Centenas de carretas invadem Araçuaí para levar lítio da Sigma ao porto; falta transparência na ação
O governador, reeleito, os prefeitos de Araçuaí e Itinga, mais os respectivos vereadores têm a obrigação de exigir da Sigma transparência nessa exportação para evitar indignação popular.
Direto da Redação
19-12-2022
09h:05
Alberto Sena*
Uma cena espantosa de centenas de carretas estacionadas próximas de um posto de gasolina, em Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha, revela o que até agora não foi explicado pela Sigma Lithium, empresa canadense que explora lítio no município e em Itinga, e menos ainda por parte de nenhuma autoridade do governo mineiro.
Quem presenciou a cena filmada e fotografada por Josias Ribeiro Silva, membro do grupo “Artistas dos Vale do Jequitinhonha e Mucuri”, teve todo tipo de reação, desde indignação, revolta à compreensão de que o mineral deve ser extraído, sim, mas falta transparência nessa exploração, e é isso que se exige da empresa, mais compensações.
Ele, Josias, abismado com o que viu, escreveu “nunca vista cena igual, na história do município de Araçuaí” e se sentiu violentado e até roubado, porque essa quantidade espantosa de carretas reunidas com a mesma finalidade – levar ao porto o lítio extraído pela Sigma – a de mandar para o exterior toneladas e mais toneladas do rico mineral.
A impressão que se tem é a de que o governo mineiro, os prefeitos e os vereadores de Araçuaí e Itinga estão coniventes com uma situação que beira os tempos inglórios da colonização brasileira por parte de Portugal, quando estrangeiros pintavam e bordavam no Brasil, ao ponto de esquartejar Joaquim José da Silva Xavier, o nosso Tiradentes.
A empresa canadense divulga aos quatro cantos do mundo as vantagens que irá obter com a exploração do lítio do Jequitinhonha, mas até agora foi incapaz de informar quais são as compensações que deixará para as populações de Araçuaí e de Itinga, além dos royalties obrigados a pagar.
A maneira como a Sigma atua no Vale lembra os tempos da ditadura no Brasil, quando o governo militar fazia e desfazia de coisas sem dar satisfação aos brasileiros. Urge uma tomada de providência da parte da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) e do governador Romeu Zema, reeleito, que até o momento se mantém calado. Aliás, todos estão mudos.
E, com esse silêncio sepulcral, quem está de fora presenciando essas cenas de carretas, que irão acarretar prejuízos para as estradas, que a Sigma tem o dever de consertar, sente-se lesado. Isso não significa que as pessoas são contrárias à exploração do lítio.
Todos concordam com a exploração porque o mineral significa a redenção da região, mas discordam da maneira como tudo está se dando porque dá a impressão de invasão estrangeira, como se aqui fosse “casa de mãe joana”, onde qualquer um chega de fora e vai enfiando as mãos sem acompanhamento e muito menos questionamento do que vem sendo feito.
A Assembleia Legislativa já se manifestou e o diariodeminas.com noticiou a intenção de se criar uma frente parlamentar para tratar da exploração do lítio no Jequitinhonha, mas a reação é lenta e, enquanto isso, o mineral está sendo exportado às toneladas, numa cena agressiva para quem tem pelo menos um pouco de sentimento de dignidade e amor ao que é nosso. Isso faz irradiar uma sensação inaceitável de estarmos fazendo “papel de bobo”.
Regina Maria, reagiu na página de Josias no Facebook dizendo: “Adeus riqueza, que pode beneficiar a população da cidade e vai embora assim; triste Vale, que, única coisa que vale, aqui, é nosso voto”.
Silvania Santos, se dirigindo à Frederico Silva Santana, disse, na mesma página do Facebook: “Triste saber que as estradas estão um caos e os caminhões com os resíduos arrasando as rodovias, levando a riqueza do Vale, e os governantes estão né aí para a população”.
A mesma Silvania Santos completou sua reação, em seguida: “As carretas bitrem carregadas de eucaliptos destroem a BR-367, e, agora, chegou a vez de carretas muito mais pesadas, com minério. Um silêncio sepulcral e assustador até aqui das nossas autoridades”.
O Diário de Minas se solidariza com as populações de Araçuaí e de Itinga e se sente no dever de exigir do governo de Minas e da Assembleia Legislativa – além dos prefeitos e vereadores locais – uma reação.
Se o “silêncio sepulcral” continuar, e não houver transparência nessa exploração, a leitura será de conivência, e as especulações pulularão, enquanto as carretas carregadas saem para estragarem ainda mais as rodovias, até o porto, sem uma explicação convincente às populações carentes do Vale.
*Editor Geral