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Caminho da Fé, na Serra da Mantiqueira, até Aparecida, “é para quem tem palpite”

Caminho da Fé, na Serra da Mantiqueira, até Aparecida, “é para quem tem palpite”

Quem faz o Caminho da Fé, pelo menos uma vez, vai achar moleza o Caminho de Santiago de Compostela, na Espanha. O Caminho da Fé é um desce e sobe serra, cansa mais.

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02-02-2023

18h:05

Bento Batista*

Foi em 2003 a primeira das quatro vezes que fizemos o Caminho da Fé, a partir de Tambaú (SP), entrando no Estado de Minas Gerais por meio da Serra da Mantiqueira e penetrando o Estado de São Paulo novamente até a cidade de Aparecida (SP), para visitar o Santuário de Nossa Senhora Aparecida, um ano depois de completarmos a segunda incursão ao Caminho de Santiago de Compostela, na França e na Espanha.

O leitor observou o tempo do verbo no plural – “fizemos” -, porque eu não fiz isso sozinho. Tenho cúmplice, Sílvia Batista, companheira de mais de quatro décadas.

As nossas botas, as mesmas usadas para andarmos os 1.300 quilômetros no Caminho de Santiago de Compostela, na Espanha, fizeram outros 1.200 quilômetros nas quatro vezes que percorreram o Caminho da Fé.

Quem faz o Caminho da Fé pelo menos uma vez, vai achar moleza o Caminho de Santiago de Compostela. Por quê? Porque o Caminho da Fé é um tal de subir e descer serra, que cansa. E como!

Vimos algumas pessoas chorarem ao pé da subida de uma serra. Sentaram-se no chão e choraram certos de que não teriam forças nas pernas para chegar lá em cima. Mas, chegaram.

Com exceção de três montanhas – Pirineus, Vila Franca del Bierzo, O Cebreiro – todo o Caminho de Santiago é plano. Não há tanta dificuldade como é encontrada no Caminho da Fé.

Conosco aconteceu o caminho espanhol primeiro e depois o de Aparecida, e foi, então, que pudemos fazer as comparações. No Caminho da Fé o peregrino parece ir aos céus ao subir e aos abismos ao descer. Mas é tudo muito bom, maravilhoso, digo.

O importante é que o Caminho de Aparecida é cheio de paisagens naturais lindas. No percurso ainda é capaz de encontrar florestas. E muitos, mas muitos mesmos, cafezais. Enquanto a gente anda ouve de longe o ronco de motorzinhos de apanha de café.

É como uma grande mão espalmada. Ela vibra entre as ramagens do cafeeiro e os frutos caem no chão forrado por lonas. Um só homem faz boa parte do serviço.

Antes da mão de aço espalmada, a tarefa era feita por milhares de mãos humanas, gente que deixava a família e a terra natal para ganhar o sustento longe. Gente do Norte de Minas e do Vale do Jequitinhonha.

Particularmente, acho que viver é andar. É bom demais! Enquanto a gente anda faz reflexões, mergulha em si mesmo, pratica o melhor exercício para o espírito, a mente, o emocional e o corpo.

Sabemos pouco do espírito, pouco da mente e pouco do corpo.

O ato de andar longas distâncias, os calcanhares tocando o chão, desperta a produção de um neuro-hormônio chamado endorfina, produzido na glândula hipófise, daí a alegria e a satisfação em andar. Inda mais quando se tem olhos de ver. Tudo é novidade e serve de mote para a contemplação.

As pessoas, nos dias de hoje, não estão tendo tempo para contemplar as belezas que Deus criou para enfeitar o nosso mundo.

As pessoas estão passando pelas coisas. Enfiam-se dentro de uma caixa (carro) e saem zunindo por todos os cantos. Como precisam manter a atenção viva estando ao volante, não conseguem ao mesmo tempo reparar o que há nos quilômetros engolidos pelos pneus dos carros a cada viagem.

A melhor maneira de usufruir das belezas do Caminho da Fé ou do Caminho de Santiago é cumprir o percurso a pé.

Há quem o faça de bicicleta ou mesmo a cavalo. De bicicleta, no Caminho da Fé é uma prova de fogo porque há tanta subida quase à semelhança de parede.

É para “quem tem palpite”, segundo disse um fazendeiro nativo da região da Mantiqueira, que se surpreendeu com o nosso ânimo de andar e cumprir a empreitada até o fim.

O Caminho da Espanha, nesse quesito, é muito mais fácil. O importante é andar, porque enquanto a gente anda tudo funciona bem no espírito, na mente, no emocional e no corpo.

Noutra oportunidade, o tema será a chegada ao Santuário de Aparecida.

*Pedestre contumaz.

Imagem da Galeria O Caminho da Fé, partindo de Tambaú (SP) até Aparecida (SP) é de quase 500 km
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