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Vale do Jequitinhonha ainda mais empobrecido

Vale do Jequitinhonha ainda mais empobrecido

Após dois anos de pandemia, mais de 20 mil famílias do Vale do Jequitinhonha voltaram a viver uma situação de fragilidade social, sem o básico para sua alimentação diária e ainda agravada pela seca.

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SBA

05-07-2022

Apesar de uma região rica em minérios diversos, com destaque para o lítio, detendo 80% das reservas nacional, além de um povo hospitaleiro e trabalhador, de uma rica cultura no artezanato ou na música, com uma característica muito peculiar; as empresas de reflorestamento que alí se instalaram ao longo de mais de 40 anos, contribuindo para o surgimento da monocultura do eucalípto, que no passado foi muito importante, tendo gerado milhares de vagas de empregos, até chegar a um ponto de estagnação nos dias atuais, com pouquissimos postos de trabalho, aínda corroborado a isso, o advento das máquinas que desempregou mais de 90% dos trabalhadores braçais, pede socorro.

O vale do Jequitinhonha, na balança comercial de Minas Gerais, continua sendo apenas uma estatística para a grande maioria dos políticos, que somente tem valor algum na época das eleições estaduais;  a esses políticos, incluindo o próprio govenador atual, Romeu Zema, que em sua campanha passada prometeu mudar a realidade do Vale, com uma política sócio-econômica que fosse capaz de gerar emprego para aquele povo; passaram-se quase 4 anos de seu mandato e a situação social dessa gente só piorou. Não obstante a isso, o governador Zema, sabendo do potencial do médio Jequitinhonha na produção de lítio, apoía investimento para instalação de industrias para o consumo dessa matéria prima, fora do Vale.

Os políticos de Minas, em geral, não se sentem incomodados em ser votados em uma região, por anos a fio, que tem mais de 1 milhao de habitantes e por volta de 700 mil eleitores. Na balança comercial de Minas Gerais o Vale continua a configurar com apenas 1,4% de seu PIB, segundo levantamento de dados mais rescentes do IBGE em 2014. É de se estarrecer uma situação assim. Onde estão os prefeitos, os empresários da região, que não se mobilizam mais para defeder sua região? 

Agora, com o advento do Crédito Carbono, com as florestas em alta, desperta nas empresas de reflorestamento o interesse na buscar pela  certificação de suas áreas para auferirem lucro com esse ativo financeiro no mercado internacional. No entanto, está comprovado através de estudos, que as florestas de eucalipto na região comprometeu seriamente o lençol freatico, causando a sua degradação e o comprometimento da vazão de seu principal rio, o Jequitinhonha, além do agravamento da seca. Diversos mananciais hidrográficos, afluente de rios importantes do Vale como o rio Araçuaí, Fanado e o Itamarandiba, responsáveis pelo abastecimento de água para o consumo humano da grande maioria das cidades do Vale do Jequitinhonha estão comprometido se nada for feito.

Na língua Maxakali, uma das primeiras tribos que povoaram muitas partes do nordeste de Minas, Jequitinhonha é o topônimo que descreve um rio largo e cheio de peixes, muito diferente do rio de hoje, que agoniza por não existir mais os rios caldalosos de outrora, de um passado não tão distante. E é, exatamente, onde se encontra a maior parte dos reflorestamentos: Turmalina, Minas Novas, Capelinha, Itamarandiba e Veredinha, onde o impacto da seca se faz mais presente e quase constante.

Segundo publicação do "Modifica", por Juiana Afonso e Nina Rocha, no artigo: "Da Seca à Violência de Gênero: Consequências da Produção de Eucalipto no Vale do Jequitinhonha" a Aperam Bioenergia, depois de separada da Arcelor Mital tornou-se um dos braços da Aperam, que tem sede em Luxemburgo auferindo um lucro líquido de 329 milhões de euros em 2021, ou seja, 1 bilhão e 957 milhões de reais. E para incrementar ainda mais seus negócios, fomenta e apoia o modelo de negócio de crédito carbono, diga-se de passagem, justo, tratando-se de um mercado de ativos  importante para gerar dividendos através da bioeconomia, além de ajudar a natureza e ter um investimento rentável, você ainda promove impacto social com toda  a comunidade envolvida no plantio e cuidados da florestas, onde o ativo principal é a árvore, não fosse as florestas renovaveis que tem como destino final, o carvão para as industrias de aço e  papel e celulose, que tem causado efeitos danosos para as bacías hidrográficas remanecentes do Alto Jequitinhonha, que já agonizam com a pouquíssima vasão de água a cada ano.

Trata-se de um momento para uma urgente tomada de consciência, sob pena de os principais atores desse cenário, que só agrava, perder "os ovos da galinha ouro", a maior riqueza de um povo, a água. É possível a recuperação de centenas de nascentes que secaram no Alto Jequitinhonha; É só uma questão de atitude.      

 

 

 

 

Imagem da Galeria Rio Araçuai
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