Português (Brasil)

O castelo da vida foi o que ele prometeu a amada e ela esperou como Penélope a Ulisses

O castelo da vida foi o que ele prometeu a amada e ela esperou como Penélope a Ulisses

Mas como já dizia o filósofo Pangloss, criação do francês Voltaire, aconteceu o que de melhor havia de acontecer, mesmo não sendo acontecimentos de todo bons.

Compartilhe este conteúdo:

31-01-2023

12h:20

Anes Otrebla*

Um dia, Ítalo disse à amada:

- Quando Deus der bom tempo lhe darei um castelo.

- Hum... Eu quero! – disse.

Ela reagiu desse modo, de um jeito gostoso quando se sente feliz amada amante.

O tempo passou. O ritmo da vida mudou, complicou. Mas como já dizia o filósofo Pangloss, criação do francês Voltaire, aconteceu o que de melhor havia de acontecer, mesmo não sendo acontecimentos, numa análise fria, considerados positivos em sua minoria.

Quando se está em sintonia com o Universo e a pessoa se sente partícipe, assim como nada sobe a vida inteira e como o contrário é uma lição verdadeira, o importante é estar consciente, não se desesperar, tirar o maior proveito possível dos acontecimentos durante o período de turbulência.

O aprendizado foi e continua sendo enorme. Numas horas dessas a alma aprende e apreende mais como se tudo fizesse parte de um currículo escolar ministrado na escola da vida.

Aprende-se de tudo nessa escola. Nela é possível viver bem e feliz na escassez.

É importante não lamentar, não culpar principalmente a Deus pelos infortúnios.

Viver é muito mais do que qualquer acontecimento positivo ou não. Sentir-se vivo. Sentir-se com os dois pés na terra. Exercitar essa relação telúrica.

Numa escalada desta se aprende a ser paciente. Há lições de humildade. Há uma ciência. Não se precisa correr na velocidade da luz. O bom é enxergar o que está ao redor.

Se se puder estar em contato com a natureza, em meio a árvores, escutando atentamente o bulício das folhas, o canto dos passarinhos e as águas furtivas próximas, isto nenhum dinheiro paga e da alma nunca se apaga.

Numa situação como esta que se esvai, quando a pessoa sente que desceu, desceu e desceu, a boa sensação vem vindo, rindo, diz:

- Chegou a hora, agora, o verbo é subir, subir e subir.

Ninguém, nenhuma escola convencional oferece aprendizado tal e qual o desse nível disposto pela escola da vida. Nela se conhece como são as pessoas, quem é quem, como elas trilham os caminhos.

Quem conhece a Serra da Mantiqueira entende um bocado do significado de tudo isto. Linda obra de Deus, a Serra da Mantiqueira. Nas suas trilhas, a pé, com mochila nas costas, a caminho do Santuário de Nossa Senhora Aparecida, se pode ter a experiência maior.

A Serra da Mantiqueira, para quem não a conhece, é um maciço. Não é uma serra que o caminhante sobe de um lado e desce do outro. O caminhante anda dias quase sem conta sobre o gigante dorso de onde descortina o véu do céu.

E então chegou o dia. Tijolo sobre tijolo se construiu o castelo prometido. Este não é um castelo comum, como os dos caminhos de Santiago de Compostela, na Espanha. Ou na Alemanha.

Tampouco o castelo construído dia a dia nessa longa jornada se parece com um do controvertido político mineiro levantado numa cidade do Sul de Minas.

O castelo foi construído em lugar inacessível a não ser para ela, amante amada. Foi construído com denodo, dia após dia, pedra sobre pedra, momento após momento, só para ouvir dela aquela mesma expressão gostosa de quando prometeu, no início da jornada, quando juntos atravessaram o deserto com o suficiente para surgirem melhores do outro lado. Calçavam sandálias, tinham cajado na mão e água para não deixar a garganta secar.

“Eis”, disse ele à amante amada, quando chegou o dia, “eis o seu castelo”. E completou “Tardou, mas, antes tarde do que mais tarde”.

Disse isso a ela só para ouvir dos próprios lábios dela aquele: - Hum... Eu quero!

E disse mais a ela:

- Venha, entre. O castelo é todinho seu.

Os dois, então, a essa altura da vida estavam perdidamente perdidos de amor no castelo semelhante ao edificado na rocha.

Vieram os ventos, sopraram os furacões e nunca derrubaram o castelo porque construído foi no dia a dia com a argamassa do Céu. Na escola da Terra chamada vida.

*Escritor.

Imagem da Galeria Na verdade, o castelo da vida foi construído pelos dois baseado na simbologia da obra
Compartilhe este conteúdo:

 

Synergyco

 

RBN