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Diante do excesso de agrotóxicos nas lavouras, o título é: comemos veneno ou não morra pela boca

Diante do excesso de agrotóxicos nas lavouras, o título é: comemos veneno ou não morra pela boca

Larissa publicou na Europa versão em inglês do “Atlas Geografia do Uso de Agrotóxicos no Brasil e Conexões com a União Europeia”. Depois dessa publicação, ela passou “a ser intimidada pelo trabalho”

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Direto da Redação

022-10-2022

9h:50

Alberto Sena

Larissa Mies Bombardi é o nome dela. Larissa é pesquisadora graduada, mestre e doutora em Geografia pela Universidade de São Paulo (USP) e pós-doutorado pela Universidade Federal Fluminense. Ela tem se dedicado ao estudo de agrotóxicos na agricultura brasileira nos últimos cinco anos.

Em 2019, entre os meses de abril e maio, Larissa publicou na Europa a versão em inglês do “Atlas Geografia do Uso de Agrotóxicos no Brasil e Conexões com a União Europeia”. Depois dessa publicação de suma importância, ela diz que passou “a ser intimidada pelo trabalho”.

Em consequência das “intimidações” devido às suas pesquisas envolvendo agrotóxicos, ela, mãe de dois filhos, preferiu deixar o País e assim o Brasil perdeu uma grande pesquisadora, que vinha realizando um trabalho sério, denunciando os abusos cometidos.

O Atlas editado pela pesquisadora apresenta em detalhes o uso de agrotóxicos em cada região e estado brasileiro. Publica morte por intoxicação em cada local, quais países europeus importam produtos brasileiros com agrotóxicos e expõe a presença de resíduos de agrotóxicos nos alimentos e água potável em comparação com o limite europeu.

O trabalho de Larissa me remeteu ao ano de 1978, do século passado, quando atuava como repórter do jornal Estado de Minas. Fiz uma série de reportagens com o selo “Estamos comendo veneno”, dado pelo jornalista e escritor Wander Piroli.

A série foi motivada pela vinda ao Brasil do então presidente norte-americano, Jimmy Carter, que foi recebido pelo general Ernesto Geisel, na condição de presidente da República. Antes da chegada de Carter, uma equipe de assessores veio ajeitar as coisas para ele, aqui, no Brasil.

O ex-presidente recebeu uma cartilha contendo o que ele devia ou não comer, chamando a atenção para o uso excessivo de agrotóxicos nos alimentos produzidos no País.

Na ocasião, fiz uma lista de legumes e verduras e por conta do jornal, fui à feira no Mercado Central. Levei tudo para o laboratório de Jorge Barquette, que constatou resíduos de agrotóxico em quase todos, sendo que o mais envenenado era a couve-flor.

Na quarta reportagem da série, a direção do jornal mandou encerrar a publicação.

Em 1980, no Jornal de Shopping, publicação também dos Diários e Emissoras Associados, tendo à frente o jornalista e escritor Wander Piroli, ele sugeriu retomar a série “Estamos comendo veneno”, mas com outra nomenclatura, “Não morra pela boca”.

Como da primeira vez, na quarta reportagem da série “Não morra pela boca”, a direção do jornal Estado de Minas mandou parar a publicação.

De 1978 até os dias de hoje se passaram 44 anos e continuamos “comendo veneno” ou morrendo “pela boca”, porque a quantidade de agrotóxicos usada nas lavouras brasileiras, como bem constatou a pesquisadora Larissa Bombardi é de assustar e lá fora os produtos nacionais já estão sendo rejeitados.

A diferença entre as minhas reportagens e as pesquisas de Larissa é que em 1978, sob ditadura militar, não havia mesmo como pôr o assunto em discussão. As pesquisas dela podem surtir efeito, desta vez, porque a reação está vindo do exterior, de quem importa os produtos brasileiros.

Imagem da Galeria Os agricultores usam os agrotóxicos em excesso o que envenena as lavouras
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