Direto da Redação

17-12-2022

18h:17

Alberto Sena*

As duas primeiras vezes em que fui à cidade de Janaúba, a 122 quilômetros de Montes Claros, lá não tinha nem luz elétrica. Fomos jogar futebol contra a equipe local e nas ruas a gente enfiava os pés em areia ainda quente, porque Janaúba e Montes Claros são semelhantes em matéria de calor. O sol costuma cozinha pequi, agora, não na areia, mas no asfalto.

Simplesmente porque a Janaúba de então é hoje só um punhado de lembranças anuviadas; a cidade progrediu com rapidez e se eu for lá não vou reconhecer mais nada, a não ser um largo em frente à Paróquia do Sagrado Coração de Jesus.

O município é grande produtor de bananas, numa região próxima do Vale do Jaíba, considerado quase que um oásis em meio ao deserto.

Estava pensando em Janaúba, onde mora um amigo de infância, Ronaldo Lima Neves, de quem nem notícia tenho, quando me lembrei do jornalista, escritor e professor, Hermínio Prates, que não é gorutubano, mas grãomogolense, e trabalhou durante muito tempo na imprensa belo-horizontina.

Então, na intimidade com as minhas mangas de camisa, tive a ideia de escrever uma carta, senão um bilhete para ele indagando coisas daquela bendita terra.

Se ele nem o leitor não se importarem, publico as perguntas e as respostas dele, um camarada de uma gentileza, ó, fora do comum. Vai vendo, quero dizer, lendo:

“Você poderia me informar se em Janaúba chove bem nesta temporada?

“E como vai o Rio Gorutuba? Está cheio?

“E o Bico da Pedra? Ali virou um lindo lugar, conheço por meio de fotos.

“Certamente, a produção de bananas daí deve estar de vento em popa, sendo exportadas para o Brasil todo.

“E como é a vida aí, em Janaúba, para você que viveu por aqui?

Como é o seu ritmo aí?

“Está só gozando aposentadoria?

“Voltaria a viver em Belo Horizonte?

“Por enquanto, se me conceder o privilégio de obter respostas, tudo bem. Depois a gente conversa mais.

“Meus respeitos, grande abraço”.

Vai daí que Herminio Prates foi gentil comigo e me respondeu com a maior presteza, e tomo a liberdade de publicar as respostas dele escritas escorreitamente.

Ei-las: “Sim, Alberto, tem chovido aqui acima da média. O rio (Gorutuba), onde tanto nadei, é drenado para irrigar os bananais e poluído de todas as formas.

“A represa do Bico da Pedra, segundo foi divulgado hoje, está com cerca de 60% da capacidade de armazenando; mas não consideram que a sedimentação acumulada desde a segunda metade dos anos 1970 nem foi avaliada.

“Meu ritmo aqui é, digamos, em marcha lenta: proseio com os amigos antigos e com a moçada de hoje, frequento um sarau aos sábados, estamos reativando a Academia de Letras, embora poucos se interessem por livros e artes.

“Leio muito, escrevo todo dia, publico livros (por enquanto apenas dois), crônicas e artigos em jornais impressos (de Caratinga e Itabira), blogs e na revista InComunidade, de Portugal.

“Sim, voltaria a viver em Belo Horizonte, desde que meus gêmeos adolescentes também fossem.

“E, como ainda respiro sonhos, também namoro, porque a carne é bem precioso. Rs”

No que agradeci ao prestigioso colega, honrado com a presteza como me atendeu, no ritmo de repórter de jornal diário ou radialista faltando cinco minutos para ir ao ar.

*Jornalista.