Pisos táteis não agradam deficientes visuais em BH
É que muitos deles, ao invés de facilitar os deslocamentos complicam porque podem direcioná-los numa árvore ou numa parede, porque os pisos são feitos de qualquer jeito
12-08-2024 às 09h:35
Direto da Redação
Damos início a este texto com uma pergunta dirigida ao leitor do Diário de Minas: você já viu, aqui, em Belo Horizonte, algum deficiente visual usar a faixa vermelha construída nas calçadas? Chamadas de pisos táteis?
Nós nunca vimos um deficiente visual trilhar aquelas faixas que os moradores têm de plantar nas calçadas e muitos o fazem de qualquer jeito, daí a ineficiência delas.
Levantamos essa questão porque já conversamos com várias pessoas perguntando se já um dia viram um deficiente visual usar a faixa e não encontramos nenhuma que desse uma resposta positiva.
Se alguém já viu, pode ter sido um ou outro, e, no entanto, as faixas foram impositivas e muitos tiveram de adequar e muitos ainda não se adequaram.
Fazemos questão de afirmar que não somos contra as faixas e não somos contra a coisa alguma que possa facilitar a vida dos deficientes visuais. Mas vimos observando essa questão faz tempo e notamos a ineficácia delas.
Estivemos em conversa com Evandro, um deficiente visual de nascença, ali nas imediações da antiga Fafich – Faculdade de Filosofia, hoje uma escola municipal –, na Rua Carangola, e ele entre outras coisas, ele disse que não usa as faixas.
Perguntamos por quê?
E ele me disse que acabam sendo um risco para as pessoas com a mesma dificuldade porque muitas das faixas levam a trombar com uma árvore ou com ponto de ônibus, quando não estão danificadas.
Então, ele explicou preferir contar com o auxílio de alguém que se disponha a acompanhá-lo até o ponto de ônibus. Ele esperava o 9103, com destino ao Bairro Santa Tereza.
Essas faixas são chamadas de “pisos táteis de Miyake”, porque foram inventadas por ele, Seiichi Miyake, japonês, para ajudar seu amigo que tinha dificuldades de locomoção devido à sua deficiência visual.
Dois anos depois da invenção, foi instalado próximo de uma escola para cegos, em Okayama, no Japão. Essas faixas são em alto-relevo fixadas na calçada ou passeio. Quando instaladas de forma correta, ajudam a locomoção pessoal de deficientes visuais.
As observações feitas no dia a dia comprovam que os pisos táteis podem ter dado certo lá no Japão, cultura totalmente diferente. Aqui, em Belo Horizonte, infelizmente, não foram instalados “de forma correta”, como salientou o inventor.
Mas isso não quer dizer que estamos sugerindo a retirada delas das calçadas. Talvez seja o caso de a Prefeitura de Belo Horizonte fazer uma campanha sobre a utilidade dos pisos e a instalação deles seja encarada com mais seriedade e não feita de qualquer jeito. Diversos são os benefícios da invenção japonesa e a principal delas é orientar com segurança o deslocamento do deficiente visual.