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DIA "D"

O colunista, doutor Sebastião Gusmão, médico neurocirurgião renomado, professor, pesquisador e filósofo; professor titular da faculdade federal de medicina da UFMG e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia, manifesta sua opinião sobre o momento político e o dia "D" das eleições para os brasileiros

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Colunista dr. Sebastião Gusmão

29-10-2022 09h.

 

O dia 6 de junho de 1944 foi o Dia D para a humanidade na Segunda Guerra
Mundial. O dia decisivo na virada dos Aliados contra o Eixo, da liberdade contra o
nazismo. O mundo atual começou a ser definido neste dia. O dia 30 próximo será o dia
da decisão para o Brasil, apesar de toda a dúvida gerada pela dificuldade de escolha
entre um dos polos desta polarização infernal.
No primeiro turno do recente pleito 30 milhões de brasileiros preferiram não
apostar em nenhum dos candidatos. Apesar de compreensível, esta abstenção em um
momento decisivo de nossa história não parece justificável. Em situação extrema, a vida
nos exige coragem para tomar a decisão mais adequada, ou seja, a mais favorável ao
nosso bem maior: a vida com liberdade.
Temos que escolher o parâmetro mais seguro para pautar nossa decisão. Os
parâmetros colocados são: a biografia do candidato, o projeto de governo, a religião, a
“pauta de costumes”, a corrupção e a democracia. Para escolher temos que nos basear
em informações. Entretanto, estamos mergulhados em um mar de desinformação, de
falsas informações (fake news).
A biografia do candidato a governar a nação é importante. Nossa escolha é entre
dois candidatos com passados bem conhecidos. Poucas coisas boas são ditas de
ambos, e uma torrente de acusações recai sobre os mesmos. O melhor é se orientar por
ideias e não por frágeis seres humanos.
Humanos, diferentemente dos animais (que vivem apenas no mundo real), vivem
no mundo real e no mundo da ficção (o mundo das histórias que inventamos). Neste
segundo mundo podemos prescindir da lógica e das evidências e criar boas ou más
histórias, que moldam as ideias e ideologias que norteiam a civilização. Criar boas
histórias é a forma da humanidade enfrentar os piores aspectos da vida, que são a
transitoriedade e a dependência de forças maiores do que nós mesmos. Projetar o futuro
(projeto de governo), criar um sentido para a vida (religião), criar regras que definem o
que devemos ou não fazer (moral: “pauta de costumes”, honestidade) e política (regimes
políticos: democracia, totalitarismo) são histórias que criamos para nos consolar e
orientar na difícil travessia da vida.
O projeto de governo é peça fundamental na avaliação de um candidato e deveria
ser explicitado e discutido nos debates. Mas os candidatos preferiram se degladiarem
em trocas de acusações pessoais a expor os programas de governo.
Deus e o diabo são frequentemente evocados no inferno da política nacional para
demonizar o adversário. A mistura de religião e política é desastrosa para a religião e para
a política. Religião não deveria ser pauta política pois a democracia garante a liberdade
de pensamento e, consequentemente, de opção religiosa. E ambos os candidatos se
declaram cristãos. É impossível saber qual Cristo escolheria; mas ele desaprova a
“evocação de seu santo nome em vão” (terceiro mandamento), com fins eleitorais.
Quanto à confusa “pauta de costumes” (igualdade de gênero, direitos LGBTI,
direitos sexuais e reprodutivos, reconhecimento da diversidade), não se trata
propriamente de costumes, mas de direitos. Não interessa costumes (hábitos individuais),
mas o reconhecimento de direitos. O governo não deve interferir em costumes, que é
definição do cidadão. Portanto não é pauta a ser levada em consideração em nossa
opção eleitoral.
A falta de honestidade, a corrupção, é uma maldição de nossa recente história
política. Ambos os candidatos, e muitos de seus colaboradores mais próximos (ou seja,
grande parte dos políticos brasileiros), são acusados de corrupção. E de mensalão a
orçamento secreto a república de coalisão se transforma em república de corrupção. Na
tempestade infernal de acusações e desinformações é difícil saber de qual lado estão os
menos corruptos.
A democracia é provavelmente a melhor das ideias construída pelo homem pois
adequa-se à nossa mente que anseia por liberdade e conhecimento. Com liberdade
podemos seguir na construção de boas ideias para desvendar o universo e tornar a vida
melhor e mais suportável em nossa difícil condição humana. Pode-se dizer que a
democracia apresenta três características fundamentais: criação e conservação de
direitos; resolução dos conflitos por meio do diálogo; e soberania popular. Ela não
garante o paraíso na terra, mas impede que o inferno totalitarista se instale. A
democracia deveria ser o parâmetro maior em nossa decisão no dia D. Mas cada
candidato se diz democrata e acusa o outro de antidemocrático. Como ambos
exerceram mandato de presidente, cabe a cada cidadão avaliar qual pautou melhor pela
democracia.
Numa democracia nos comprometemos a aceitar a opção de cada cidadão e a
respeitar a vontade da maioria. Esperamos que o escolhido no Dia D torne-se maior do
que ele próprio para ser digno deste “Florão da América, iluminado ao sol do Novo
Mundo”. Que a liberdade abra as asas sobre nós e inspire sabedoria a cada brasileiro
para a melhor decisão no Dia D.

Imagem da Galeria Colunista dr. Sebastião Gusmão
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