas são duas vagas na disputa.

– O Virgílio Guimarães, do PT, está crescendo.

– Você pode ser eleito.

– Se for para ajudar, pode contar comigo.

O que poderia ser apenas uma arriscada e perigosa aventura eleitoral acabou se tornando uma bela vitória política. Arlindo Porto se elegeu senador com quase 1,5 milhão de votos e ajudou a eleger Eduardo Azeredo governador de Minas Gerais. O mote da campanha, criado pelo publicitário Cacá Moreno, foi um achado:

– Você pode votar em dois senadores. Um é o Arlindo Porto. E foi mesmo.

Arlindo não esquece e faz questão de reconhecer a importância do apoio que recebeu do amigo e advogado José Murilo Procópio, coordenador da campanha, e da senadora Júnia Marise, com seu time comandado pela ex-vereadora e ex-deputada estadual Vera Coutinho: - “Júnia Marise era dona de uma biografia política respeitável. Ela soube construir um caminho de vitória na política de Minas, até hoje muito conservadora e repleta de restrições à presença feminina nos espaços de poder político”.

 Júnia, transitando do jornalismo para a política, se elegeu vereadora, deputada estadual, deputada federal, vice-governadora e senadora, e foi sempre uma campeã de votos na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Arlindo Porto assinala que a participação de Júnia Marise foi muito importante para a vitória na luta por uma das duas vagas de senador que ele conquistou em 1994. Júnia, assim como o assessor Flávio Marcos Ribeiro Campos, foram muito dedicados naquela campanha vitoriosa, reitera Arlindo Porto.

Não foi fácil nem mesmo compor a chapa. As pesquisas davam como certa a eleição de Francelino Pereira para uma das vagas e constatava-se o crescimento contínuo do candidato do PT, Virgílio Guimarães, que recolhia os frutos da campanha anterior, quando havia sido candidato ao governo de Minas.

O ex-prefeito de Belo Horizonte, empresário Celso de Mello Azevedo, foi o primeiro a ser convidado e não aceitou ser o primeiro suplente na chapa. O presidente do PTB, deputado Milton Reis, também declinou do convite. O deputado Leopoldo Bessone entendeu que deveria disputar mais um mandato de deputado federal e também não aceitou o convite para compor a chapa com Arlindo Porto.

Para evitar maiores problemas, a secretária do PTB, Regina Assumpção, entrou na chapa e acabou tendo a oportunidade de ser senadora, quando Arlindo Porto foi convidado e assumiu o Ministério da Agricultura no governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso.

Arlindo Porto faz parte do grupo de amigos de Hélio Garcia que acredita que o ex-governador, ao escolher Eduardo Azeredo para sucedê-lo, planejava, novamente, disputar o governo de Minas. A aprovação da emenda da reeleição mudou tudo.

O governador Eduardo Azeredo entendeu que deveria pleitear um novo mandato e Hélio Garcia, a contragosto, aceitou colocar o nome para a disputa da vaga de senador, na coligação liderada pelo governador em busca da reeleição.

Numa solução provisória para o registro a chapa, foram apresentados como suplentes os nomes de Leonardo Fulgêncio, ex-secretário particular, e de Adriana Garcia Ferreira, filha de Hélio Garcia.

O eventual candidato, no entanto, demonstrava total desinteresse pela campanha.

– Dr. Hélio, quando o senhor vai ao estúdio para tirar as fotos de campanha?

– Calma, menino, espera um pouco.

– Dr. Hélio, quando vamos iniciar as gravações para o horário eleitoral?

– Calma, menino, espera um pouco.

A apatia de Hélio Garcia era preocupante. Arlindo Porto resolveu agir.

– Dr. Hélio, vamos repetir a nossa luta. Tenho agora mais de 2 mil prefeitos e ex-prefeitos que podemos procurar.

– Vai pensando, vai pensando. Mas não ponha nada em prática. Vamos esperar um pouco mais.

A pressão dos amigos foi tanta que Hélio Garcia concordou em sair da toca. Foi ao Norte de Minas para prestigiar dois candidatos a deputado estadual, Arlen Santiago Filho e Elbe Brandão. Hélio Garcia foi a Coração de Jesus, Janaúba e Montes Claros. Foi acolhido com muito carinho nos lugares visitados. E voltou para Belo Horizonte sem dar sinal de animação com a própria campanha.

Mais uma vez, Arlindo Porto bateu na porta da casa da rua Paracatu e fez um apelo:

– Então, governador, posso colocar o bloco na rua?

Hélio Garcia não respondeu e fez as seguintes perguntas:

– Tem retrato meu nos comitês dos nossos candidatos?

– Tem retrato meu colado nos postes?

– Meu jingle de campanha tem sido tocado e ouvido em algum lugar?

– Olhe, governador...

E  Arlindo Porto foi interrompido por Hélio Garcia:

– Não preciso olhar nada. Já mandei olhar tudo. Tem retrato meu nos out doors do Eduardinho?

– Então, governador, o que podemos fazer?

– A gente pode ajudar e a gente pode atrapalhar também.

 Dois dias depois, Hélio Garcia pulou fora da campanha de Eduardo Azeredo e saiu da vida pública.

*Jornalista.

Imagem da Galeria O jornalista e escritor Itamar de Oliveira produziu neste livro uma bela e histórica obra
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