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As magnólias amarelas florescem em novembro e perfumam boa parte do Centro da capital

As magnólias amarelas florescem em novembro e perfumam boa parte do Centro da capital

Quando passo pela Rua Espírito Santo, próximo da Avenida Álvares Cabral, recordo-me de Darcy Ribeiro, que lá morou. Indo à casa dele, o professor comentou sobre o perfume das magnólias.

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19-11-2022

14h:12

Alberto Sena

Desde o ano de 1987, todo mês de novembro, eu me lembro mais do professor Darcy Ribeiro, ao descer de casa, na parte alta do Bairro Santo Antônio, para ir ao Centro da cidade, a pé, passando pela Rua Espírito Santo.

Quem estiver na escuta já deve estar se perguntando: “O que tem o mês de novembro a ver com o professor Darcy Ribeiro?”

Tem a ver e o prezado leitor irá entender tudo daqui a pouco. Antes, é bom que se diga que ele completou 100 anos e em todos os cantos do País recebe homenagens.

Em Montes Claros, no Norte de Minas, a Academia Mineira de Letras e a Academia Montes-clarense de Letras, conjuntamente, irão fazer uma homenagem a Darcy Ribeiro e lançar um livro sobre ele. Na mesma sessão o médico João Valle Maurício, que também fez 100 anos, será homenageado.

Mas, volto às magnólias. Elas florescem em novembro e foi nesse mês que, lado a lado com Darcy Ribeiro, descíamos a Rua Espírito Santo, saídos do prédio do BDMG, na Rua da Bahia, onde funcionava a Secretaria Extraordinária de Desenvolvimento Social de Minas Gerais. rumo ao apartamento dele, quando ele percebeu no ar “um perfume gostoso, adocicado”.

“São das magnólias, elas florescem em novembro” – eu disse.

Essa frase foi marcante porque os objetivos dele já não seriam alcançados e íamos ao apartamento para que ele pudesse me dar autografado um livro dele, de presente.

O professor – assim que ele gostava de ser chamado – veio a Belo Horizonte a convite do então governador de Minas, Newton Cardoso, para implementar aqui as escolas de tempo integral, semelhantes às que construiu no Rio de Janeiro.

Eram escolas de argamassa armada, pré-moldada, fáceis de montar e em pouco tempo em condições de abrigar alunos. Antes, porém, ele teria de criar “uma fábrica de escolas”, como fez no Rio de Janeiro, para dar vida aos Cieps – Centros Integrados de Educação Pública.

Foi criada uma secretaria exclusiva para ele. A ideia de trazer Darcy para o governo de Minas foi do jornalista Tito Guimarães, então secretário de Comunicação do governo. Newton acatou e Darcy veio com todo o entusiasmo. Muita gente ficou sem entender isso, mas quem o conhecia sabia que ele aceitou porque Educação era uma das suas paixões.

O que aconteceu depois disso já foi fartamente noticiado, porque gerou ciúmes dos empresários do ferro e do aço. As escolas de Darcy Ribeiro eram de argamassa armada e prescindiam dessa parafernália deles.

Nós chegamos ao apartamento, fiquei aguardando na sala enquanto ele foi lá dentro pegar o livro. Veio com ele na mão – “Aos Trancos e Barrancos – Como o Brasil Deu no que Deu”, e fez a seguinte dedicatória: “Alberto, escrevi este livro para abrir os olhos de sua geração sobre o fracasso da minha”.

Despedi-me dele, e, na rua, com o livro na mão, sentia no ar o perfume gostoso das magnólias de flores amarelas. São pequenas, as flores, mas o perfume delas chega longe e fundo na alma.

Porque era novembro, porque as magnólias estavam floridas, e porque era  Darcy, toda vez que passo pela Rua Espírito Santo me recordo da observação dele, do livro e da dedicatória deixada por ele. Salve, Darcy!

Imagem da Galeria As magnólias de flores amarelas irradiam o perfume pelo Centro da cidade nesta época
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