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Se tentar deixar as Forças Armadas sem comando, Bolsonaro dará outro tiro no pé

Se tentar deixar as Forças Armadas sem comando, Bolsonaro dará outro tiro no pé

O comandante do Exército não comunga com a ideia de deixar as Forças Armadas sem comando antes da posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva.

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04-12-2022

06h:51

Bento Batista*

O que se quer, aqui, é analisar empiricamente o comportamento humano. O indivíduo não precisa articular sequer uma palavra, mas dependendo do seu comportamento, seus gestos, as pessoas podem dizer isso ou aquilo dele.

Recordo-me do ano de 1980, dia 1°. de julho, quando o Papa João Paulo II veio a Belo Horizonte, e para recebê-lo foi armado um palanque e do lado outro para a imprensa. Tão próximo do Papa estávamos que se podia observar todos os movimentos dele. Teve um momento em que, sentado, ele pegou um lenço branco, olhou a multidão na praça e no Avenida Afonso Pena, e sem levantar o braço sacudiu-o. Imediatamente, a multidão sacudiu os seus lenços e se manifestou em uníssono. Por causa de um simples gesto dele.

Quem ocupa cargo público precisa tomar cuidado com o que fala e com os gestos que faz, porque corre o risco de ser imitado. Se o gesto for positivo, como o mencionado feito pelo Papa, bem, mas se for negativo, o desastre é iminente.

Por que mesmo falo de comportamento? Para comentar sobre o presidente Jair Messias Bolsonaro, que ainda não conseguiu engolir o que está atravessado na garganta, e tem se limitado ao silêncio.

Se fosse só ao silêncio, tudo bem, mas ele, na surdina, tenta dificultar as coisas para o seu sucessor, e a última ameaça dele é deixar as Forças Armadas sem comando, o que pode gerar insubordinação nos quarteis.

Por tradição, a passagem de comando é feita naturalmente, depois da posse, mas o presidente Bolsonaro quer fazer ao modo dele e isso, além de mal-estar, pode gerar acontecimentos inconvenientes.

O ministro do Exército Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira tem comportamento diferente do presidente, discorda dele e ainda ontem se mostrava inclusive disposto a conversar com o comandante da Aeronáutica, Carlos de Almeida Baptista Júnior, para tirá-lo de cabeça, fazer o que é o correto e tradicional.

Deixar as Forças Armadas sem comando é de uma irresponsabilidade tamanha, que, um cidadão em seu juízo normalmente não consegue assimilar, porque uma situação dessa põe em risco a segurança nacional, o que, aliás, é a pretensão de Bolsonaro.

Ao se comportar assim, ele demonstra não estar pensando no bem-estar do povo brasileiro, mas em si mesmo, e demonstra coerência com os seus modos de viver à base de turbulências.

Essa, ao que parece, deve ser a última cartada dele, e mais um tiro no pé.

Os comandantes das Forças Armadas são pais de família, têm responsabilidades e sabem que com coisa série não se pode brincar.

*Jornalista.

Imagem da Galeria O Papa João Paulo II veio a Belo Horizonte em julho de 1980 e reuniu uma multidão
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