
a sombra da discriminação racial ainda paira sobre os gramados. DIVULGAÇÃO: Freepik
11-03-2025 às 08h58
Raphael Silva Rodrigues*
O ano é 2025. A tecnologia avança em ritmo acelerado, a sociedade se transforma, mas alguns fantasmas do passado teimam em nos assombrar. O racismo, ferida aberta que marca a história, insiste em se manifestar nos espaços mais diversos, incluindo o esporte, supostamente um palco de união e celebração da diversidade humana. No futebol, paixão nacional em diversos países, a sombra da discriminação racial ainda paira sobre os gramados, manchando a beleza do jogo e ferindo a dignidade de atletas e torcedores.
Em 06 de março de 2025, um episódio lamentável durante uma partida da Copa Libertadores Sub-20 escancarou a triste realidade do racismo no esporte. Luighi, jovem promessa do Palmeiras (São Paulo, Brasil), viu-se alvo de ofensas racistas proferidas por torcedores do Cerro Porteño (Assunção, Paraguai), durante uma partida da competição continental. O atleta relatou ter ouvido sons de macaco vindos das arquibancadas, além de ter sido chamado por termos racistas, revivendo o trauma vivenciado por inúmeros jogadores negros ao longo da história do futebol. Triste passagem foi flagrantemente captada pelos meios televisivos e por jornalistas que acompanhavam a partida de futebol.
A atitude vil de uma minoria gerou repúdio e comoção. A Confederação Sul-Americana de Futebol (CONMEBOL) abriu investigação para apurar o ocorrido e punir os responsáveis. O Palmeiras, por sua vez, manifestou total apoio ao seu atleta, exigindo medidas enérgicas por parte das autoridades competentes. O episódio, no entanto, lançou luz sobre uma questão grave e urgente: a necessidade de combater o racismo no esporte de forma efetiva e intransigente.
As manifestações racistas no futebol, infelizmente, não se limitam a casos isolados. Atletas negros de diversas nacionalidades são frequentemente submetidos a atos discriminatórios dentro e fora dos campos. Gritos imitando macacos, lançamento de objetos, ofensas verbais e ataques nas redes sociais compõem o repertório abominável daqueles que usam o esporte para propagar o ódio e o preconceito.
Apesar dos avanços em termos de conscientização e implementação de políticas de combate à discriminação, o racismo no futebol persiste, revelando uma ferida aberta na sociedade. A persistência de comportamentos racistas nos estádios e fora deles demonstra que a luta contra esse mal está longe de ser vencida. É preciso ir além de medidas punitivas, por mais importantes que sejam.
A educação desponta como pilar fundamental na construção de um futuro sem racismo. É preciso investir em campanhas educativas de longo prazo, desde as categorias de base do esporte até os níveis profissionais, sensibilizando atletas, treinadores, dirigentes, torcedores e toda a cadeia envolvida no meio esportivo.
A mídia também possui papel crucial nessa luta, ao dar visibilidade aos casos de racismo, estimular o debate e promover a cultura da igualdade e do respeito às diferenças. As redes sociais, por sua vez, devem ser utilizadas como ferramentas de conscientização e combate ao discurso de ódio, com a identificação e punição exemplar dos infratores.
É fundamental que clubes, federações, confederações e entidades esportivas atuem de forma conjunta, adotando uma postura firme e coesa contra qualquer manifestação racista. A punição exemplar aos infratores, com multas pesadas, perda de mandos de campo, exclusão de competições e banimento de estádios, é essencial para inibir novas práticas discriminatórias.
O combate ao racismo no esporte, no entanto, transcende as fronteiras do campo e da quadra. É uma luta de toda a sociedade. Enquanto o preconceito racial encontrar espaço em outras esferas da vida social, como educação, saúde, segurança e mercado de trabalho, será impossível erradicá-lo por completo do esporte. Seria uma utopia da igualdade racial e/ou democrática?
O caso de Luighi, vítima da barbárie do racismo, deve servir como um alerta para que a sociedade como um todo reflita sobre suas próprias contradições e assuma o compromisso de construir um futuro mais justo e igualitário para todos. A luta contra o racismo é uma maratona que exige persistência, conscientização e ação conjunta. Somente assim poderemos criar um mundo onde a cor da pele não seja mais motivo de discriminação, mas sim de celebração da diversidade humana.
*Raphael Silva Rodrigues é doutor e mestre em Direito (UFMG),
é especialista em Direito Tributário e Financeiro (PUC/MG). Professor do PPGA/Unihorizontes. Professor de cursos de Graduação e de Especialização (Unihorizontes e PUC/MG). Advogado e Consultor tributário.