Hoje, a cadeira de balanço se encontra no espaço que habito e trabalho. Em alguns momentos abraça os visitantes que chegam ou participam dos eventos no espaço.
16-11-2024 às 08h38
Cléo Zocrato*
Quanto bem estar este sorriso já proporcionou? Muitos, por isso chegou o momento de trazê-lo de volta.
– Saí do “porão para vitrine”.
Dizia minha amiga Ângela quando deixei o meu ateliê que fica no porão de minha casa e abri a loja no Edifício Maletta.
Estive lá por maravilhosos 14 anos. Acompanhada por uma cadeira de balanço em uma charmosa e aconchegante “salinha de visita” que dentro da loja se tornou o local de acolhimento que mais lembrava uma casa de vó. Ali, eu e esta cadeira realizamos prazerosas tarefas.
Hoje a cadeira de balanço se encontra no espaço que habito e trabalho. Em alguns momentos abraça os visitantes que chegam ou participam dos eventos no espaço.
Já o sorriso; bem, este precisa ser trazido de volta, afim de caminhar pela vida e cumprir as tarefas a ele confiadas.
Após o “luto”, pelo fechamento da loja, sinto que é hora de deixar o sorriso novamente e sair por aí, em tarefa de afeto.
Certa vez um mendigo me abordou, sentado em uma calçada, pouco transitada. Lá estava ele.
Eu passava com um vestido florido, com cores que inspiravam alegria. Logo fui notada por ele. Em sua solidão, sentiu que para além de umas moedas, algo mais poderia acontecer.
Elogiou meu vestido e disse que daria lindas fotos, perguntou-me se poderia me fotografar. Surpresa, olhei para ele, que já se posicionava com uma câmara imaginária nas mãos.
Eu disse calma aí, preciso fazer poses.
Então, iniciamos a “sessão de fotos”. Eu sorria e segurava o vestido em várias posições. Aguardava o clique e flash com um largo sorriso.
Ele sorria e dizia:
– Estão ficando ótimas, mais uma, mais uma…
Assim, brincamos por um tempinho. Agradeci e segui meu caminho.
Ele aplaudiu e ficou sorrindo.
Durante a sessão de fotos, uma senhora que passava nos olhou horrorizada com um ar de reprovação, ou seria admiração?
Devia ter pensado: Dois malucos se encontraram.
Foi uma cena linda, registrada em nossos corações e no álbum secreto de nossas memórias.
A cadeira não pode ser levada.
Por onde eu for, levarei meu sorriso.
(*) Cléo Zocrato é artista plástica, Reikiana, Gineterapeuta, condutora de Círculos Femininos