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“Juntos, seguimos de coração aberto, ao encontro do meu sonhado destino”.

“Juntos, seguimos de coração aberto, ao encontro do meu sonhado destino”.

Evany é sertaneja, de Montes Claros, com raízes no Barrocão, município de Grão Mogol. Ex-presidente da Academia Feminina de Letras de Montes Claros, ela veio conhecer o Diário de Minas e nos trouxe “Reencontro”

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28-11-2022

06h:34

REENCONTRO

Evany Cavalcante Brito Calábria*

Ainda com sono,

saí na madrugada, com pontos brilhantes,

e o reencontrei na estrada,

detrás dos montes.

Juntos, seguimos de coração aberto,

ao encontro do meu sonhado destino.

Encantada, meus cabelos dançavam

e levou meu cheiro ao mar.

Mas ele com ciúmes, escondeu.

Deixou que ela me alumiasse.

E eu sorria!

Estrelas, Sol, Estrada, Mar,Vento, Lua, Rosa e Eu.

 

E ali estava eu, mais uma vez, era alvo de uma imensa alegria, num carinho de contentamento e amor. Olhava pelos vidros do carro aquele querido mar, era preciso reatar nossa parceria o mais rápido. Não era mais velha fotografia, era brisa e esverdeado espumante em movimento, tudo igual imaginei o ano inteiro. Uma paisagem íntima, já quase noturna ia surgindo sem fim, dançando!

As janelas do carro não eram mais cegas de tantas luzes que entravam. Agora tão distante está de mim a saudade das férias na praia que a demora em chegar entremeava com felicidade. Muitos sentimentos se manifestavam em meu coração.

Um tanto inquieta, como sempre, desci do carro e fui logo sentindo o cheiro bem conhecido ao meu encontro. Cheiro de vida!

Caminhei quase no ar, tive consciência desses passos leves, eu não era uma intrusa ali. E sentia as batidas aceleradas do coração e meus olhos marrons molhados. Andei, andei sem parar.

Eu conhecia isso muito bem, essa sensação de paz, que sempre me trazia felicidade. Naquele momento, eu era a rara Rosinha, que falava com as borboletas e elas pousavam aos meus pés na minha infância. Era preciso ver se estava tudo ali. Por toda parte havia meu rastro do ano anterior.

Gosto de andar sozinha, é meu alimento da alma e do poder do meu pensamento.

É também tranquilizador, adoro aquela luz clara da tarde naquela paisagem de sonho que tanto queria e que me traz todas as minhas paixões.

Durante algum tempo, esquecida de tudo, me abandonei nessa sensação e caminhos conhecidos, como se fosse meu quintal.

Apesar de meu impulso dizer "fica", eu precisava voltar, tinha que acabar de chegar ao hotel. Sabia muito bem que a noite não demorava a apresentar dando show, uma noite nova, muito melhor.

Mais tarde já refeita, deparei-me com a lua, tranquila e desafiadora, cortando o mar, mostrando todo seu clarão poderoso, fazia a água tremer. Fui atraída por ela até tocá-la com os pés, minha borboleta.

Com nitidez escuto risos e conversas de amigos de tempos atrás, todos que amei durante o verão ou até um dia! Fiquei contemplando aquilo que até parecia uma fogueira, acredito que é o meu encanto com o perfume do amor.

Compreendi que revivo nesse cenário todos os amores e minha vida, coisas desaparecidas que voltam mais ardentes.

Fiquei contemplando a lua, envolvida comigo mesma. Sinto que é uma arte da vida, minha companheira inspiradora, minha fantasia de loba.

Achava-me sentada numa ponta de pedra, com os pés na água. Segurava minha “longneck”, respirava o vento calmo e o perfume do mar, como eu havia visto nas horas de sonhos e mais poéticas da minha vida, desde a juventude cheia de ambições e inspirações palpitando o fogo do amor e prazer, tudo retorna em mim num instante. Cada um tem os seus segredos.

Uma leve onda com impulso e senti alguma coisa, vi uma imagem insistente tocando meus pés tentando laçar-me. E o que encontrei? Uma bela rosa branca de caule longo, desnuda, esgotada e insaciável, talvez querendo salvação. Vi-me a mim mesma tantas vezes assim: despetalada, morta de cansaço e diante de uma última chance.

Até ali foi arrastada com a permissão da Rainha do Mar. Fitei-a e não tive dúvida, esta rosa é minha. Já nos vimos, nas horas mais plenas!

Oito dias debatendo pela maré, desfalecida, até me reconhecer. Segurei-a diante dos meus olhos, cheirei-a e falei que também era uma rosa, vermelha e muitas vezes rosada. Só então cantei baixinho e derramei gotas de luz, eram lágrimas de ternura.

"... Oh Rosa, Rosinha

quisera possuir teu coração

e ter o seu amor por toda vida

Oh Rosa, querida..."

Olhei para o céu, tão perto, à procura daquelas famosas três estrelinhas, alinhadas e poderosas, elas estavam lá, brilhando, encantadas com as duas rosinhas.

E o vento balançava tentando não atrapalhar nosso tempo, só aplaudindo. Tudo como admiro sentir dentro de mim como um grande abraço. Tantos sentimentos bons juntados nesses infinitos momentos.

Nunca me deixas, colhi você em minh'alma.

Enquanto olhava ao redor, contemplei anos transcorridos de minha vida através de um momento comum e único, mas forte; tantos sentimentos bons, tudo sempre perto refletido como por encanto.

Voltando ao meu grupo, todos animados, num lugar lindo onde passaríamos dias cheios de vidas, loucamente intensos numa velocidade de sonhos.

Foi ali também que passamos o último verão.

Depois daquela noite, movida de uma emoção bem no início de janeiro, sigo juntando os pensamentos agradáveis, sem pressa, queria dançar! Não que eu tenha me esquecido da minha rotina e obrigações, mas tudo parece ter perdido a realidade, até minhas lembranças e saudades. Eu saí mesmo de onde estava e disposta a viver ali, bem devagar, ouvindo tudo que vem de dentro de mim. E é com esse riso interior, da vontade de dançar, em meu rosto banhado de contentamento, agradeço por mais essa oportunidade de realizar meus desejos, sonhos e fantasias do coração.

Hoje eu vi o mar.

 *Poeta escritora integrante da Academia Feminina de Letras de Montes Claros. Autora dos livros “Infância Verde”, “Vestígios de Última Hora”, “O Anel de Alice” e “Aroma e Cor de Rosa”.

Imagem da Galeria Evany é uma poeta escritora de Montes Claros, ex-presidente da Academia Feminina de Letras
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