
Fechamento da fábrica de cimento Itaú do grupo Votorantim pelo então prefeito de Contagem Newton e Cardoso no governo Geisel e anos depois implodida.
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07-02-2025 às 09h29
Tito Guimarães Filho*
Um baiano, estrangeiro e imigrante conquistou as almas, os corações e as mentes dos mineiros. Defendeu, como pioneiro da luta ecológica quando sequer esta batalha tinha nome e um conceito. Começa com a resistência contra a degradação industrial do meio ambiente.
Toneladas de cimento eram jogadas, todas as noites, contra as milhares de casa do bairro Eldorado. O pó de cimento mudava as cores dos telhados, compondo com o chão uma falsa imagem de pureza.
Com a coragem de sua luta, ele fechou a indústria Itaú, do grupo paulista Votorantim. Opositor da ditadura, sua ação salvou Cubatão, que na selva da poluição paulista, matava seus cidadãos com gases mortíferos e era símbolo da maior poluição brasileira.
Geisel, general e presidente, o último dos tenentes de 30 com politicidade bastante para entender o jovem prefeito. O general fez questão de conhecer pessoalmente o jovem admnistrador.
Dava razão àquela luta solitária e já preparara um arcabouço legal para conter a voracidade de industriais insensatos.
O gesto de solidariedade do general e presidente era também de simpatia e de aprovação àquele pequeno gigante à frente de uma cidade de operários e da rica cidade. Vindo a Minas convidou Newton Cardoso para um encontro no Palácio da Liberdade.
Gesto enriquecido pela atitude corajosa do pequeno grande prefeito, seu opositor, que na porta do Palácio da Liberdade se recusou a ser conduzido “pelos fundos”.
Gesto também enriquecido pela decisão do presidente:
– Conduzam este grande prefeito pela porta da frente do Palácio que é da Liberdade.
Geisel manteve fechada a indústria poluidora, responsável por toneladas de pó de cimento, lançadas à noite sobre o Grande Eldorado, em Contagem.
Para fazer valer a decisão de fechar a Itaú, o prefeito contou com o apoio do governador Aureliano Chaves, que mobilizou a Polícia Militar do Estado de Minas Gerais.
Governador feito governador pela ditadura, Aureliano Chaves teve a ousadia e a coragem de assumir a defesa do pequeno e já grande homem público que se fizera pelo voto dos seus operários e que, na sequência eleitoral, registrou uma vitória com mais de 92% dos votos de seus cidadãos.
Mais uma vez prefeito. Não era mais um líder da oposição isolado em uma cidade operária e industrial.
Nascia uma liderança que no dizer do governador de Pernambuco Miguel Arraes “rasgou os punhos de seda da política mineira”.
Ações radicais na urbanização, de que o Eldorado era a vitrine, multiplicou o número de bairros com a entrega de lotes àqueles que não tinham casa.
Com ideias arrojadas como o Nova Contagem, bairro síntese de cidade, idealizada pelo pequeno já grande homem público e projetada pelo arquiteto Gustavo Pena.
Nova Contagem integrou moradia, lazer, escolas e fábricas comunitárias a partir do trabalho coletivo e solidário na construção das residências. Todos participaram daquela conquista e do acabamento de suas casas, com novas portas, novas janelas. Jardins e hortas caseiras e comunitária.
Ao, então, pequeno homem público não faltou coragem cívica e física para enfrentar os gigantes que enfrentou e que construiu com os poderosos relações de respeito político e de admiração.
Deu uma aula de política nesse episódio mostrando a lucidez política de escolher aliados e adversários em torno desta causa, o que foi determinante na sua trajetória triunfante.
Saiu da sua pequena Contagem um gigante para a política mineira para ser governador do Estado de Minas Gerais, então, síntese política do Brasil.
(*) Tito Guimarães Filho é diretor de Redação do DMdigital