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Há quem não digeriu a entrega do controle da Helibras à francesa Airbus Helicopters

Há quem não digeriu a entrega do controle da Helibras à francesa Airbus Helicopters

O governo de Minas, antes controlador da única fabricante de helicópteros para uso civil e militar na América Latina, virou acionista. “Não é função do Estado fabricar helicópteros”.

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28-01-2023

09h:04

Bertoldo Pena*

A entrega do controle da Helicópteros do Brasil (Helibras), a única fábrica de helicópteros da América Latina, por parte do governo de Minas Gerais, à Airbus Helicopters, francesa, antes acionista, agora controladora, não foi digerida como Romeu Zema e o diretor-presidente da Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais (Codemge), Thiago Coelho Toscano queriam que fosse assimilada.

Em certos meios da sociedade mineira, os comentários são críticos porque a importância da Helibrás foi mal avaliada, e embora o governo contasse com o aval do Tribunal de Contas de Minas Gerais (TCE-MG), as críticas vão muito além do valor monetário das ações (R$ 95 milhões) da fábrica localizada em Itajubá, na Região Sul de Minas Gerais.

Empresa desse quilate é de grande valia, para o Estado deixar de ter o controle e ser um simples acionista.

Numa ocasião como essa, em que o presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva reúne os comandantes militares e o dirigente da Fiesp, Josué Alencar, a fim de retomar para as Forças Armadas os “projetos estratégicos” e ampliar a BID – Base Industrial de Defesa, aconteceu na contramão disso a alienação das ações da Helibras. 

E mais ainda: o presidente anuncia a venda de 156 carros de combate Guarani 6x6, produzidos em Sete Lagoas, para a Argentina; e o governo mineiro entrega o controle da Helibras a uma empresa estrangeira. Há uma dicotomia aí.

Para a economia mineira, o complexo industrial de Sete Lagoas tem valia e é bom frisar, um carro de combate ali produzido conta com 90% de componentes nacionais e com a vantagem de oferecer 200 empregos diretos e 1.400 indiretos.

No caso da Helibras, como já foi dito, a alienação foi autorizada pelo TCE-MG, sem haver um debate ou transparência. Tudo decorreu de “uma análise meramente contábil e financeira, restrita aos aspectos meramente econômicos”, como afirmam em artigo Alice Castelani de Oliveira (Doutorando em Ciência Política na UFMG) e Gustavo Lima e Santos (Mestrando em Internacional Public Relations and Diplomacy na Sookmyung Womem’s University – Seoul-Coreia do Sul.).

No caso da Helibras, de Itajubá, a empresa gera cerca de 5 mil empregos diretos e o governo mineiro alienou as ações, e como afirmam os mencionados mestrandos, “a partir de um compromisso unicamente formal, sem nenhuma garantia de efetividade, do atual presidente Gilberto Peralta, da empresa Airbus Helicopters, compradora das ações, de permanecer com a companhia em Itajubá, no Sul de Minas”.

Essa transação da Helibras não gerou reação da parte da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg) que, como se sabe, possui uma câmara para defender empresas mineiras.

Helibras começou a nascer em1978, com o vice-presidente Aureliano Chaves; quando Francelino Pereira era governador de Minas Gerais. Eles e outras autoridades acompanhados do coronel Nivaldo Alves da Silva, superintendente da Helibras, foram ao canteiro de obras, em Itajubá. Onde tudo começou.

Quem está de fora e assiste o governador Zema privatizando empresas – o metrô foi antes – só encontra uma explicação plausível para essa política dele, no fato de ser um grande empresário no ramo de lojas.

No caso da Helibras, será que ninguém pensou que a empresa, sob o controle estatal punha o Brasil em evidência, como um dos poucos países fabricantes de helicóptero tanto civil como militar?

Entretanto, o governo de Minas não deve ter se atentado para esse detalhe de suma importância, senão não teria comentado logo depois de feita a transação: “Fabricar helicópteros não é função do Estado”, disse o presidente da Codemge, como quem estava apressado em entregar o controle para a Airbus.

*Jornalista.

Imagem da Galeria Um carro militar como este é a prova do quanto vale manter uma fábrica desta em Minas
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